Havia dois destinos na Turquia que atiçavam nossa imaginação e ecoavam em nossa alma. Sabe aquela “coceira”, aquela curiosidade gostosa, aquele lugar que você leu e visualizou em sua mente, mas que sonha ver com os próprios olhos? Não, não eram Istambul e a Capadócia, roteiro tradicional turco. Sim, também ansiávamos por conhecer estes tradicionais destinos, mas havia outros dois ainda mais enigmáticos. Pois bem, um deles era conhecer os verdadeiros “Dervixes” e o outro era ver com os próprios olhos o bíblico “Monte Ararati”.
Nossa jornada pelo interior da Turquia teve início na desconhecida cidade de Konya. A razão que nos levou a esta cidade grande e pouco turística era uma só, Jalal ad-Din Muhammad Rumi. Você já ouviu falar dele? Ele também é conhecido como “Rumi” ou “Mevlana”. E agora, sabe de quem estamos falando? Caso afirmativo, então provavelmente você já foi tocado pelos seus poemas ou já assistiu a enigmática dança dos “dervixes”. Caso negativo, eis uma oportunidade para conhecer mais um ser humano fascinante.
Rumi nasceu em 1207 na Pérsia, na região do atual Afeganistão, migrando jovem para Anatólia (atual Turquia), fugindo da ameaça das hordas do grande Gengis Khan. Ele foi um dos maiores humanistas e místicos muçulmanos, fundador do Sufismo. Rumi pregou a pluralidade inter-religiosa, pois para ele “é impossível termos aqui uma única religião” e que “todas as religiões são uma só religião”. Um homem muito à frente de seu tempo, cujos ensinamentos atemporais pregavam o amor, a tolerância, a fraternidade e a integração religiosa, sem negar sua base religiosa islâmica. Para ilustrar um pouco das suas pregações e poemas, eis algumas frases conhecidas:
“Seja grato por todos os detalhes da sua vida e seu rosto se iluminará como um sol. E todos que cruzarem seu caminho, serão tocados pela alegria e paz”.
“Pare as palavras agora, por um instante. Abra a janela do centro do seu coração e deixe o amor fluir”.
“Eu olhei em templos, igrejas e mesquitas. Mas eu achei o Divino dentro do meu coração”.
“Ontem eu era inteligente e queria mudar o mundo. Hoje que eu sou sábio, estou mudando a mim mesmo”.
“Na verdade, somos uma só alma, tu e eu.
Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti.
Eis aqui o sentido profundo de minha relação contigo,
Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu”.
Chegamos tarde da noite em Konya, a cidade de Rumi. Passamos um sufoco para nos localizar e encontrar as opções de hospedagem que havíamos pesquisado. Tentamos nos informar na rodoviária, a qual ficava distante do centro, mas ninguém falava inglês. Aquele típico perrengue de idioma, situações pelas quais já havíamos passados inúmeras vezes, especialmente na China e na Rússia. Porém, o problema que já era quase meia noite e todo comércio e as companhias de ônibus estavam fechando. Um funcionário de uma das companhias, o qual falava pouco inglês, propôs-se a nos acompanhar. Imaginávamos que ele nos levaria apenas até o ponto de ônibus correto, mas ao final das contas ele nos levou até o centro da cidade e ligou para as opções de hotel fazendo as reservas e pegando direções. Mais um anjo, dessa vez, turco, que cruzou nossos caminhos.
Visitar uma cidade pouco turística é uma “faca de dois gumes”. Por um lado, é possível entrar em contato direto com a cultura local, testemunhar sua rotina e nos tornarmos atração turística. Nestas ocasiões os sorrisos são sinceros e não há aqueles chatos tentando vender quinquilharias. Por outro lado, a comunicação é difícil, não há infraestrutura típica de locais turísticos (hotéis, cafés, restaurantes e postos de informação). Por exemplo, o conceito de alimentação matinal da Ásia é totalmente diferente dos países ocidentais. Se você não estiver numa região turística será obrigado a comer arroz e molho apimentado em pleno café da manhã. Bem, mais se fosse para escolher entre um e outro, ainda preferimos a primeira, ou seja, destinos autênticos e pouco contaminados pelo turismo, pois este contexto invariavelmente nos proporciona experiências marcantes.
Konya definitivamente é um desses lugares ainda pouco turísticos, mas extremamente interessante. A vantagem aqui foi que, ao invés do arroz, comemos no café a famosa “pita” e café com borra. A pita é uma espécie de pizza em forma de canoa, com as extremidades dobradas. Há várias versões de Pita, todas deliciosas! Abastecidos, entusiasmados e recatadamente vestidos, como reza a tradição islâmica, fomos visitar a Mesquita e o Museu onde estão os túmulos do Rumi e de pessoas ligadas a ela.
O museu, ou melhor, o mausoléu de Rumi é local de peregrinação islâmica. Lá estávamos nós cercados de devotos. Tínhamos o dia todo para desvendar o complexo. Fizemos tudo devagar, observando calmamente, procurando se sintonizar com a vibração daquele ambiente místico. A arquitetura islâmica é realmente espetacular. As colunas, arcos, cúpulas, linhas, mosaicos e dizeres religiosos criam um conjunto belo e original. O mausoléu foi construído dentro do jardim de lindas rosas cedido por um Sultão. Neste jardim nos sentamos para observar as famílias e as pessoas que chegavam. Volta e meia recebíamos um sorriso curioso e amigo.
Dentro do museu há vários sarcófagos, adornados, inclusive do próprio Rumi. Há também algumas relíquias ligadas a este mestre, tapetes, manuscritos, instrumentos musicais, tudo com mais de setecentos anos de idade. Muitas pessoas se emocionavam e rezavam fervorosamente. Cenas fortes e energia pulsante! Mesmo não sendo devotos como aquelas pessoas, sem dúvida aflorou em nossos corações um sentimento positivo. Nós nos permitimos ser tocados pela mensagem daquele grande mestre que disseminou o amor e a tolerância. Sobre as lápides há um curioso chapéu largo e cônico feitos de pelo de camelo. Este chapéu é utilizado pelos dervixes e representa a pedra tumular, de forma enfatizando a fugacidade do corpo e do ego.
Mas o momento que mais esperávamos ainda estava por vir. Todas as noites de sábado, há uma apresentação oficial do Sema, a dança rodopiante dos dervixes criada por Rumi. Acredita-se que esta dança representa uma jornada mística de ascensão espiritual do homem. Voltando-se para a verdade, o seguidor-dançarino cresce através do amor, abandona o seu ego, encontra a verdade e chega à perfeição. Em 2005, a UNESCO proclamou o Sema como uma das obras-primas do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade.
Em Istambul se pode assistir algumas apresentações de dervixes, entretanto, nós queríamos assistir a Sema em suas raízes. Todo sábado à noite há uma apresentação gratuita num espaço espetacular em Konya. Chegamos cedo e nos sentamos na primeira fileira. O ambiente era de silêncio e muita seriedade. Tanto os músicos quanto os dançarinos mantinham uma concentração fora do comum, estavam profundamente mergulhados naquela cerimônia, e, quem sabe, em transe ou êxtase.
Nós, por outro lado, não piscamos os olhos. Primeiro entraram os músicos, extraindo lindas notas dos seus pitorescos instrumentos. Embalados por aquela música envolvente e suave, os dervixes entraram silenciosamente no teatro, de olhos semifechados, ocuparam lentamente seus lugares. Havia homens de todas as idades, vestidos de branco, chapéu cônico e um-a-um, aparentemente seguindo um ritual, começaram a rodopiar majestosamente pelo teatro. Quanta beleza! Quanta graça! Todo aquele clima misterioso, a beleza musical e o deslizar suave dos dançarinos foram nos envolvendo, levando-nos a outra dimensão, arrancando-nos lágrimas de emoção. Nossos corações transbordaram em deleite e emoção. Mais um momento mágico, único, inesquecível e inexplicável.
Partimos daquela experiência em silêncio, de mãos dadas, ainda mais unidos, naquela noite escura, envoltos de uma magia que não sabíamos definir, agora sem pressa de voltar ao nosso hotel. Cada um mergulhado em seus pensamentos e emoções, sentindo-se gratos por termos nos permitido seguir nossa intuição e viver aquela experiência.
Agora era hora de seguir para o segundo ponto mais visitado da Turquia, a Capadócia. Istambul e Capadócia são destinos preferidos da maioria das pessoas que chegam à Turquia, especialmente os brasileiros. Será que a Capadócia era tudo isso? O tal passeio de balão na Capadócia valeria a pena? Seguimos com essas dúvidas. Na verdade, a Capadócia é uma região vasta, abrigando vários municípios, tendo como a mais conhecida e acessível a cidade de Goreme.
O charme desta região resultou da combinação de dois fatores, o geológico e o cultural. Trata-se de uma vasta área coberta por rochas calcárias macias, as quais sofreram forte erosão, do vento e chuva, formando-se incríveis cones, lindos desfiladeiros e sinuosos vales, com aparência lunar. Se não bastasse tudo isso, a região recebeu diferentes povos que construíram surpreendentes habitações nestas formações rochosas, algumas delas ainda hoje habitadas. Estas construções em rocha ora eram utilizadas como moradia, ora como abrigo contra invasores. Verdadeiras cidades foram construídas dentro das pedras, cavernas e no mundo subterrâneo. Ainda hoje se pode visitar imensas catedrais ortodoxas escavadas em rocha, com pilares e abóbodas cobertas com afrescos, com mais de mil anos.
Chegamos em Goreme e fomos almoçar num restaurante típico local, comida simples, barato e delicioso. Logo fizemos amizade com um garçom sírio que lamentou pelos acontecimentos (guerra) em sua terra Natal. Voltamos para almoçar naquele pequeno e simpático boteco muitas vezes. Como é prazeroso descobrir novos sabores e hábitos alimentares. Deixamos nossas mochilas ali e fomos procurar um hostel. Encontramos um sensacional, chamado “Dorm Cave”, com direito a quarto coletivo esculpido na rocha, tudo muito limpo e confortável. Para quem era um pouco claustrofóbica, Karina já havia superado todos os seus medos naquela altura da viagem.
Nos dias seguintes, entramos em várias cavernas e desfiladeiros. Inclusive, visitamos a incrível cidade subterrânea de Derinkuyu, com dez andares abaixo da terra. Sim, dez andares! Visitamos apenas cinco, descendo longas escadarias, percorrendo corredores estreitos, visitando salões, casas, quartos, escolas, igrejas, com sistemas de ventilação e poços de água, onde viveram milhares de pessoas e animais.
A Capadócia é realmente incrível! De fato, trata-se de uma região muito turística e abarrotada de hotéis, alguns muito luxuosos. Felizmente estávamos em baixa temporada. Fizemos amizades com algumas pessoas interessantes, entre elas um adorável casal de israelenses, Hallel e Eran, com os quais voltaríamos a nos encontrar posteriormente durante nossa passagem por Jerusalém. Durante os dias que ficamos em Goreme fizemos muitas trilhas agradáveis, como a do Vale Rosado, percorrendo paisagens exóticas, colhendo uvas e maças selvagens no caminho para repor as energias e sempre encerrando os dias sentados juntinhos em algum mirante para contemplar aquele pôr-do-sol único.
Como todo mundo que visita a Capadócia, nós queríamos fazer o famoso passeio de balão. Realmente nos pareceu que valeria a pena percorrer aqueles vales de balão ao amanhecer. Tudo dependeria do valor. Fizemos várias cotações e um funcionário do hostel nos ajudou a encontrar o melhor custo-benefício, com segurança. Naquele ano houve um acidente de balão, no qual um brasileiro morreu. Fechamos um balão grande, para 24 pessoas, fazer o quê? Era o que nosso dinheiro podia pagar. Porém, para nossa surpresa, provavelmente por falta de pessoas nos colocaram num balão de 8 pessoas, com um compartimento exclusivo para nós!
Era madrugada quando chegamos ao campo onde o balão estava sendo inflado. Enquanto tomávamos um chá quente com biscoitos naquela manhã fria, ficamos observando nosso piloto manejando aquele incrível maçarico, inserindo ar quente num imenso pedaço de tecido. Subimos lentamente ainda no escuro, juntamente com outras dezenas de balões. Não há impacto ou medo, a subida é suave. Estávamos cercados de vultos de balões, só conseguíamos vê-los totalmente quando seu maçarico era aceso. Eles “acendiam” como lâmpadas flutuantes.
Nós nos sentíamos como duas crianças, vivendo um sonho. Como se tivéssemos entrado num mundo mágico. Deslizando no céu, subindo e descendo, cercados de outros lindos balões coloridos. Nosso piloto conduzia com arrojo e desenvoltura, entre os morros pontiagudos. Nós sorríamos um para o outro e nos abraçávamos de emoção. Momentos assim sempre levam a Karina às lágrimas. Nossas famílias vieram as nossas mentes. Como gostaríamos de dividir tudo aquilo com as pessoas que amamos! Depois de percorrer os lindos vales, o balão foi subindo, subindo, até avistarmos o sol nascendo no horizonte, trazendo consigo sua luz forte e a promessa de um novo dia, no qual tudo é possível.
Ficamos tão encantados com aquela linda cena dos balões ao nascer do sol, que no dia seguinte, ao amanhecer, subimos a pé um morro de onde podíamos assistir a mais um espetáculo dos balões. Estávamos acompanhados de nossos novos amigos israelenses, os quais levaram chá quente e biscoitos. Eis uma dica, quando estiver na Capadócia, acorde cedo e suba numa colina próxima para assistir ao espetáculo colorido nos céus de Goreme, deslizando naquela fascinante paisagem lunar.
Faltava apenas experimentar o famoso banho turco (haman). A importância religiosa do banho turco tem suas raízes nas frequentes exaltações do Corão para manter altos níveis de higiene pessoal. Quase toda cidade tradicional na Turquia se pode encontrar um haman público. Havia uma linda e famosa casa de banho na cidade. Fomos experimentar e foi sensacional! O ambiente é lindo, coberto de pedras de mármore e decoração típica.
Fizemos o banho em alas separadas, ambos voltaram totalmente relaxados e extremamente limpos. Os banhos acontecem numa sala onde há uma plataforma octogonal, ou seja, com oito espaços de massagem. O banho é precedido de uma sauna a vapor. Lá cada pessoa é banhada individualmente ao mesmo tempo em que recebe uma massagem. Imagine-se deitado seminu numa plataforma de mármore enquanto alguém lhe ensaboa, lava-o e o massageia, cuidadosamente, ora utilizando as mãos, ora um pano ensopado de espuma, inflando-o, formando um balão de ar que desliza no corpo. Mais curioso ainda era imaginar que esta tradição pitoresca existe há milênios e quantas gerações lá também se deitaram.
Havia uma história engraçada de um amigo numa destas casas de banho. Em lua de mel, ele decidiu pagar o “banho máster”. Achou que seria massageado por uma mulher de mãos macias e quase caiu para trás quando se deparou com um turco enorme, com aspecto de poucos amigos. Diz a esposa dele, que o marido voltou ao hotel com um aspecto desolado. A massagem foi, no mínimo, um tanto intensa, usando uma pedra porosa e áspera, o turco quase arrancou as pintas do coitado que voltou com a camiseta cheia de pontos de sangue.
Era hora de dizer adeus à Capadócia! Depois de Goreme seguiríamos para cidade de Kahta. Logo que chegamos em Kahta percebemos que estávamos diante de uma Turquia diferente. Mais humilde e com outras tradições. Trata-se de uma região sob forte influência curda, um grupo étnico nativo do Curdistão (engloba parte de vários países vizinhos). Nossa passagem por ali tinha como objetivo conhecer algumas ruínas e o enigmático Monte Nemrut Dag, situado na região da antiga Mesopotâmia, classificado pela UNESCO como Patrimônio Mundial.
Uma montanha com mais de dois mil metros de altura, cujo topo é formado por ruínas, túmulos da família real do rei Antíoco e imensas estátuas de leões, águias e estátuas gigantescas de deuses e do próprio rei. Chega-se de automóvel até determinado local e depois é preciso seguir uma longa escadaria, formada por placas de pedra até o topo. Havia muitos turistas, todos turcos. Fomos assediados por grupos de curiosos e simpáticos estudantes, pousando para dezenas de fotos. Fizemos amizade, conversamos um pouco e trocamos facebook. Até hoje eles nos acompanham e mandam mensagens.
Quantos anos e esforços foram necessários para construir aquela obra prima? Aquelas imensas esculturas em pedra, cuidadosamente posicionadas, impressionavam no topo daquela montanha. Sentámo-nos e ficamos abraçadinhos, curtindo um pôr do sol mágico que coloria um vale sem fim, berço da civilização.
Próximo destino foi a cidade de Mardin, por indicação de um casal de turcos. Esta região se situa entre os lendários rios Tigre e Eufrates, conhecida como “crescente fértil”, onde se acredita que a civilização surgiu por volta de 10.000 anos. Mardin é uma linda cidade histórica, construída no topo de uma colina, cercada por vales. Ela é considerada um museu a céu aberto, devido a sua arquitetura fascinante, repleta de edifícios de cor ocre, construídos em rocha calcária colorida. Caminhamos muito entre um verdadeiro labirinto de corredores, escadarias, vielas, cruzando comércios, feiras, residências, madrassas (escola), mesquita, sempre sob o olhar penetrante e simpático dos locais. Lá almoçamos no restaurante mais “chique” da cidade. Diga-se, chique e muito barato, inclusive para os padrões turcos. A vista era esplêndida e a decoração típica impecável. Para variar, aperitivamos sementes de girassol, almoçamos Kebab e tomamos o suco de iogurte.
Embora o pirado dono do hostel ficasse tentando nos persuadir a ficar mais tempo em Mardin, logo seguimos para a remota cidade de Dogubayazit, na fronteira com o Irã. Foi uma longa viagem e logo pela manhã podemos avistar pela janela do ônibus a razão que nos levou até lá, o Monte Ararat, montanha mais alta da Turquia, com 5.137 metros, com seu pico nevado. De fato, é uma montanha repleta de histórias e enigmas, especialmente pela menção bíblica que por lá encalhou a Arca de Noé. Pessoalmente, senti-me inexplicavelmente atraído por esta montanha depois que li a descrição apaixonada do viajante Marco Polo.
A região é um pouco desértica e o clima estava ficando cada vez mais frio. A cidade era pequena, empoeirada e pouco estruturada, fazendo-me desistir de plano do trekking ao topo do Ararati, o que certamente não seria uma tarefa fácil. Aderimos, assim, a um tour clássico percorrendo alguns dos pontos mais interessantes da região. Primeiro visitamos as ruínas do espetacular Ishak Pasha Palace, um palácio otomano, construído nas montanhas. Depois seguimos para visitar o local onde caiu um meteoro e onde supostamente encalhou a Arca Noé. Não sabíamos a ordem das coisas e nem para onde estávamos indo, pois o taxista não falava inglês. Foi uma longa expedição, percorrendo regiões remotas, entre lindas montanhas, cruzando com pequenos vilarejos e pastores solitários.
A mímica não estava funcionando muito bem com nosso simpático taxista. Quando ele parava o carro, nós descíamos e o seguíamos. Certo ponto ele parrou no alto de um cume de onde avistamos um vale. Karina, câmera-girl do casal, decidiu registrar aquele momento, dizendo “estamos aqui na Turquia e lá embaixo caiu um meteoro (...)”. Eu caí na risada! Ela ficou brava pois eu estava atrapalhando a filmagem. Foi então que expliquei que aquilo que ela estava vendo não era o meteoro e sim o fóssil da Arca de Noé. Rimos muito e nosso motorista não entendia o porquê.
Realmente, havia um fóssil que representava um fundo de um barco. Algumas pesquisas revelaram a existência de madeira e linhas típicas de um barco marítimo. Porém, não há qualquer suporte turístico ali, explicações ou pesquisa científica. Aparentemente, esta omissão se deve por questões políticas-religiosas. A Bíblia descreve aquela região como a parada final da Arca de Noé após o dilúvio. Porém, o Alcorão fala de outra montanha. Portanto, permitir um estudo aprofundado daquele fóssil poderia contrariar o Alcorão e desagradar a cúpula religiosa do Islã. Por fim, visitamos a incrível cratera causada pela queda de um meteoro a poucos metros da fronteira com o Irã. O acesso é tenso, repleto de guaritas e soldados com metralhadoras.
Nosso destino final na Turquia foi a cidade de Kars, próxima da tríplice fronteira Turquia, Armênia e Geórgia. A história desta parte da Turquia é marcada por muitos conflitos, passando pela mão de diferentes povos, culturas, impérios e países. Nosso objetivo naquela cidade era um só, conhecer as ruínas de Ani.
A antiga cidade de Ani chegou a ser chamada de a “cidade de 1001 Igrejas”, repleta de edificações, palácios e fortificações, utilizando-se na sua construção as artes e técnicas mais avançadas do mundo. Tornou-se um dos principais polos comerciais daquelas bandas, rivalizando com cidades como Constantinopla (atual Istambul), Bagdá e Damasco. Ela era passagem e um importante ponto de apoio à lendária Rota da Seda.
Agora era curioso caminhar ao meio daquelas ruínas e pensar que tantas pessoas viveram ali, tantos povos a cobiçaram e agora ela estava totalmente entregue às intempéries do tempo. A cidade se situa num penhasco em forma triangular, cercada por um rio fundo que marca a fronteira com a Armênia. Avistávamos o exército armênio do outro lado.
Sentamos num ponto alto, numa ruína qualquer, à beira do rio, num dia frio e ensolarado, fechamos os olhos e fizemos nossa meditação, desejando que os povos, inspirados por mestres como Rumi, um dia se reconheçam como irmãos e que encontrem a paz em seus corações.
Teçekur Ederem (obrigado)!
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