Diante da longa distância, mas especialmente com vistas a ganhar tempo, optamos por seguir de avião de Udaipur (Rajastão – último relato) para Amritsar (Norte da Índia). Um voo tranquilo com uma companhia local, com escala em Nova Delhi. A chegada ao aeroporto de Amritsar já foi um impacto, todos usavam turbantes, barbas e roupas elegantes.
Importante mencionar que os aeroportos da Índia são repletos de procedimentos de segurança. As bagagens, inclusive de mão, são revistadas com rigor. Há filas separadas de homens e mulheres para uma cuidadosa revista pessoal. Estes procedimentos se repetem duas ou mais vezes, chegando a irritar quem não está acostumado. Outro aspecto diferente de nossos aeroportos tupiniquins é que só se pode ingressar nos saguões dos aeroportos quem estiver com passagens nas mãos, por isso sempre há uma aglomerado de pessoas nas entradas principais. Tirando este aspecto, os aeroportos são excelentes e bem estruturados, oferecendo bons serviços aos seus passageiros.
Não perdemos tempo e na primeira oportunidade da manhã seguinte fomos direto ao principal destino: “Golden Temple” ou Templo de Ouro. Construído em 1604, este fabuloso templo Sikh é composto por uma gigantesca construção quadrangular, cujo centro há uma grande “lagoa/piscina” de águas cristalinas, com lindas carpas, para banhos de purificação. No interior desta lagoa há uma outra linda construção sagrada, cujos andares superiores estão cobertos de ouro. Há quatro grandes entradas para o templo, que simbolizam a abertura dos Sikhs para todos os povos e religiões. Os quarteirões que circundam o Golden Temple são bloqueados para veículos e as ruas são repletas de peregrinos e comerciantes. Há muitos restaurantes, mas todos estão impedidos de vender alimentos que contenham qualquer tipo de carne ou ovo, bem como bebida alcoólica.
Vale aqui uma menção especial ao Sikhismo, religião totalmente ignorada por nós até começarmos a ler a respeito da Índia, mas acima de tudo após visitarmos seus templos e convivermos com seus adeptos. O Sikhismo é uma religião monoteísta fundada no século 15 pelo guru Nanak. Ele ficou desaparecido por alguns dias, chegando a ser considerado morto, quando então retornou de um período de meditação e pronunciou sua célebre frase: “Não há hindus, não há muçulmanos”, pregando, assim, a superação das diferenças e a irmandade. Há muitas distinções, dogmas e filosofia no Sikhismo, como toda religião, mas relataremos alguns dos aspectos que mais nos chamaram a atenção.
Os ensinamentos Sikhs enfatizam o princípio da igualdade entre todos os seres humanos e rejeitam a descriminação com base em casta, credo ou gênero. E olha que estamos falando de uma religião fundada há mais de meio século, sendo assim, a frente de seu tempo, tanto para os padrões orientais como acidentais. Segundo o Sikhismo, Deus (sem forma ou gênero) está onipresente em toda a criação. O guru Nanak destacou que Deus deve ser visto a partir do “olho interior” e seus devotos devem meditar para progredir em direção à iluminação, não havendo céu ou inferno, mas uma união espiritual com Ele. O devoto deve procurar equilíbrio entre trabalho, culto e caridade, assim como defender os direitos de todas as criaturas. Eles são incentivados a serem resilientes e otimistas. Ensinamentos Sikhs também enfatizam o conceito de partilha, por meio da distribuição de alimentos, de doações à caridade, do trabalho em benefício da comunidade (seva) e da vida honesta. Não é difícil identificar um Sikh, com seus cabelos grandes e barbas, usam sempre elegantes turbantes.
Visitamos inúmeros templos em toda a Índia, mas o Golden Temple é muito singular e especial. Não há restrição de qualquer natureza, cobrança de entrada, pedido de colaboração financeira ou qualquer outro desconforto. Pelo contrário, há profunda hospitalidade e simpatia de todos. Ouvimos dizer que este local é o mais visitado de toda a Índia, superando inclusive o Taj Mahal. Todos os serviços oferecidos pelo templo são gratuitos, por exemplo as cabines para guardar calçados, banheiros higienizados, refeições, hospedagem etc. Tudo é muito limpo, suave e harmonioso, transmitindo uma profunda paz e acolhimento. Caminhamos muito e observamos os vários pontos sagrados, como as árvores e os pontos onde as escrituras sagradas (1430 páginas) são lidas ininterruptamente há mais de 400 anos. Dá para imaginar a força de um lugar como esse? Não por menos, dedicamos horas a este templo, inclusive retornamos à noite para mais algumas horas de meditação e contemplação.
Nosso estadia em Amritsar foi encerrada pela visita à fronteira entre Índia e o Paquistão (Atari-Wagah), onde ocorre uma cerimônia diária de fechamento dos portões e brusco aperto de mãos, com uma vibrante torcida organizada dos dois lados. Muito curioso esta rivalidade entre estes dois países que, não muito tempo atrás, eram uma coisa só. Curioso agora, mas se resgatarmos os fatos que sucederam à independência da Índia (1947), veremos uma sequência de tragédias. Neste período e região foi criada uma linha divisória, originando-se repentinamente dois países de religiões diferentes, a qual deu causa ao maior êxodo humano da história. Os muçulmanos se mudaram para o recém criado Paquistão e os hindus e sikhs se deslocaram à nova Índia. Esta migração foi marcada por bárbaros atos de violência, resultando na migração forçada de mais de 10 milhões de pessoas e no assassinato de mais de 250.000 pessoas.
Como já estávamos muito próximos das montanhas, não perdemos a grande oportunidade de realizar mais um sonho, visitar o refúgio do Dalai Lama na Índia, na cidade de Dharamsala, mais precisamente o vilarejo de McLeod Ganj, encravado nas montanhas. Chegar e sair de lá não foi uma tarefa fácil, uma mistura de apreensão, diante das estradas sinuosas e direção temerária dos motoristas, com deslumbramento diante das paisagens que se revelavam a nossa frente. Estávamos a caminho do Himalaia, a maior cordilheira do planeta, com seus lindos picos congelados. Até aqui visitamos templos e locais de peregrinação das religiões Hinduísmo, Jainismo e Sikhismo. Era chegada a hora de nos conectarmos com o budismo tibetano e conhecer o lar do ilustre Tenzin Gyatso, Sua Santidade o 14º e atual Dalai Lama.
Mal chegamos ao charmoso vilarejo montanhês já estávamos totalmente à vontade e encantados por ele. As estreitas ruas da pequena McLeod Ganj estavam repletas de monges, refugiados tibetanos, turistas de todo mundo e indianos nativos. O vilarejo se limita a uma pequena praça de onde saem quatro ou cinco ruelas. É evidente a força do turismo na região. Há anúncios por todo local, oferecendo cursos de yoga, meditação, aulas de inglês, cursos de culinária, locação de quartos e casas, hospedagem, restaurantes, cafés, manifestos, ativismo político em prol da independência do Tibet e por ai vai. Muitos ocidentais vem para esse refúgio e aqui permanecem por meses. A exemplo disso, conhecemos um simpático casal, Steban e Veronica, que iria se instalar em McLeod Ganj por meses. Ele é argentino e chef de cozinha, ela sueca cuja profissão não me recordo. Ela estava grávida de poucos meses. Veronica e Karina tiveram longa e agradável conversa, enquanto eu e Steban caminhávamos pelas ladeiras do vilarejo a procura de hospedagem. Eles visitam a Índia há 8 anos, fugindo do período mais crítico de frio da Suécia.
Os monges tibetanos são as estrelas do local, o que flagrantemente gera um certo ciúmes dos hindus nativos. Eles são facilmente identificados, seja pelo seus trajes laranjas, seja pelo amistoso sorriso. Nos cafés e restaurantes sempre há uma grupo de turistas interagindo com eles. Alguns gravando entrevistas, outros fazendo perguntas, mas todos desfrutando da paz e alegria deste povo simpático e amoroso. Também os vimos tomando banho e lavando suas roupas no gélido rio local. Subimos uma deliciosa trilha em busca de uma cachoeira próxima. Tomei coragem, respirei fundo e entrei na congelante água de degelo, juntamente com um indiano que estava morrendo de medo de entrar na água. Senti como se centenas de facas entrassem em meu corpo, mas ao mesmo tempo uma limpeza profunda da alma. Sempre que estamos num local especial como este, reservamos um momento para meditar e enviar energias positivas para família e amigos, e desejar paz para toda humanidade.
Quando retornávamos desta cachoeira, um monge nos parou sugerindo, num tom jocoso, que trocássemos os óculos com ele (nosso de sol e o dele de grau). Demos risada e subitamente ele me pediu para tocar minha barba. Eu institivamente concordei e logo estávamos diante de uma cena inusitada, um monge deslizando sua mão em minha barba com ar de satisfação. De imediato recordei de uma passagem do livro “Laowai”, escrito pela Sonia Bridi, na qual ela relata que os chineses ficavam fascinados com a barba e com os pelos no peito do seu marido. Eu disse ao monge que também tinha pelo no peito e ele também quis tocá-los. A Karina, numa mistura de espanto e humor, dava risada da situação. Por mais absurda que esta imagem possa lhe parecer num primeiro instante, a espontaneidade e a pureza daquele senhor libera qualquer malícia deste divertido momento. Imagine o sucesso que o Toni Ramos não faria nestas bandas!
Já que estávamos nas montanhas aproveitamos para fazer o primeiro grande teste ao nosso condicionamento físico, especialmente para o joelho operado da Karina. Digo teste porque temos as montanhas do Nepal em nosso roteiro. Procuramos uma trilha de um dia, com intensidade média/alta. Enfrentamos 9 quilômetros de subida íngreme, partindo de uma altitude de aproximadamente 1.800 metros, chegando a 2.975 metros. Foi uma subida árdua, mais difícil do que imaginávamos. Caminhamos em aclive durante quatro longas horas, com a imprescindível ajuda dos bastões de caminhada. Os quarenta minutos finais, já sentindo os efeitos da altitude, foram trilhados sobre a neve espessa, dificultando ainda mais o desafio. Nosso guia de montanha foi fundamental neste momento. Por outro lado, bastava alguns minutos de parada para recuperar o fôlego, baixar o batimento cardíaco e observar a deslumbrante paisagem que o vigor surgia e a caminhada era retomada. Não podemos deixar de reconhecer a importância e companhia de dois simpáticos cachorros, os quais surgiram na trilha e nos acompanharam até o topo. Pareciam dois anjos enviados para nos acompanhar e incentivar, com seus olhares dóceis e pidões.
Não é preciso dizer que o visual do cume, com vistas para os dois lados da montanha, era deslumbrante, de um lado avistávamos o vilarejo McLeod, mais abaixo a cidade de Dharamsala e um grande vale à frente. Já do outro lado, tínhamos uma ideia clara de outra montanha mais alta e de outras que cresciam sucessivamente até a altitude superiores a 8.000 metros. Ficamos extasiados observando aquela paisagem, aguardando nosso almoço, o melhor miojo de nossas vidas. A despeito do que muitos pensam, descer não é fácil. Os músculos estão fadigados e as dores são intensas. A impressão é que descer é mais dolorido que subir. Foram mais 4 horas de descida para percorrer os 9 km de volta, nosso paciente guia nos acompanhou durante todo o percurso. A Karina vibrou de alegria por ter superado o desafio, especialmente porque seu joelho resistiu bravamente àquela provação. Fomos comemorar com um jantar maravilhoso. Apreciamos os famosos “momos” da culinária tibetana. Aliás, todos os dias em McLeod nos deliciamos com a saborosa mistura da culinária indiana e tibetana.
Naquele mesmo dia houve um terrível acidente na principal praça do vilarejo. Explodiu algo no terceiro andar de um prédio, vindo a baixo um pedaço de concreto que atingiu fatalmente uma tibetana que caminhava com sua filha ao retornar da escolinha. Nós havíamos passado pelo exato local do acidente mais de uma vez, levando-nos a refletir que poderíamos ter sido nós as vítimas daquele incidente mortal. Não há como não concluir o quão ténue é a linha divisória entre a vida e a morte. Enquanto observávamos o tumulto na praça, uma tibetana puxou uma conversa conosco, reclamando que os indianos locais não os tratam com respeito, que aquele acidente é resultado do descaso indiano, que os tibetanos não tem pátria, que eles não tem para quem reclamar, e assim por adiante, ratificando nossa impressão de que provavelmente haveria uma certa rivalidade entre refugiados e locais.
Nossa única frustração foi não ter encontrado o Dalai Lama. Ele estava em viagem pela Índia e nossas agendas não batiam. Visitamos os templos e o local onde está instalado o governo provisório tibetano no exílio. Presenciamos uma puja (cerimônia) em devoção às trágicas imolações (pessoas que ateiam fogo no próprio corpo em protesto) que vem ocorrendo no Tibet. Vimos muitas fotos chocantes destas imolações.
Por séculos, o Tibet, uma região isolada e inóspita, foi governado por uma linhagem de líderes políticos espirituais, os quais se declaravam Região Autônoma do Tibete. Em 1950 a China invadiu o Tibet, conduzindo uma feroz batalha. Em 1959, a oposição tibetana foi derrotada e o 14° Dalai Lama, líder espiritual e político tibetano, fugiu, juntamente com um grupo de líderes tibetanos, para a Índia, onde instalou o Governo do Tibete no Exílio em Dharamsala. Quem assistiu o famoso filme “Sete Anos no Tibet” se lembrará dessa passagem. Os anos que sucederam esta invasão foram marcados pela intensa perseguição e violência a qualquer manifestação contrária à presença chinesa. Centenas de templos foram destruídos. Houve sérias violações aos direitos humanos e uma triste política de genocídio cultural. As imolações são uma medida desesperada de um povo que se vê tolhido de sua liberdade, seu líder espiritual, seus hábitos e costumes, enfim, gradualmente vem perdendo sua identidade.
Partimos de Dharamsala com coração apertado, com desejo de ficar mais tempo, mas era preciso seguir adiante. Nosso próximo destino era a cidade de Rishkesh. Assim como Agra, também tínhamos muita expectativa em relação à Rishkesh, não porque lá encontraríamos uma grande obra ou algo do gênero, mas porque muitos amigos queridos enfatizavam a importância de passarmos por lá. Rishkesh é uma pequena cidade, localizado ao sopé do Himalaia e na beira do Rio Ganges, conhecida como a “porta para o Himalaia”. Seguindo os conselhos amigos fomos direto para o bairro Lakshman Jhula, região onde se concentram dezenas, ou talvez centenas, de Asharams, inclusive o Sachcha Dham Ashram, onde fica o Prem Baba.
Quase que não encontramos hospedagem por conta do Festival Internacional de Yoga e início da alta temporada na região. Quando o sul da Índia começa a esquentar e se aproximar da época das monções, o norte do país enche de turistas indianos e estrangeiros. Mas novamente as “sincronicidades” operaram e ficamos muito bem hospedados ao lado da principal ponte. Dias depois descobrimos que naquele hotel Prem Baba se hospedou por anos até se instalar no Asharam.
Vivemos dias maravilhosos em Rishkesh, de muito relaxamento, meditação e diversão, por isso descreveremos apenas alguns momentos especiais. Coincidência ou não todas as vezes em que chegamos numa cidade sagrada, nos primeiros dias sentimos um sono danado. Como vínhamos de dias de fortes caminhadas, decidimos respeitar nosso corpo e dormir muito. Não tinha hora para tirar um cochilo. Dormir cedo, acordar tarde, soneca à tarde ... ai que sono. Você deve estar pensando: “que vidão, hein”. Sim, os primeiros dias foram de pura preguiça e relaxamento. Logo retomamos nosso ritmo e partimos para desvendar Rishkesh. Caminhamos muito, conhecemos pessoas agradáveis, visitamos grutas, tomamos banho de cachoeira, mergulhamos no Ganges (limpo e gelado), fizemos rafting, visitamos templos e Asharams e desfrutamos da deliciosa culinária indiana.
Rishkesh tem um astral sensacional, além de ser uma cidade sagrada para o hinduísmo e objeto de peregrinações, há uma expressiva comunidade internacional vivendo por lá em torno de famosos gurus espirituais. Pessoas de todo mundo vem vão a Rishkesh de passagem, mas acabam se sentindo tocados e decidem mudar radicalmente suas vidas, muitos se estabelecendo por lá definitivamente. Não é por menos, a paisagem é inspiradora, as pessoas dóceis e solícitas, a espiritualidade é latente, enfim, um outro paradigma de mundo, no qual a conexão com as pessoas e o divino é a prioridade. Até mesmos os Beatles se instalaram em Rishkesh, onde meditaram e compuseram músicas famosas.
Certo dia no café da manhã conhecemos um brasileiro, com quem falamos rapidamente, pois ele estava a caminho de um Asharam para participar de um Satsang (encontro) com o guru Mooji. Na manhã seguinte, também durante o café da manhã, conhecemos uma brasileira que nos recomendou participar do satsang do Mooji. Estas “coincidências” já eram suficientes para nos levaram ao tal Mooji. Não foi fácil chegar o dito Asharam, mas lá chegamos e já nos sentimos acolhidos por todos. Mooji dispensava os rituais que vimos anteriormente em outros Satsangs e ia direto ao ponto, abrindo o microfone para quem quisesse perguntar algo a ele. Suas palavras simples, diretas e persuasivas nos atingiram profundamente. Permanecemos por horas ouvindo atentamente aquele homem, cuja sabedoria e amorosidade emanava de todos seus gestos e palavras.
Ele discorreu sobre a importância do viver o momento, limpar a mente. “Todos os sentimentos negativos como dor, mágoa, ansiedade, desatenção, (...), são oriundos da desconexão com o agora. São falsas identificações de nós mesmos. Não há porque dar energia para estes sentimentos, eles são como as ondas do mar quem vem e vão. Sugere que permaneçamos com meros observadores, alheios a elas. Estes pensamentos e sentimentos nos incomodam porque damos atenção, energia a eles. Devemos ‘queimar’ todas estas ilusões e apegos, não criar identidade com elas. Nossa verdadeira essência está além de tudo isso. Há coisas mais importantes para se dedicar, coisas que estão neste exato momento, não a um segundo atrás ou daqui a pouco. Não há porque adiar a felicidade. Nem mesmo o maior vendedor do mundo pode nos vender alguma coisa que se não desejarmos comprá-la. A nossa mente é um grande vendedor, não compre essas falsas ideias de si mesmo, apenas observe e se conecte com o momento presente. Não há nada a ser feito, nada irá acontecer para se chegar ‘lá’, o ‘lá’ é aqui e agora, este é o momento de se iluminar, amar e ser feliz.”
Ouvimos as mais diversas perguntas e nos deleitávamos com as respostas. Aquele homem tomava situações cabeludas e as iluminava com respostas diretas e simples. Sentimos que estávamos realmente diante de um ser especial, um verdadeiro guru. Não é preciso dizer que retornamos no dia seguinte para ouvi-lo novamente. Ouvimos não somente com a mente, mas com o coração e, assim como todos os presentes, emocionamo-nos com mais um lindo Satsang. Ao final, Mooji fazia questão de abraçar todas pessoas enquanto se retirava do enorme salão, muitas vezes jogando pétalas sobre suas cabeças. Como ressaltou a Karina “um fofo”.
Nossa última aventura em Rishkesh foi um rafting. Estávamos negociando o preço com uma agência local quando surgiu um casal de alemães afirmando que também desejava fazer o rafting. Aproveitei o ensejo para tentar baixar o preço, haja vista que em tese mais uma ou duas pessoas embarcariam no mesmo barco. Quando questionados a respeito de sua idade, Hanz respondeu que tinha 75 anos, mas que na verdade quem iria fazer o rafting era sua esposa Ann de 72 anos. A empresa de rafting descartou essa possibilidade, afirmando que Ann não tinha idade para aquele esporte, que a política da empresa permite no máximo 65 anos. Indignada, Ann argumentou que tinha total condições, que nadava diariamente há mais de 50 anos. Entrei na conversa no sentido de entender a razão da restrição e acabei ajudando Ann a convencê-los a aceitá-la.
O casal era adorável. Daí se iniciou uma amizade que esperamos se perpetuar. Eles são diferentes um do outro, ela aventureira e arrojada, enquanto ele é medroso e conservador, mas ambos engraçados e carinhosos um com outro. Foi para nós uma prova viva de que o amor pode perdurar por décadas a fio, com a mesma jovialidade do início. Sim, embora a idade seja avançada, a melhor forma de definir estes dois é jovialidade de espírito. Riam de tudo, entusiasmavam-se, eram curiosos e ávidos por novas experiências, apoiavam um ao outro e sabiam respeitar seus limites. Ann desceu firme o rio conosco e não se abalou nos pontos onde o bote chacoalhava e a água chorrava por cima do bote, por pouco não nos derrubando. Passado o sufoco, ela, toda ensopada, dava gargalhadas enquanto eu a filmava com uma câmera a prova d’agua. Naquele noite jantamos juntos, trocamos fotos e filmagens, e prometemos que nos reencontraríamos em breve. Eles nos convidaram a visitá-los na Alemanha ou na Grécia onde eles tem uma casa na ilha de Ítaca. Nada mal!
Namastê!
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