Nepal: Parque Chitwan e Pokara
da redação, Texto: Pablo e Karina
31 de agosto de 2013 - 8:51
 
 
 
  • Foto: Karina e Pablo
    Parque Nacional Chitwan Foto: Karina e Pablo
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    Típico barqueiro que vive na região. " Foto: Karina e Pablo
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    Preparando para o passeio de elefante. " Foto: Karina e Pablo
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    Rinosseronte de orelha em pé!" Foto: Karina e Pablo
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    Curtindo o passeio." Foto: Karina e Pablo
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    Ainda bem que estávamos em cima do elefante!" Foto: Karina e Pablo
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    Passeando" Foto: Karina e Pablo
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    Povo local." Foto: Karina e Pablo
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    Experiência inesquecível e muito divertida: o banho com os elefantes!" Foto: Karina e Pablo
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    Que delícia!! " Foto: Karina e Pablo
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    Agora foi a minha vez." Foto: Karina e Pablo
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    Um sonho." Foto: Karina e Pablo
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    Eles são lindos mas deixam rastros por onde passam!" Foto: Karina e Pablo
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    Passeio de canoa pelos rios do parque. Que paz!!" Foto: Karina e Pablo
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    Curtindo." Foto: Karina e Pablo
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    Entrada do Parque" Foto: Karina e Pablo
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    Trilha no meio do mato. " Foto: Karina e Pablo
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    Vários jacarés da espécie Gavial. Só são encontrados na Índia e no Nepal." Foto: Karina e Pablo
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    Os veadinhos tb estavam por toda parte." Foto: Karina e Pablo
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    Pra terminar o dia com chave de ouro." Foto: Karina e Pablo
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    Reserva de reprodução dos elefantes. Emocionante! Lindo! Adora um cafuné!" Foto: Karina e Pablo
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    Aqui os elefantes trabalham também... " Foto: Karina e Pablo
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    Com os dançarinos" Foto: Karina e Pablo
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    A Karina entrou na dança. Literalmente..." Foto: Karina e Pablo
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    A linda Pokara. " Foto: Karina e Pablo
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    Bela vista." Foto: Karina e Pablo
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    Bus local!! " Foto: Karina e Pablo
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    E agora, seguimos ou não??" Foto: Karina e Pablo
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    Ela não parece muito feliz com o casamento arranjado!" Foto: Karina e Pablo
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    No Nepal todos trabalham pesado, mas estão sempre sorridentes." Foto: Karina e Pablo
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    Povo muito querido." Foto: Karina e Pablo
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    Começando a trilha na região." Foto: Karina e Pablo
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    Cruzamos com várias crianças indo pra escola." Foto: Karina e Pablo
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    Lindo lugar." Foto: Karina e Pablo
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    Visitamos uma escola do vilarejo local. " Foto: Karina e Pablo
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    Valeu a pena acordar as 5:30 da manhã." Foto: Karina e Pablo
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    Australian Camp. " Foto: Karina e Pablo
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    Nosso café da manhã no Australian Camp." Foto: Karina e Pablo
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    Voltando... " Foto: Karina e Pablo
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    Todo mundo se vira como pode... " Foto: Karina e Pablo
 

Suando frio com os solavancos daquele pequeno avião que nos levaria de volta a Kathmandu, cercados por nuvens e montanhas gigantes, nossos pensamentos fervilhavam. De fato, voltávamos mais leves, literalmente com alguns quilos a menos e alguns itens de roupa deixados para trás. Por outro lado, retornávamos para capital nepalesa carregados de histórias e experiências memoráveis. Se a viagem acabasse naquele momento, todo esforço empreendido neste projeto já teria valido a pena. Em silêncio seguíamos, entre um suspiro e outro, mais fortes e determinados.

Começávamos a nos conectar com o que nos aguardaria dali em diante, os próximos destinos. Novamente estávamos envoltos de excitação, curiosidade e felicidade por aquilo que nos aguardava. Nada estava definido, nosso desejo era conhecer o Butão, Tibet e depois seguir para China e, quem sabe, Mongólia. Porém as incertezas a respeito dos valores envolvidos e especialmente dos “permits” (uma autorização governamental especial, além do tradicional visto) nos deixavam apreensivos. Tentamos encaminhar alguma coisa antes do trekking ao Everest Base Camp, mas não foi possível.

Embora nosso guia Kumar houvesse nos alertado, o choque ao retornar para Kathmandu foi inevitável. Deparamo-nos já no aeroporto com calor escaldante, barulho, poeira e poluição. De qualquer forma, estávamos desejosos por temperaturas elevadas, poder finalmente vestir roupas de verão ao invés de casacos e gorros; chinelos ao invés de botas; dormir com lençóis ao invés de sleep bags; desfrutar de um bom chuveiro quente e abrigado; enfim, realmente descansar e relaxar. Apesar de todo o caos que há em Kathmandu, estávamos felizes por retornar com saúde e “vitoriosos”.

Além de finalmente poder tomar um longo banho, havia outras duas prioridades: lavar todas as roupas, as quais estavam deploráveis, e definir nosso próximo destino. Fomos informados que a China havia suspendido temporiamente a emissão de permit e que não conseguiríamos viajar antes de 15 dias, mas isso descreveremos futuramente. Desta forma, antes de tentar seguir para o Tibet, utilizamos este intervalo de tempo para viajarmos um pouco mais pelo Nepal, conhecendo o Parque Nacional de Chitwan e a cidade de Pokhara, e depois faríamos uma viagem rápida ao Butão.

Fisicamente nos recuperávamos com vigor a cada dia. Eu, particularmente, parecia uma criança, ou melhor, uma mulher grávida. Eu comia compulsivamente de tudo e nada saciava meu desejo por doces. Provavelmente meu corpo procurava compensar o período anterior de estresse, pois passadas algumas semanas gradativamente minha dieta alimentar voltou ao normal. Esbaldamo-nos em Kathmandu, onde há deliciosas opções de comida, uma mistura interessante de pratos indianos, tibetanos e chineses, tudo com valores irrisórios.

Após alguns dias de descanso e mala refeita, era chegada a hora de cair na estrada. Seguimos de ônibus para Chitwan. Viajar pelo Nepal não é uma tarefa nada fácil. As estradas por lá são horríveis, esburacadas, mal sinalizadas, sinuosas, estreitas e movimentas. Quase não há guard rails e proteção, embora as rodovias cruzem muitos desfiladeiros à beira de penhascos. Dizem que são as estradas mais perigosas do mundo e volta e meia se tem notícias de desastres terríveis. Bem, o jeito era respirar fundo e desfrutar da paisagem. Boa parte do percurso foi à beira de um profundo rio, onde há muitas bases para rafting. Em alguns pontos, ao se olhar pela janela, não víamos a estrada, apenas o abismo, o ônibus parecia flutuar. Avistamos imensas e lindas pontes suspensas cruzando as gargantas, tirando do total isolamento pequenos vilarejos. Nosso desejo era parar e atravessar estas pontes, mas o ônibus seguia ininterruptamente o seu destino. Saciamos a vontade de pisar numa ponte desta quando estivemos posteriormente no Butão.

Chitwan se localiza numa região mais baixa, muito próxima da fronteira com a Índia, cujo vilarejo base se chama Sauraha. Portanto, o calor que antecedia as monções era sentido também nesta parte. Ficamos hospedados num lindo bangalô, cercados de muito verde, vizinhos de um abrigo onde viviam dois imensos elefantes, cuidados dia e noite pelos seus respectivos mahouts (adestradores de elefantes). Avistá-los ali tão próximos já foi uma prévia dos agradáveis momentos que teríamos nos próximos dias.

O gerente do hotel cuidou para que nossa estadia naquela região fosse repleta de atividades. Mal chegamos, fomos caminhar pelo pitoresco vilarejo e conhecer os Tharus, uma etnia indígena, atualmente protegida pelo governo do Nepal. Esta parte do Nepal era isolada do resto do país, pois era foco de malária e somente os Tharus conseguiam viver naquela região. O vilarejo é muito agradável e curioso. A comunidade Tharu convive aparentemente sem problemas com os nepaleses. Há pequenas árvores de maconha por toda parte, crescendo de forma selvagem na beira das ruas e terrenos baldios. Embora a maconha seja proibida no Nepal, seu consumo é tolerado nesta região por fazer parte da cultura Tharu. Acredita-se que inclusive seu consumo foi um dos responsáveis pela sua surpreendente imunidade à malária.

Os Tharus preferem viver em sua Badaghar, uma espécie de maloca, onde vivem grandes famílias de muitas gerações, chegando às vezes a 50 pessoas. Todos são membros da família, onde unem esforços, trabalho, renda e partilham suas despesas. Os casamentos costumavam ser arranjados entre duas mulheres grávidas, as quais levam a cabo a promessa caso seus filhos nasçam de sexo opostos. Eles são exímios agricultores. No oeste do Nepal, eles realizam um importante trabalho de engenharia na construção de canais de irrigação ao longo de milhares de hectares de plantação, desenvolvido há centenas de anos, sem o uso de ferramentas sofisticadas.

À noite fomos a uma apresentação da cultura Tharu. Uma mistura de várias danças, lembrando nosso maculelê da capoeira, vestindo roupas tradicionais. Foi divertido! Em especial para Karina que na parte final foi convidada para subir ao palco e dançar com o grupo. A “indiazinha branca” não perdeu a oportunidade de mostrar o gingado brasileiro e voltou só sorrisos. A mesma sorte não tiveram as gringas européias, cujos movimentos dessincronizados estavam mais para uma “dança da chuva”.

Havia dois programas muito esperados por nós: safári de elefante dentro do parque Chitwan e o banho com os elefantes, ou melhor, com as elefoas pois somente estas se deixam ser conduzidas pelos mahouts. No início estávamos um pouco apreensivos, pois temíamos que houvesse uma exploração destes animais e mal tratos. Se assim fosse, iríamos abortar este passeio. Porém, aparentemente, e na medida da realidade nepalesa, o tal passeio é bem organizado pela comunidade local e supervisionada pelo governo, de forma que o ecossistema do parque seja preservado, e os animais estavam bem cuidados.

O primeiro passeio foi um pouco frustrante. Embora fosse um passeio de elefante, o roteiro era curto e batido, tipicamente para turista. Colocam-se grossos tapetes no lombo do animal, sob os quais são apoiadas estruturas de madeira, onde são levados grupos de 4 pessoas. O respectivo mahout se senta no pescoço do animal, com suas pernas apoiadas debaixo das imensas orelhas. Ele utiliza as pontas dos dedos como comando, quicando numa determinada região próxima à cabeça. Às vezes os mahouts utilizam um instrumento de ferro quando o elefante deixe de atender aos comandos dos pés.

O nosso elefante, com passadas curtas e firmes, movimentou-se com relativa rapidez. Tudo a sua frente parecia pequeno e insignificante diante de sua força estrondosa. Tem-se a impressão de que ele destruirá ou derrubará o que se opor ao seu caminho. No youtube há alguns vídeos curiosos disto acontecendo de fato. Por outro lado, sentíamo-nos seguros naquela posição, cruzando um ambiente supostamente selvagem e habitado por animais de grande porte. Por sorte, conseguimos ver alguns animais selvagens como jacarés, veados, pavão e, em especial, um rinoceronte, o qual majestosamente se banhava num pequeno lago. Os rinocerontes são incríveis e ao mesmo tempo assustadores. Um animal pré-histórico de força descomunal, vivendo ali livremente desde os primórdios.

Já o banho com os elefantes foi inesquecível! Quem já não viu uma imagem de elefantes se banhando e não se imaginou ali, em meio aqueles imensos e dóceis animais? Na parte da tarde, os elefantes são levados ao rio para se banhar e quem tiver interesse pode ir lá ver ou entrar na água com eles. Não é um programa turístico em si, com pagamentos pré-estabelecidos. Quem quiser pode dar uma caixinha ao mahout, mas nada obrigatório. Os animais são despidos e conduzidos para dentro do rio, onde espontaneamente jorram água sobre seu empoeirado dorso.

Os turistas que desejam participar da festa sobem no animal pela tromba ou quando o animal é induzido a se abaixar. Subir nas costas nuas daquele animal imenso já é por si uma experiência pitoresca. Sua imponência é contrastante diante de sua postura dócil e calma. Sua pele é seca e incrivelmente espessa, coberta por pelos grossos que nos espetavam. Os pelos não chegam a machucar, apenas geram um certo desconforto. Seus olhos são expressivos e profundos. Já suas gigantes patas são fascinantes, capazes de esmagar qualquer coisa. Definitivamente é um dos animais mais magníficos do planeta. Nós não cansávamos de abraçá-lo, sussurrando um obrigado. Acredite, é uma sensação única desfrutar deste contato tão próximo.

A primeira vez que o elefante jorrou água em nós foi um grande susto. O mahout o estimula para que ele faça isso sucessivamente. Nem sempre este realiza este comando de forma gentil, mas no geral parece uma relação antiga e harmonioso entre o mahout e seu elefante. Evidentemente que gostaríamos que todos os animais fossem livres, em seu habitat natural, da mesma forma que todos os zoológicos perderiam sentido de existir. Porém, não nos cabe julgar e condenar essa relação milenar entre os elefantes e os asiáticos. Quiça se não fosse essa relação, os elefantes asiáticos (espécie bem diferente da africana) já teriam desaparecidos na super povoada Ásia.

Também tivemos a oportunidade de descer o rio com uma típica canoa indígena. A estreita canoa deslizava silenciosamente pelo rio sinuoso, seguindo a correnteza, entre lindas flores e alguns jacarés escondidos. Havia centenas de aves das mais variadas espécies: locais, migratórias, endêmicas, e por ai vai. O atencioso guia tentava nos explicar tudo com detalhes, mas nosso conhecimento de botânica e fauna era limitado. Descemos até um ponto do parque onde iniciaríamos nossa caminhada pela floresta. Antes de ingressarmos na floresta o guia, que portava um longo bastão, nos treinou para eventuais surpresas. Caso surgisse um elefante selvagem deveríamos ficar atrás de uma árvore grande. Caso surgisse um rinoceronte deveríamos subir numa árvore. Caso surgisse um urso deveríamos bater palmas. Ele silenciou a respeito do último grande animal daquela mata, o incrível tigre de bengala. Quando nós perguntamos o que deveríamos fazer caso surgisse um tigre, ele nos respondeu: é difícil encontrar um, mas caso um deles venham em nossa direção, corra com toda sua força!!! Ele estava falando sério!

Houve um momento que ouvimos um barulho na mata. Aproximamo-nos lentamente, sem fazer barulho. O coração pulsava forte. Repentinamente um imenso pavão saiu voando espalhafatosamente do meio da folhagem em nossa direção, quase nos matando do susto. Até o guia estava pálido. Demos muitas risadas. No final das contas vimos poucos animais. Marcantes mesmo foram um grupo de javalis e um grupo de veados. Ouvimos um barulho forte, como se fossem relâmpagos à distância. Era estranho pois o céu estava sem nuvens. Foi quando avistamos um grupo de cervos, onde dois deles brigavam entre si, chocando suas vigorosas galhadas, provavelmente disputando as fêmeas do grupo.

Embora fizesse muito calor durante o dia, aquele vilarejo era preservado, silencioso e com um por do sol espetacular. Nossa última experiência na região foi um passeio pelo centro de reprodução de elefantes. Foi fascinante observar a interação entre mães e bebês elefantes, havia um pequenino de apenas dois meses mamando. Certo momento ele veio até nós, esfregando-se na cerca, muito bonitinho. É fascinante ver a tromba dos elefantes em ação. Dotada de mais de 40.000 músculos, os elefantes a usam para se alimentar, captar água, cobrir-se de poeira (para afastar os mosquitos), coçar a parte traseira com uma vara de bambu etc. Lá conhecemos os únicos elefantes gêmeos do planeta ainda vivos.

Em determinada época do ano, os elefantes machos selvagens vem da floresta encontrar as elefoas que ali estão sendo cuidadas para se reproduzir. Dizem que é um momento especial do ano, embora um pouco perigoso pois os elefantes selvagens podem ser agressivos. O centro de reprodução é uma iniciativa governamental que só se tornou possível após doação de elefantes por países vizinhos (Índia, Tailândia e Mianmar) e agora já conta com um número grande de animais.

Pokara
Nossa próxima parada era a cidade de Pokhara. Enfrentamos seis longas e cansativas horas num ônibus apertado e lotado, chacoalhando por todo percurso. Embora Pokhara seja a segunda maior cidade do Nepal, ela é charmosa e mais agradável que Kathmandu. Assim que vimos o imenso lago Phewa imediatamente nos simpatizamos com a cidade. Curiosamente, nós sempre nos sentimentos mais à vontade em destinos onde há abundância de água, seja lago, rios, e, especialmente, quando há o mar. Nós dois nos sentimos mais relaxados e entusiasmados. A quem atribua isso ao nosso signo (peixes e câncer), mas fato é que água é o elemento que mais nos encanta.

Nas proximidades de Pokhara estão situados três das dez montanhas mais altas do mundo (Annapurna I, Manaslu e Dhaulagiri), de forma que ainda da região urbana se pode ter uma vista estonteante do Himalaia. Vista esta que, infelizmente, ficou praticamente coberta por nuvens no período que estivemos por lá. Tudo bem, nem sempre se pode ter tudo, correto? Somente estar lá e desfrutar daquele ambiente já foi um privilégio em si. Nesta região, a elevação aumenta rapidamente dos 1.000 metros para mais de 7.500 metros de altitude num intervalo espacial pequeno, tendo como resultado altas taxas de precipitação, vista cinematográfica, rios caudalosos, gargantas, grutas, cavernas, desfiladeiros, cânions e lindos terraços.

Depois do duro trekking ao acampamento base do Everest, Karina havia dito que não queria saber de caminhadas em altitude tão cedo. Sendo assim a famosa caminhada ao acampamento base do Annapurna e/ou à região de Mustang ficariam para uma próxima oportunidade. Sempre é bom ter uma “desculpa”, um “álibi”, para voltar futuramente ao país. Sendo assim, decidimos relaxar, deixar o tempo passar preguiçosamente e escrever. Nossa rotina foi quebrada quando conhecemos Bruno, um carioca que estava a 3 meses na estrada. Ele nos convidou para comemorar seu aniversário num barzinho local, oportunidade que conhecemos Mariana, uma gaúcha e, atualmente, “manezinha da ilha”, que estava viajando a sete meses. Foi um encontro agradável que rendeu boa amizade. Pessoas com quem nos identificamos e trocamos experiências e histórias maravilhosas, regado de uma cervejinha local.

O período de descanso foi ótimo, mas estávamos começando a ficar entediados. A esta altura Karina já estava disposta a encarar um trekking, desde que não fosse em elevada altitude. Descobrimos um trekking de três dias à beira do parque nacional. Desta forma, seria uma ótima oportunidade para se exercitar e conhecer comunidades locais, sem o custo do parque. Iniciamos nossa caminhada no templo hindú Bindhyabasini, onde presenciamos um casamento religioso. Tudo muito curioso, as roupas, os rituais, as interações entre noivos e convidados. Chamou-nos a atenção os noivos sentados num banco enquanto, aparentemente, alguns familiares lavavam seus pés. Sinceramente, a noiva não parecia nada feliz, pelo contrário, ela volta e meia chorava, cujas lágrimas não pareciam ser de alegria. Talvez um casamento arranjado a contragosto de uma noiva já apaixonada por terceiro.

Agora era novamente sebo nas canelas. A caminhada em elevação era grande, sob um sol tórrido, até chegarmos no vilarejo montanhês de Sarankot, de onde teríamos um visão panorâmica de Pokhara e dos himalaias. A visão de Pokhara é linda, mesmo com uma neblina inoportuna ao nosso redor. A região é o paraíso do paragliding, proporcionando uma linda dança colorida de asas no céu. Fomos pegos por um temporal, mas uma família local nos abrigou e nos ofereceu um chá quentinho. A vista dos himalaias novamente estava encoberta, mas estava tudo perfeito.

Ficamos em hospedarias com vistas maravilhosas. Jogamos cartas enquanto havia luz, pois energia elétrica lá não havia. A nossa caminhada percorria uma estrada de terra, usada pelos moradores da região. Foi divertido ver as crianças com uniformes escolares. Certo momento caminhamos ao lado de um diretor da escola local que nos convidou para conhecer o estabelecimento de ensino por ele administrado. Brincamos com as crianças e conversamos com os professores. Tudo era muito precário. Apesar de sua incomum beleza natural, Nepal continua sendo um dos países mais pobres do mundo. Assim foram os dias que passamos naquela região. Caminhamos muito e fomos bem recebidos pelos simpáticos nepalis, as hospedagens eram simples, mas com uma comidinha caseira deliciosa.

Nosso último destino e noite naquela área foi no Astraulian Camp. Um lugar muito lindo, muito verde, de um silêncio e paz revigorante, sem contar com a vista privilegiada. Este local ganhou este nome, pois um grupo de australianos acamparam por acidente lá e ficaram maravilhados. A partir daí divulgaram a região, passando a se tornar uma parada obrigatória para muitos trekkings. Acordamos na madrugada (5h) quando o sol começar a nascer. Finalmente tivemos uma boa imagem da montanha sagrada Machhapuchhre (Fishtail), cartão postal da região.

Nosso retorno foi tranquilo e novamente cruzamos com pessoas e situações surpreendentemente boas, o que chamamos atualmente de “sincronicidades”. Isto nos possibilitou retornar com rapidez. Assim que chegamos no hotel em Pokhara, o proprietário veio aflito até nós, dizendo que havia um recado urgente de Kathmandu. Deveríamos antecipar nosso retorno à capital nepalesa e partir imediatamente, haja vista que havia possibilidade de greve dos transportes e assim corríamos risco de não chegar a tempo para nosso voo para o Butão. Enfim, tudo deu muito certo e retornamos com segurança para Kathmandu, onde tivemos tempo de visitar os seus principais pontos turísticos.

Há muita coisa para se conhecer ao redor de Kathmandu, mas focamos apenas alguns locais. Neste ponto da viagem sentimos necessidade de diminuir o ritmo. Visitamos uma espécie “refúgio”, Gardens of Dreams, uma ótima fuga para o caos da capital nepalesa. Um antigo palácio real que se tornou jardim público, repleto de flores, alguns pavilhões, um anfiteatro, lagos centrais, pérgulas e um restaurante onde almoçamos com a brazuca Mariana.

Nossa último passeio em Kathmandu foi ao famoso templo Swayambhunath. Esse templo também é conhecido como o “Templo do Macaco”, pois há dezenas, talvez centenas, de macacos santos que vivem na região. Nós brincamos que ele também poderia ser chamado de templo do “cachorro”, pois há uma cachorrada preguiçosa esparramada em todos os cantos. Swayambhunath é um espaço sagrado, situado no topo de um montanha, onde há uma linda stupa budista (estrutura cúbica). Nas laterais da stupa estão pintados os olhos de Buda, olhando em todas as quatro direções com a palavra em nepali "unidade". Neste espaço de contemplação, paramos para meditar. Karina se sentiu fortemente emocionada enquanto direcionava suas orações para seu pai, o qual passava por problemas de saúde no Brasil, e intuiu uma forte e emocionante mensagem de que tudo ficaria bem. Muita gratidão!

Namanstê!

Próximo post: Butão, o país da Felicidade!

Pablo e Karina



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