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Alasca, visitando o cenário de Into The Wild |
da redação, Texto e Fotos: Leonardo Dantas Pinheiro e Daniele Evaristo Pinna
29 de abril de 2012 - 15:30 |
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Atolados na tundra na Stampede Trail
Foto: Leonardo Dantas Pinheiro
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Camping solitário em Coldfoot"
Foto: Leonardo Dantas Pinheiro
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Muitos trechos em obra na Dalton Hwy
Foto: Leonardo Dantas Pinheiro
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O Cenário do filme Into the Wild
Foto: Leonardo Dantas Pinheiro
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O cinza e frio mar Ártico
Foto: Leonardo Dantas Pinheiro
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Primeira noite no Alasca"
Foto: Leonardo Dantas Pinheiro
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Sinal de alerta para os motoristas 4x4 na Stampede Trail
Foto: Leonardo Dantas Pinheiro
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Atolados na tundra na Stampede Trail
Foto: Leonardo Dantas Pinheiro
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É verdade que o Alasca sempre exerceu um fascínio sobre nós, é distante, cheio de vida selvagem, montanhas, glaciares, tundra, rios, salmão vermelho, lagos, curvas, aurora boreal, indiscutivelmente este era um local muito esperado por nós nesta viagem, queríamos dirigir até o lugar mais longe de nossas casas, e este lugar é o Alasca!
Chegamos ao Alasca pela Top of the World Highway no final de agosto e embora fosse verão as cores já eram de outono, este mês de acordo com nosso guia marcava o início das auroras boreais e estávamos ansiosos por vê-las.
A primeira noite no Alasca a gente nunca esquece. Abrimos nossa barraca em um camping na pequena cidade de Tok e armamos nossa fogueira, ficamos acordados olhando para aquele céu limpo e cheio de estrelas pensando em tudo que tínhamos visto, percorrido e sentido, até pisarmos ali, o Alasca parecia estar mexendo bastante com as nossas emoções! O dia clareou sem que tivéssemos visto auroras boreais, mas tudo bem, esta era só a primeira noite de quinze!
Chegamos à Farbainks e fomos direto ao centro de visitantes para obter informações sobre as condições da Dalton Highway. James W. Dalton Highway, é considerada a estrada mais perigosa do Alasca, foi criada para abastecer a base petrolífera de Prudhoe Bay e não para ser uma rota turística, razão pela qual não oferece infraestrutura para tal, então é necessário ir prevenido para os seus 667 km. Escutamos todas as orientações do senhor no centro de visitantes que nos deixou com a impressão de querer nos fazer desistir, porém depois de nos perguntar de onde víamos e escutar que já tínhamos dirigido pela América do Sul, ele disse: ah, então podem ir tranquilos! Pensamos logo, a fama das estradas da América do Sul não deve ser das melhores por aqui.
Nossa maior preocupação com relação a Dalton não era o fato de muitos trechos serem de cascalhos, mas sim com os caminhoneiros que trafegam por lá em altas velocidades sem se importarem com os carros menores, além dos riscos de acidentes muitas pedras são levantadas pelas rodas dos caminhões e podem quebrar o para-brisa, mas estávamos avisados e bem dispostos a percorrer a estrada que nos levaria ao extremo norte das Américas.
Na noite antes de seguirmos para Prudhoe Bay, em uma destas visitas noturnas ao banheiro, percebemos no horizonte uma fraca luz verde que foi crescendo até que veio parar sobre a nossa barraca, esta era a primeira aurora boreal que víamos em nossas vidas, não durou mais do que 10 minutos, mas foi o suficiente para nunca mais esquecermos as luzes verdes dançantes do céu do norte, algo indescritível!
Colocamos o pé na estrada cedo, nossa primeira parada foi no Círculo Polar Ártico, onde atingimos a latitude dos polos, mais alguns quilômetros e mergulhamos de vez na Dalton Highway, simplesmente uma das mais lindas rodovias que percorremos! Cores fantásticas, tundras, lagos, montanhas e muitos animais. Chegamos à Coldfoot onde acampamos, o nome do lugar tem sua razão de ser, pois no verão durante a madrugada a temperatura de 20°C despencou para -4°C! Coldfoot é a última parada antes de Deadhorse – 388km, o combustível lá é mais caro que em Fairbanks, mas é a única chance de completar o tanque para quem não tem galões extras, nós tínhamos o suficiente para chegarmos até o destino sem precisar abastecer e outros dois galões de 20l cheios para caso de emergência, pois dependendo do terreno ou dos ventos contra o consumo pode aumentar consideravelmente e não queríamos ser surpreendidos sem diesel numa estrada sem acostamento.
Nosso tour para o mar Ártico estava agendado para as 17h, conseguimos chegar com quatro horas de antecedência e deu para descansar um pouco, quanto aos temidos caminhoneiros, vimos apenas alguns e estes não estavam correndo. O que mais encontramos pelo caminho foram caçadores, já que estava aberta a temporada de caça. Temos certeza que muitas vezes atrapalhamos alguns deles, porque enquanto eles queriam silêncio e entravam tundra adentro passo a passo para caçarem caribus, nós simplesmente fazíamos o mesmo, mas para conseguirmos fotografar, depois achamos melhor evitar tal atitude porque poderíamos ser atingido por algum deles que não tivesse nos visto, e este foi sim o maior perigo que encontramos nesta estrada.
Deadhorse é tudo o que se pode esperar de uma zona petrolífera, os hotéis são containers empilhados com serviços de alimentação e sem atrativos. Em menos de 30 minutos de tour estávamos diante do mar Ártico, simplesmente frio e cinza. Após seis meses e meio de estrada tínhamos alcançado o nosso objetivo de ir aos dois extremos das Américas de carro!
Não tínhamos razões para ficar mais do que uma noite ali então voltamos direto para Fairbanks em uma viagem que durou doze horas, novamente sem problemas com caminhoneiros ou com o clima. Ficamos em Fairbanks tempo suficiente para recarregarmos nossas energias e seguir para o que foi a mais pesada e pensada trilha no Alasca.
Depois de assistirmos ao filme Into the Wild e de lermos a polêmica história de Christopher McCandless o Supertramp, estávamos decididos a fazer a trilha até o ônibus 142. Antes de deixarmos Fairbanks um amigo canadense nos informou a posição exata de onde está o ônibus, que se encontra na Stampede Trail, nas proximidades do Denali National Park.
Em pouco tempo estávamos na entrada da Stampede Trail e fomos alimentando esperanças sobre as possibilidades de naquele dia o tempo e todas as condições estarem favoráveis para chegarmos lá, isto porque o local é conhecido entre todos no Alasca pelas dificuldades de acesso. A Stampede Trail começou a ser construída para possibilitar o transporte de minério por caminhões desta região até a ferrovia, mas o projeto foi interrompido e a estrada passou a não receber manutenção ficando abandonada, assim como o próprio ônibus 142. Hoje o local é muito procurado por caçadores.
Quando percorremos o primeiro trecho da estrada, pensamos, está legal vai dar para chegar até o final, mais um pouco e atolamos! Depois de um tempo ali tentando libertar o carro da lama percebemos que só sairíamos usando o guincho, na primeira tentativa o colocamos num pequeno arbusto e não tivemos resultados, já na segunda tivemos a sorte de alcançar um tronco maior e aos poucos nos livramos da lama e voltamos para uma parte de pedras.
Paramos um pouco para admirar a paisagem e tomar fôlego quando veio um grupo de Jeeps e parou para perguntar o que tinha acontecido, explicamos o ocorrido e logo eles falaram: isto aqui é a parte boa! Eles nos convidaram para ir seguindo-os até um acampamento, e realmente a trilha foi piorando, muitos degraus na estrada, lama, piscinas e a coisa mais temida para um jipeiro por aqui, a tundra, muito parecida com o nosso charco. Ainda não tínhamos tido a oportunidade de conversar com o organizador do tour, mas quando paramos no acampamento falamos sobre as nossas pretensões e ele fez uma expressão de, não vai dar! Disse que nesta época do ano seria praticamente impossível passar pela tundra, e se mesmo assim tivéssemos esta sorte, dificilmente atravessaríamos os dois rios que estavam cheios e com forte correnteza, mas nos disse para irmos até onde achássemos que desse.
Nós resolvemos continuar, chegamos até a placa colocada em uma árvore pelo Jeep Club do Alasca informando sobre os riscos de atolar a partir daquele ponto, então encostamos o carro e fomos andando para averiguar o terreno e acabamos atolando até o joelho em menos de três metros de caminhada. Achamos melhor não prosseguir, apenas uma pessoa sabia que estávamos por lá e não nos parecia razoável prosseguir sozinhos. Já na volta encontramos com dois homens em quadricículos e perguntamos se eles tinham ido para o lado do “The Magic Bus” e eles disseram que no dia anterior tinham ficado atolados na tundra e resolveram voltar, mais uns quilômetros e encontramos um grupo de caçadores em veículos 6×6, fizemos a mesma pergunta e eles responderam que na semana passada um casal precisou ser resgatado de helicóptero porque o rio subiu e não tiveram como sair de lá, mais um pouco a frente e encontramos com uma viatura com dois policiais e pela terceira e última vez fizemos a mesma pergunta e a resposta não foi diferente das anteriores. Eles perguntaram se tínhamos comida e para quanto tempo, quantos litros de água, armas caso fossemos atacados por lobos ou ursos, spray de pimenta, agasalhos, depois anotou nossa placa e disse que aquele dia já estava tarde, que eles não poderiam nos impedir de ir, e se quiséssemos tentar era um direito nosso. Por fim falaram: “pessoas morrem tentando fazer esta trilha, você consegue chegar e às vezes não consegue sair, uns morrem de frio, outros de fome, e muitos tentando atravessar o rio, se o carro de vocês ficar preso do outro lado não teremos como retirá-lo, vocês terão que esperar as condições favoráveis para voltarem e isto é uma das coisas mais imprevisíveis aqui no Alasca, vocês poderiam até ser resgatados de helicóptero, mas o carro teria que ser abandonado para numa oportunidade vocês voltarem e recuperarem-no. O Alasca estará aqui para vocês se quiserem voltar em outra ocasião para entrarem na lista dos que já fizeram a Stampede trail, mas tenham em mente os inúmeros riscos antes de se meterem por lá.”
Para nós foi o suficiente, sabemos da importância em respeitar os limites, não abusaríamos da sorte, tivemos nossas sete horas de diversão por lá e optamos por voltar e continuar por estradas mais seguras, até aqui já tínhamos motivos suficientes para voltarmos a este estado tão surpreendente e este foi mais um para nossa lista. Stampede trail, nós voltaremos!
Dormimos perto dali e partimos no dia seguinte para o tão esperado Denali National Park. No centro de visitantes nos informamos sobre os tours de ônibus, já que não é permitido cruzar o parque em veículo particular, e reservamos o de doze horas para o dia seguinte, este era o mais longo dos tours, mas também o que ia mais longe no parque aumentando nossas chances de ver os animais. Aproveitamos para lavar o carro, e acabamos conhecendo a senhora da agência de turismo onde alugavam os mesmos Jeeps que tínhamos visto no dia anterior na Stampede, comentamos com ela sobre a nossa experiência por lá e ela disse que se quiséssemos visitar o ônibus que foi utilizado para as gravações do Into the Wild era possível, e foi o que fizemos, visitamos o cenário!
O tempo ruim fez durante toda aquela noite ficou para trás e acordamos com um céu azul perfeito para nosso tour. Foi extremamente recompensador ver de perto tantos animais como o urso grissly, moose, caribou e dall sheep, claro que o que queríamos era estar em nosso carro para termos a liberdade de ficar observando e fotografando os animais pelo tempo que quiséssemos, mas não tivemos o que lamentar visto que alguns grupos voltavam arrasados por não terem visto nenhum animal, e quando nos perguntavam se tínhamos visto algum urso ou moose, dizíamos que não, assim não colaborávamos os poupávamos de ficarem ainda mais aborrecidos!!!
Os dias seguintes nos dirigimos cada vez mais para o sul até chegarmos à Homer. Poderia ter sido maravilhoso se não fosse por uma forte e densa névoa que surgiu junto ao Pacífico e nos impossibilitou de deslumbrar as belas vistas das montanhas nevadas desta região, o que valeu mesmo foi ver a águia americana enfrentando as fortes rachadas de vento. Seguimos para Seward com a intenção de visitar o Kenai Fjords National Park, mas o tempo não tinha melhorado e era impossível enxergar um metro a frente do nosso nariz, e tivemos que abortar o Kenai. Chegamos à Whittier e escutamos num bar o noticiário a previsão de mais chuva e ventos fortes para os próximos dez dias, foi então que decidimos que era hora de partir do Alasca, decisão que tomamos meio a contra gosto. Levantamos cedo e depois de sair da Península do Kenai o dia milagrosamente de cinza ficou azul e tivemos o prazer de viajar pela Glenn Highway uma estrada cheia de belas naturais, a cada curva uma nova paisagem surgia no horizonte e íamos ficando animados.
Resolvemos na última hora entrar no Wrangell-St. Elias National Park para dormirmos curtindo a lua cheia que iluminava o Mount Sanford, levantamos várias vezes durante a noite à espera da aurora boreal, mas ela não deu sinal, pela manhã uma fina camada de gelo cobria a mesa do camping e o nosso carro, explicação para o frio que sentimos na barraca!
Nossa última noite no Alasca serviu para confirmar aquilo que já sabíamos, o Alasca é especial, misterioso, desafiador e de uma beleza surpreendente, hoje pensamos que não seria nada mal passar uma longa temporada por lá e assim ter mais tempo para explorar e visitar lugares que desta vez não foi possível, por momento este estado está no topo de nossa lista como lugares para serem visitados no futuro! |
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