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Projeto 7 Cumes - Gustavo Ziller |
PROJETO INICIADO EM 2015 |
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Gustavo Ziller no cume do Aconcágua (6.962 m). Foto: Gabriel Tarso. |
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24.04.2015 - 15:15
Aconcágua, a conquista
Amanhã, 25/04, vai ao ar às 23h no Canal Off o ultimo episódio do Aconcágua. Essa é a primeira montanha do programa 7CUMES, projeto desenvolvido em parceria com o Off que conta a história de uma pessoa comum, como você ou eu, na busca pelo extraordinário através do montanhismo. Abaixo os dias derradeiros da Expedição, um aperitivo do EP03, a conquista.
13 de fevereiro
Dia do terror. Dos 11 integrantes da Expedição incluindo 3 guias de Montanha, 9 estão com diarréia brava. Escapamos eu, Max e Jan. Propoterapia? Cúrcuma? Sorte?
Recebemos um rádio dizendo que o Campo Base estava doente e que a diarréia iria 'subir a montanha'. Foi um dia tenso, de acompanhamento médico e descanso. Fizemos três check-ups: manhã, tarde e noite. Gabriel continuava sofrendo com dores de cabeça e agora diarréia.
Ficar parado em Nido para aclimatação, e nesse estado, gerou uma ansiedade coletiva. E amanhã é dia de subir pro Campo 3 a 6000m. Tenso.
Eu acordei bem, mesmo depois de outra noite miserável com taquicardia e apneia. No meio da tarde resolvi caminhar pra liberar a tensão, bem devagar, ao redor de Nido. Mas estava frio e ventando muito, combinação pra derrubar qualquer um. Voltei pra barraca e lá fiquei.
Sentia muito frio mesmo no efeito estufa da barraca debaixo do sol da tarde. Pensei que fosse febre, medimos e a temperatura estava ok.
Espero que essa noite seja menos cruel com nossa Expedição. Merecemos um empurrão montanha acima.
14 de fevereiro
Nosso acampamento amanheceu derrotado depois de um dia complicado como o de ontem. Mas começamos a conversa matinal e logo percebemos que muita gente tinha dormido bem.
Maximo passou por nossa barraca e fez o check-up de oxigenação e batimentos. O meu permaneceu estável em 76/91. A preocupação era nítida em relação a outros três integrantes da Expedição.
Depois disso tomamos café da manhã e desmontamos acampamento em Nido de Condores. Por volta do meio dia já estávamos na íngrime subida ao acampamento 3, Cólera, o mais avançado e último pré-cume. Fiquei curioso com o nome, mas evitei perguntar o significado depois de tanta notícia tensa nos últimos dias.
Essa subida exigiu bastante, sem precedentes. Chegar a Cólera foi uma baita vitória e tudo indica que tentaremos o ataque ao cume amanhã mesmo, dia 15 de fevereiro. Durante a subida senti bastante a puxada de ar e posso dizer que lá em cima não será diferente, o corpo pesa. Nunca tinha sentido isso na vida.
Chegamos a Cólera por volta de 5h30pm e ficamos num refúgio construído pelo Resgate do parque, enquanto os carregadores e guias montavam o acampamento. Dois graus negativos no sol. Ventos de 40km/h. Já vi o que nos espera na madrugada caso tenhamos a janela para atacar o cume.
Outro check-up na chegada e minha oxigenação bateu 83 com batimento em 91. Não entendi e certamente mais tarde, em repouso, isso deve baixar muito já que estamos a 6000 metros de altitude.
15 de fevereiro
Cume. Extraordinário. Mais detalhes no último episódio do Aconcágua na série 7CUMES. Cola no Canal Off nesse sábado, 25/04, às 23h.
16 de fevereiro
Descendo morro. Quase 40km de distância entre Mulas e a entrada do Parque Nacional do Aconcagua, exaustão suprema. Os pés rasgavam de dor e os joelhos ardiam. Nunca senti ‘ardência’ nos joelhos. Quando você pensa que terminou toma um trekking intenso na cabeça. Foram 9hs andando de Plaza de Mulas até onde tudo começou com uma pequena pausa de 30 minutos em Confluencia para tomar os sucos em pó diluídos na água da montanha.
No meio do caminho tem uma pedra enorme e solitária que separa a subida de Cuesta Brava com o início/final de Playa Ancha. Esse ponto é estratégico para o almoço (sanduíches de pão de forma integral com queijo e presunto que cada expedicionário prepara na tenda antes de sair pra longas horas de trekking), e lá paramos.
Cruzamos com a Expedição de um guia dinamarquês chamado Jacob, uma figuraça, amigo das antigas do Maximo. Ali uma moça (46 anos) estava passando mal, batimento a 200, correria pra todo lado. Lili, brasileira da nossa equipe, é médica e foi dar uma força. Deitaram a dinamarquesa num colchão inflável, deram um líquido rico em minerais, fizeram exercício de respiração e discutiam no rádio. Não tinha helicóptero disponível. Clima tenso. Foi quando a primeira mula apareceu e Jorge, nosso guia, teve a ideia de parar o comboio para forçar o arrieiro a descer. Não deu outra, por último vinham dois arrieiros. Pararam. Ouviram Jorge e prepararam uma mula para levar a dinamarquesa. Mas ela estava muito fraca, assim sendo Jacob pediu para seu guia assistente amarrar a moça contra o próprio corpo e seguiram os dois de mula para entrada do Parque onde teria uma ambulância a espera.
Eu estava impressionado com o tanto de gente que passa mal, as vezes mal definitivo, por ali. Ficava pensando, não é possível que veremos mais uma alma ir embora. As cenas da entrada do Parque e da Polícia da Montanha descendo o corpo do polonês na Canaleta batiam forte na minha cabeça. Estava cansado, impressionado. Queria sair dali. Queria minha casa.
Voltamos a caminhar e dessa vez me concentrei no ritmo para não comprometer mais nada do corpo: pés, joelhos, mente e respiração, todos juntos.
Chegamos na entrada do Parque Nacional do Aconcagua quase 9h00pm. Entramos no micro ônibus e descemos direto pra Penitentes, no hotel do camarada inglês que serve de logística para Expedições ao Aconcágua.
17 de fevereiro
Conferimos todos os equipamentos e mochilas despachadas pelo serviço de mulas. Logística do Aconcagua é bem roots, porém profissional e funcional. Durante o processo Maximo tirou da cartola uma surpresa, não dormiríamos em Penitentes, mas em Mendoza. E no meio do caminho teríamos um banquete.
Saímos de Penitentes por volta de 11pm do dia 16, mesmo dia do trekking final. Chegamos ao restaurante Don Elias, uma parrila tradicionalíssima localizada entre Penitentes e Mendoza. Decoração em madeira, uma árvore imponente e intocável no meio do salão, garçons old school (aqueles mais velhos com gravatinha e botinas de arrieiro), enfim, pura poesia argentina.
Pedimos o prato da casa, ojo de bife com papas fritas, salada de tomates pra acompanhar e cerveja Andes geladíssima. Ainda não sentia meus pés, pouca sensibilidade, e beber um gole daquela cerveja no estado em que meu corpo se encontrava foi uma experiência única, sem forçar a barra. De verdade.
Agora, quando os pratos começaram a pipocar na mesa nego surtou. Cada bife do tamanho do meu antebraço, Fred Flintstone total, uma lapa enorme de carne. As papas estavam perfeitas, gordurinha marota e crocante na medida certa.
Já era madrugada do dia 17 quando Jan começou a contar casos de montanha. Ela tinha bebido uma garrafa de vinho branco sozinha, estava bebinha. Depois de um tempo começou a agradecer cada guia com algumas palavras, primeiro Edu e sua dedicação, depois Facundo e então chegou a vez de Jorge. Bom, você sabe que o 'j' no espanhol tem som de 'r' e quando próximo de um 'r' a coisa fica feia pro nativo inglês. E Jan começou: gostaria de dizer que o Rorrrrrrrrrrrrrrrrrrrrgggggggrrrrrrrrrrrrrggggggge foi muito importante no processo. Pronto, quase enfartei e meus amigos de Expedição também.
Dali em diante Jorge se tornou Rorrrrrrrrrrrrrrrrrrrrgggggggrrrrrrrrrrrrrggggggge. Bebemos, comemos, rimos, choramos, contamos casos de nossas vidas, falei dos meus filhos, da Pati. Jan ria. Ivy também. Cedric falava da vida na Britânia, da namorada. E Maximo contava histórias espetaculares dos Himalaias, Paquistão, Índia, de Dan, proprietário da Summit Climb, umas das mais antigas empresas de expedições do mundo, muito presente nos Himalaias. Jan conquistou o Everest com a equipe de Dan. Max contou a história de Miss Holly, do documentário sobre essa senhora, seu possível envolvimento com Edmund Hillary. Histórias da montanha.
Amigos, que noite, que bebedeira, que monte de ‘causos’ de vida extraordinária.
Éramos uma família.
18, 19 e 20 de fevereiro
Fim da expedição em Mendoza. Chegamos de madrugada do Don Elias. Banho quente, cama ótima. Mochilas com 10kg de areia e pedra, muito Lisoform para garantir o mínimo de decência no embarque de volta pra casa.
Nos dias seguintes vamos com muito vinho, sorvete e preparativos para o próximo programa. Muito aprendizado, alguns erros e mais acertos. Maximo agora é parte fixa da equipe 7CUMES.
A partir de hoje somos três: Gabriel, o guerreiro. Max, o desbravador. Gustavo, o aprendiz.
Espero que tenha sido uma história transformadora pra você como foi pra mim.
Um abraço e até o Kilimanjaro |
16.04.2015 - 07:40
Mais casos do Aconcágua
No próximo sábado, 18/04, vai ao ar às 23h no Canal Off o episódio 02 do Aconcágua. E para aquecer esse capítulo da jornada, mais histórias da montanha mais alta das Américas.
9 de fevereiro
Início da aclimatação acima de 5000m com uma subida forte para Plaza Canadá, o Campo 1 do Aconcagua. Para entender a sequência dos campos: Confluencia (3400) e Plaza de Mulas (4300), ambos com estrutura de suporte e logística. Depois temos Canadá (cerca de 5000), Nido de Condores (5600) e Cólera (5950), esses três sem estrutura de suporte, aqui é por nossa conta e risco.
Fizemos um trekking de 5 horas para deixar parte do material que vamos utilizar no dia do ataque ao cume em Canadá, foi o mais duro até agora, ascensão de 750m sinistra. Pra completar o tempo mudou radicalmente e começou a nevar. Pequenos flocos de neve que lembravam bolinhas de isopor, mas na velocidade que o vento estava batia forte no rosto e machucava demais. Tem que respeitar cada etapa da Expedição.
Antes do tempo piorar conseguimos fazer uma imagem de drone inacreditável. As imagens estão espetaculares, muito material inédito e lindo. Na descida eu, Gabriel e Max nos descolamos do time pra continuar a filmar. A partir daí a neve castigou ainda mais, só que nos presenteou com uma das mais belas paisagens até agora.
Cheguei a Plaza de Mulas exausto. Com uma sensação estranha na altura do diafragma, mistura de náusea com cansaço. Bebi bastante água e fiquei quieto. Amanhã é outro dia de descanso antes da subida definitiva pros acampamentos altos, de lá só descemos se conquistarmos o cume ou se passarmos mal.
10 de fevereiro
Hoje o dia foi surpreendente, desses que você não imagina nem se escrevesse o roteiro. Começou tranquilo, sem pressa, com uma pequena ida ao banheiro do campo base às 4 da matina, num frio sem noção. Acabei dormindo por lá e fui acordado por um polonês batendo na porta. Literalmente dormi na privada.
Começou a nevar novamente e desde ontem nossa respiração condensa no ar. Frio está intenso aqui em Mulas, imagino lá em cima.
Combinamos com o Quintela da Celula uma ligação de telefone satelital para minha família. Gabriel filmaria daqui e uma equipe da minha casa em BH. Marcamos às 20h do Brasil. Liguei, Jojo antedeu, falamos um pouco, ela colocou no viva voz e comecei a falar com os três, mas aí veio a surpresa. Minha avó Nina pegou o telefone e começou a falar comigo. Olha, no dia que embarquei para Argentina fui visitar minha vozinha no hospital, havia sido internada tinha uns dias, já tem quase 90 anos. Contei do projeto 7 Cumes e que ela tinha de voltar pra casa para ver os episódios na televisão. Bom, de BH ela disse: “meu filho, voltei pra casa pra te ver”. Não precisa dizer que fiquei muito emocionado. Depois falei com a minha mãe, sobrinhos e meus filhos novamente. Obrigado Patrícia, você brilhou como sempre.
No fim da tarde um momento de tensão. Fomos ao posto médico pegar um depoimento da Dra. Veronika, que fica toda temporada de verão na montanha, cerca de quatro meses por ano. Chegando lá tinham dois brasileiros na porta conversando e apontando pro heliporto. Puxei papo e eles disseram que um amigo estava no posto médico porque chegou ao Campo Base passando muito mal. Maximo é amigo pessoal da médica e entrou pra auxiliar. Saiu com a notícia ruim de que o cara estava com edema pulmonar agudo, saturação em 34%. Na hora tomou dexa na veia e ficou no oxigênio. O brasileiro, natural de Goiânia, começou a passar mal em Confluencia e chegou a Plaza de Mulas naquele estado. O trekking dessa parte é fortíssimo, não sei como ele conseguiu com oxigênio saturando naquele nível. Chamaram o helicóptero, mas com ventos fortes não tinha como decolar. O rapaz passará a noite em Plaza e certamente a Dra. Veronika não dormirá essa noite.
Bom, talvez nem eu durma depois disso.
11 de fevereiro
Dia da partida pra cima. Acordamos tarde, por volta de 8:30am. Café às 9h00 e depois foi função atrás de função pra deixar tudo pronto pra subir o morro. Vamos pro acampamento 1.
Pela manhã o helicóptero resgatou o brasileiro com edema pulmonar e desceu pra entrada do Parque do Aconcagua, de lá uma ambulância o aguardava para seguir direto pro hospital.
Notícias aleatórias do dia: um helicóptero do Exército Argentino fazia manobras de reconhecimento no parque, passou pelo Campo Base algumas vezes fazendo um barulho danado. Soubemos no meio da tarde que esse helicóptero caiu em Plaza Argentina, não matou ninguém, mas ventania aqui está muito radical.
Na subida pra Plaza Canadá começou a nevar de novo, vento frio de cortar a pele. Prefiro nem pensar como serão os próximos dias. Eu e Gabriel ficamos pra trás e o grupo seguiu subindo. Nossa ideia era fazer uns takes da subida, em umas partes mais sinistras, do tipo ‘se escorrega já era’.
Chegamos à Plaza Canadá por volta de 5:00pm pra finalizar a montagem das barracas. Como já escrevi anteriormente, a partir de agora é tudo no nosso CPF. Comida, água, montagem e desmontagem das barracas, tudo se move com a ajuda de todos.
Tempestade de neve deixando o lugar todo branco. Logo depois o sol saiu e deixou um visual de outro planeta. Literalmente. Agora é descansar e manter o corpo aquecido.
Update 1: a Expedição do brasileiro com edema pulmonar continuou montanha acima e acabamos de saber que mais quatro desistiram. Tem que respeitar a montanha, isso é lei no Montanhismo. Já aprendi que não pode queimar etapa, não pode apressar nada, não pode desrespeitar o tempo. Tudo é lento, e quando você não ‘entra’ na montanha, ela te expulsa.
Update 2: acabamos de receber pelo rádio a notícia de que um homem da Expedição Polonesa faleceu no cume, ataque cardíaco. Tenso. E provavelmente vamos passar pelo resgate do corpo.
12 de fevereiro
Antes de falar sobre hoje quero contar sobre a noite miserável que tive. Primeiro pelo frio desumano, algo em torno de 17 negativos dentro da barraca. Segundo porque fiquei com vontade de fazer xixi, mas não conseguia sair do lugar. Isso matou a sequência do sono - que por aqui já não passa de 4 horas dia.
Começo a sacar que Montanhismo é um esporte de privação. Quando você está na Montanha você se alimenta mal, dorme mal, usa latrinas ou cava buracos, fica sempre exposto a limites físicos e mentais. Esse quadro é o que leva ao mal da montanha ou a febre do cume.
Bom, falando de hoje.
Subimos 5 horas de Canadá ao Campo 2, Nido de Condores (5600m). Devagar e devagar e devagar. Saímos logo depois do café, por volta das 11am. Fizemos uma imagem de drone no vale de Nido que ficou magnífica já que de Nido o cume do Aconcágua é imponente, logo ali, se projetando no vale.
Amanhã é dia livre pra aclimatação já que rompemos os 5500m, considerado crucial para sobrevivência humana em altitude.
Quadro de saúde: temos duas pessoas com mal da montanha leve, entre elas o Gabriel. Estão medicados e na 'proteção' intensa do Max. Do meu lado não tive dor de cabeça, continuo sem náusea e intestino ok nos 5600m de Nido. Tenho dores musculares, minha língua esta detonada, boca muito rasgada e comecei a sentir as bolhas dos pés.
Medição: 71 oxigênio e 94 batimentos. Pressão arterial 13/8. |
14.04.2015 - 11:12
Reprises do programa
Confira os horários dos reprises do programa 7 Cumes no Canal OFF.
• 15 de abril - 02h30
• 15 de abril - 14h30
• 16 de abril - 08h00
• 17 de abril - 20h00
• 18 de abril - 04h30
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06.04.2015 - 12:56
Curtas sobre o Aconcágua
O 7 Cumes estreia nesse sábado, dia 11, às 23h no Canal Off. Vou publicar trechos do diário de bordo com exclusividade no Extremos, na medida em que os episódios sobre a montanha mais alta das Américas se desdobrem na TV.
O episódio 01 mostra muito da minha vida antes da partida, um pouco dos treinamentos e preparação. Nesse ponto importante mencionar que tenho uma filha praticante de escalada esportiva. Ela tem 11 anos. Outro dia me perguntaram se deixaria ela partir para alta montanha depois do que vivi no Aconcágua. Minha resposta foi direta: ‘ninguém tem o direito de privar uma pessoa de uma experiência extraordinária’. É verdade que ficaria sem dormir enquanto ela estivesse por lá, escalada alpina não é trivial.
Bom, abaixo alguns trechos do diário que compreendem o primeiro ao quarto dia de Expedição. Foram 20 dias de viagem, sendo 14 na montanha e outros 6 entre voos, Mendoza e Penitentes.
5 de fevereiro
De Penitentes a Confluencia passando por Horcones. Antes paramos pra visitar o Cemitério Andinista. É nesse cemitério que ficam as homenagens aos montanhistas mortos no Aconcagua, incluindo a do brasileiro Mozart Catão.
Na entrada de Horcones uma cena que mexeu com toda a equipe. De longe vimos o helicóptero de resgate pousando ao lado de uma ambulância e logo veio a notícia que era a retirada do corpo de um escocês que havia morrido na montanha há dois dias. Aquela cena foi foda. Tensão tomou conta e o Máximo, nosso líder, tratou de injetar uma dose de ânimo na equipe. Disse que a tragédia, a primeira morte nessa temporada, foi por negligência. A pessoa subiu sozinha sem nenhum suporte e não reconheceu os limites do corpo.
6 de fevereiro Primeiro trekking de aclimatação. Acordamos às 5:30am para preparar a mochila de ataque. Como a equipe tem 11 pessoas, quanto mais cedo menor o drama. O café foi às 6:30am e saímos para trilha às 8am.
O exercício foi andar até o Mirante da Face Sul a 4100m e voltar para dormir em Confluencia a 3400m. Foram sete horas de trekking com pequenas pausas para hidratação. O caminho é no meio do vale do Aconcagua passando por glaciares e formações rochosas impressionantes.
7 de fevereiro
Hoje foi o dia de finalizar a primeira etapa de aclimatação e da escalada que é chegar ao Campo Base do Aconcagua, Plaza de Mulas. Começamos cedo, 6:30am já estava de pé tomando café, depois fechamos os equipamentos de filmagem, checamos nossa mochila e 8:30am estávamos a caminho. O grupo foi dividido em três e como vem acontecendo Maximo ficou comigo e Gabriel. No início paramos bastante para produzir as imagens de drone do Vale Horcones e de Playa Ancha.
O trekking foi fortíssimo. Foi dos mais fortes que já fiz em toda vida, seja treinando, no Nepal ou Peru ou quando servi Exército. No fim foram 10hs andando entre locais mais planos, subidas mais tranquilas e outras vezes morros em zigue-zague que não acabavam mais como Cuesta Brava. Não tive dores de cabeça, mas as pernas estavam judiadas. Teve um momento que a meia do meu pé direito começou a deslizar de forma estranha e comecei a sentir uma pequena bolha nascer em um dos dedos. Posso dizer que a chegada em Plaza de Mulas foi das vistas mais incríveis de todas até agora, com o Aconcagua e sua face oeste e diversas outras montanhas que formam a cadeia com suas cores e formas geológicas diferentes.
Em Plaza de Mulas tem banho quente a 10 dólares. Roi (israelense) e Gary (americano que participou de duas temporadas do Amazing Race) tinham comprado 30 minutos de chuveiro e estava sobrando 10. Amigo, foi o banho mais espetacular que tive em qualquer montanha que já explorei até então.
Jantamos.
O sol caiu e trouxe um frio de trincar os ossos. PQP pros -3° do início da noite. Vamos ver se aclimato bem ou se a madrugada vai impor uma tensão extra.
Já comecei a perder noção do tempo. E se não fosse por esse pequeno diário não saberia mais o dia ou hora. Aqui só penso no próximo objetivo e em não passar mal.
8 de fevereiro
Noite anterior terrível. Taquicardia brava por quase duas horas, sem dor de cabeça, mas corpo estranho. Fiquei tenso pensando se seria o fim da Expedição. Muito inquieto, o coração estava em polvorosa. Consegui controlar o batimento e tive um pouco de paz pra dormir, mas aí veio a vontade de fazer xixi e no frio que estava fazendo nem tentei sair da barraca. Então fiquei esperando esquentar um pouco pra sair. Porcaria de noite em resumo.
Dia livre para aclimatação em 4300m na Plaza. Consegui acesso à internet, mas antes tivemos uma visita ao centro médico. Pulmões ok, oxigenação ok a 87, mas pressão um pouco alta com 15/9. A médica indicou hidratação extrema hoje e nada de exercícios. Mas estou apto a seguir adiante.
~ Stay tuned! ~
Gustavo Ziller
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02.04.2015 - 11:00
Teaser
Com exclusividade no Extremos o primeiro teaser do programa 7 Cumes de Gustavo Ziller. A estreia oficial do programa é dia 11 de abril às 23h no Canal OFF. Dia 8 de abril às 19h acontecerá a premiere para conviados em BH, no bar CCCP. |
31.03.2015 - 16:10
Convite
A estreia oficial do programa é dia 11 de abril às 23h no Canal OFF. Dia 8 de abril às 19h acontecerá a premiere para conviados em BH, no bar CCCP.
~ we all like a bit of the good life ~
Gustavo Ziller
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Dia 8 de abril é premiere para conviados em BH, no bar CCCP. |
18.03.2015 - 10:54 - atualizado às 13:10
OK, mas qual o risco do esporte?
Essa foi a pergunta que mais ouvi depois que tornei público o projeto 7 Cumes. “Putz, legal demais, mas você corre risco?” ou “muito bacana, mas não é perigoso demais?”.
Eu devorei uma infinidade de livros, artigos, textos e relatos a respeito do Montanhismo. Mal da montanha, edema pulmonar, HACE, assuntos discutidos com médicos, alpinistas e estudiosos do tema. Fui lá me educar, não para responder a pergunta acima, mas, no início, para me acalmar. Tinha certeza de que quanto mais eu entendesse onde estaria me metendo menor seria o risco. Pra mim é relação matemática simples.
Obviamente não funcionou para conter a ansiedade e medo, mas aprendi muita coisa e uma delas é que o Montanhismo é um dos esportes mais matemáticos que existe. E a viagem ao Aconcágua confirmou uma teoria que tenho, e que explico a seguir.
Para mim há quatro tipos de pessoas de montanha: O Explorador, o Profissional, o Aprendiz e o Turista. E o risco do esporte está diretamente relacionado a cada um.
O Explorador. Esse é o Reinhold Messner, Edmund Hillary, Simone Moro, o Krzysztof Wielicki, a Gerlinde Kaltenbrunner, o Kilian Jornet e muitos outros. Para eles, o risco existe. É alto? Sim. Por quê? Simples, o limite é o objetivo. Ou melhor, ultrapassar o limite. Na maioria das vezes eles são praticamente autônomos na montanha. Eles são as pessoas que evoluem o esporte, levam tudo ao extremo, de equipamentos a novas rotas passando por locais nunca antes escalados. Eles são os que escrevem a História, que batem os recordes e estabelecem outros tantos. Essa turma vive entre a vida e a morte, de verdade. Essa turma tem profundo conhecimento das diversas disciplinas que envolvem o esporte, principalmente o fator psicológico.
O Profissional. Dan Mazur, Carlos Santalena, Scott Fischer e diversos outros nomes do esporte. Na nossa Expedição ao Aconcágua esse tipo era o Maximo Kausch. Para eles, o risco existe. Também é alto! Mas de certa forma é controlado. Eles são guias experientes de alta montanha e já estiveram nelas diversas vezes e conhecem os seus riscos e assim tentam minimizá-los para levar o Aprendiz a realizar o seu sonho.
O Aprendiz. Esse sou eu e diversos outros montanhistas que fazem parte da estatística positiva de cume e volta pra casa. Essa turma se educa, lê, conversa e troca experiências com quem já esteve lá. Treina muito. Muitas vezes tem equipe de suporte, como a minha, que possui nove pessoas entre médicos, treinadores e terapeutas. Essa turma mitiga o risco com muito respeito à montanha e aos limites do corpo. Aqui não tem Expedição duvidosa, aquela que você sabe que tem uma virgula fora do lugar. É a turma da preparação para o extremo, para a privação. Por isso esse grupo é o que está menos exposto ao risco.
Certa vez fiz uma reunião com a equipe de marketing de uma companhia aérea brasileira com objetivo de buscar patrocínio ao projeto. A gerente foi curta, e encerrou assim: ‘Gustavo, seu projeto é lindo, mas a nossa companhia não apoia esportes em que o risco de acidente ou fatalidade é alto’. Não tive outra alternativa senão responder na lata: ‘é mais provável um avião seu cair do que eu morrer na montanha’.
O Turista. Esse grupo também está muito exposto. É aquela turma que acha que escalar uma montanha de cinco mil metros é tipo ir à Disney, ou andar pela Chapada, ou acampar na Serra do Cipó. As Expedições sérias fazem um questionário médico aos pretendentes a uma vaga, o Turista é o que omite informação, o que não menciona uma doença pré-existente, que diz que já esteve acima de tal altitude. É a pessoa que acha que tudo vai dar certo, afinal, terá um montanhista experiente guiando, alguns outros de apoio e toda a ‘infra-estrutura’ do Campo Base da montanha. O Turista coloca a segurança de toda Expedição na janela, e normalmente nem tem consciência disso. Definitivamente é a pessoa que mais corre risco durante a escalada.
Na Expedição Aconcágua do projeto 7 Cumes eu tive contato com os três tipos de pessoas. Essa teoria ficou muito real no dia a dia, nos habitantes do Campo Base, nas Expedições diversas e na minha própria.
Mas você pode dizer que há exceções. Sim, como em tudo na vida. Mas te pergunto, você colocaria seu destino nas mãos da exceção?
Portanto, se você quiser praticar Montanhismo sou o primeiro a incentivá-lo. E meu incentivo é legítimo, de porta voz do esporte, de uma pessoa que saiu do limbo pro inacreditável através dele. É uma atividade segura, linda e libertadora. É um esporte em que a linha tênue entre conquista e derrota pode ser matematicamente reduzida.
Vai lá e se torne um Aprendiz!
UPDATE: o Elias, editor e fundador do Extremos, abriu uma discussão comigo bem interessante. Na visão dele há uma diferença entre o Profissional e o montanhista clássico, a quem ele chamou de Explorador. Eu concordei em absoluto com essa visão e atualizo o post incluíndo esse tipo de pessoa na lista, agora completa.
~ we all like a bit of the good life ~
Gustavo Ziller
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07.03.2015 - 10:10
Vamos falar de admiração
Uma das coisas mais legais da sua e minha passagem pela terra é conhecer pessoas. Mais legal do que isso é conhecer pessoas com histórias de vida que inspiram e logo você passa a admirá-las com uma energia única. Aliás, admiração é muito mais importante que amor. Casamentos acabam por falta de admiração pelo outro, o amor muitas vezes fica.
Na escalada do Aconcágua conheci Jan.
Dra. Jan Smith é australiana, tem 71 anos, psicóloga clínica reconhecida por lá, tem três filhos e quatro netos. Desde os 68 anos passou a escalar com bastante frequência porque o marido sugeriu 'jardinagem não, sobe o Everest'. Conquistou a maior montanha da terra na terceira tentativa com a equipe do lendário Dan Mazur, da Summit Climb. Depois disso, partiu para seu projeto pessoal dos #7Cumes.
Eu tive a honra e sorte de tê-la na minha Expedição em sua segunda tentativa de cume no Aconcágua. Nosso líder, Maximo Kausch, levou oxigênio suplementar para Jan, preparou uma dieta exclusiva porque, pasme você, ela é diabética. Ainda colocou um guia de montanha para acompanhá-la, o não menos incrível Eduardo Tonetti.
Jan conquistou a todos no Campo Base com sua delicadeza, história e vigor. Uma pessoa comum mas de trajetória extraordinária. Quando tive a ideia da produção #7Cumes para o Canal Off pensei justamente nisso, como pessoas comuns são capazes de realizações grandiosas em diversos campos da vida.
Como diriam os Foo Fighters, ‘there goes my hero, watch him as he goes, there goes my hero, he’s ordinary’.
Bom, a história sobre admiração começa assim.
No Aconcágua, antes do cume, tem uma região chamada 'canaleta', cerca de 80 metros de ascensão duríssima, ali muitos desistem, outros congelam e alguns não sabem o que fazer porque perdem a noção de tudo no ar rarefeito. E a história é essa: cheguei na Canaleta com Maximo me acompanhando, estava devagar demais, não sentia os pés, mas não estava passando mal, conseguia entender o que se passava ao redor. Faltando trinta metros pro cume a Jan me passou, ela usava viseira larga e branca, de alguma forma vi que me olhava nos olhos. Jan percebeu o esforço sobre-humano que eu fazia naquele momento. E cantou:
Gus, don't give up!
Alguns minutos depois nos abraçamos no ponto culminante da América do Sul e do mundo, não fosse o Himalaia.
Choramos.
O programa 7 Cumes estreia em Abril no Canal Off.
Stay tuned!
Gustavo Ziller
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02.03.2015 - 23:40
Do pessoal para o profissional
Olha, baita honra esse primeiro post no Extremos. Por diversas razões, mas acima de todas, por comprovar que com trabalho duro, disciplina e um pouco de diversão, tudo é possível.
Meu nome é Gustavo Ziller, sou de Belo Horizonte, empreendedor e confesso a você, leitor, que os últimos três anos da minha vida foram mais parecidos com uma volta na montanha russa mais alta do mundo, sem freio, no loop. Tipo dia da marmota a mil por hora.
Em 2012 quase tive um piripaque em plena Av. Cidade Jardim em São Paulo. Do susto veio a vontade de renascer como homem, pai e profissional. Naquele mesmo ano comecei a me preparar para um trekking ao Campo Base do Annapurna, no Nepal. Esse ritual de passagem rendeu um livro – que será lançado esse ano – e uma inquietação constante, que me ronda desde então.
A volta dessa jornada foi recompensadora. Mudei de cidade, de ritmo de vida e reencontrei amigos de raiz. Tive tempo para sonhar grande e montei um projeto para televisão, o Sete Cumes em 30 Meses, ou 7S30M. Com a pastinha embaixo do braço fiz diversas reuniões com produtoras e amigos, até que cheguei na mesa do Diretor do Canal Off, Guilherme Zattar.
Contei a ele a história de uma pessoa comum, como você ou eu. Com filhos, sonhos, trabalho e contas pra pagar. E também um monte de outros casos pra contar. E que para acumular mais e mais histórias que valem ser contadas, essa pessoa decidiu se tornar um montanhista e para isso estipulou uma meta, digamos, atrevida: escalar as montanhas mais altas de cada continente na primeira tentativa.
Dessa conversa inspiradora nasceu o programa 7 Cumes.
O primeiro desafio acabou de acontecer e vai ao ar em Abril: Monte Aconcágua, o ponto mais alto das Américas com 6.962 metros, atrás apenas da Cordilheira do Himalaia. Uma história inacreditável que passou pelo acampamento base a 4.370 metros, Plaza de Mulas. Depois por mais três acampamentos avançados, Plaza Canada (4.910m), Nido de Condores (5.550m) e Cólera (6.000m).
Durante nosso período no Aconcágua, a montanha levou a vida de duas pessoas, uma delas resgatada exatamente quando nos aproximávamos da última etapa do ataque ao cume, em um local chamado de ‘canaleta’. Do Campo Base uma diarreia geral varreu as Expedições, pegou 90% das pessoas que passaram por ali. Fui poupado. Ainda vimos resgates de helicóptero, entre eles de um brasileiro natural de Goiânia.
No Aconcágua conheci pessoas incríveis, de trajetórias únicas e extraordinárias como a doutora Jan Smith, australiana de 71 anos, que estava na sua segunda tentativa de cume no Aconcágua. Também o Facundo, um guia com sonhos e metas do tamanho da montanha. Miguel Doura, o artista plástico que vive no Campo Base durante toda temporada, orgulhosamente na sua galeria de arte, a mais alta do planeta de acordo com o Guinness Book.
Prometo dividir com vocês todas essas histórias e muitas outras durante quase trinta meses de projeto, além do Aconcágua teremos outras seis montanhas que completam os Sete Cumes, entre elas o Everest. Para conseguir realizar tudo, juntei um time de bambas que comanda o programa de treinamento, suporte médico, reabilitação, etc. De novo, tem muita história e aprendizado para espalhar pro mundo.
Por enquanto posto algumas fotos da Expedição ao Aconcágua e ansiosamente preparo os próximos textos a serem publicados com exclusividade aqui no Extremos.
Stay tuned!
Gustavo Ziller
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