Muitos criticam, com razão, a massificação do Everest, onde a cada ano cerca de 650 pessoas chegam ao cume da montanha mais alta do mundo, provocando filas enormes em um período de duas semanas no mês de maio. No entanto, pouco se fala das 446.000 pessoas que percorreram os Caminhos de Santiago de Compostela em 2023. Praticamente meio milhão de pessoas em um caminho com poucas variantes. Isso é assustador.
Existem centenas de trilhas pelo mundo que proporcionam um contato mais genuíno na natureza, mas as pessoas preferem percorrer um caminho que, na maior parte do tempo, passa por trechos asfaltados e estradas de terra.
De todas as variantes, o Caminho Francês continua sendo o mais popular, com quase 220 mil caminhantes em 2023. No entanto, o Caminho Português (mais de 88 mil) e a variante do Caminho Português da Costa (mais de 52 mil) seguem crescendo em popularidade.
Em média, 1.650 pessoas percorrem os Caminhos todos os dias. Se isolarmos apenas o Caminho Francês, são 814 pessoas todos os dias, durante nove meses (270 dias). É muito mais do que um Everest por dia. Isso não é saudável nem ambientalmente correto. O que essas pessoas estão fazendo?
Qual o motivo desse êxodo? Falta de cultura de trilha? Falta de cultura de montanha? Modismo? Influencers? Me surpreende como, a cada ano, o Caminho de Santiago de Compostela se massifica cada vez mais. Essa é uma verdade dura, porém necessária, de ser dita.
Principais Críticas ao Caminho de Santiago de Compostela
O Caminho de Santiago de Compostela, apesar de ser amplamente celebrado e apreciado, também enfrenta várias críticas. As principais incluem:
1. Massificação e Turistificação
Excesso de Peregrinos: A popularidade crescente do Caminho leva a um número excessivo de peregrinos, especialmente nos meses de pico, criando congestionamentos e diminuindo a experiência de tranquilidade e reflexão.
Turistificação: A presença de "peregrinos influencers" e turistas que fazem o caminho mais como uma experiência de moda do que por motivos espirituais ou pessoais é uma preocupação. Isso dilui o sentido tradicional e espiritual do Caminho.
2. Impacto Ambiental
Desgaste do Terreno: O tráfego constante de peregrinos leva ao desgaste dos caminhos, causando erosão e danos ao meio ambiente.
Lixo e Poluição: A grande quantidade de caminhantes resulta em lixo deixado ao longo do percurso, prejudicando as áreas naturais e urbanas.
3. Infraestrutura e Comercialização
Comercialização Excessiva: A crescente comercialização ao longo do Caminho, com lojas de souvenirs, albergues e restaurantes, faz com que a experiência pareça menos autêntica e mais voltada para o lucro.
Infraestrutura Insuficiente: Em algumas áreas, a infraestrutura não acompanha o aumento do número de peregrinos, resultando em superlotação de albergues e serviços inadequados.
4. Segurança e Saúde
Segurança: O aumento do número de peregrinos leva a preocupações com a segurança, incluindo furtos e acidentes em áreas mais movimentadas.
Saúde: A superlotação cria condições insalubres, especialmente em albergues, onde a proximidade facilita a disseminação de doenças.
5. Autenticidade da Experiência
Perda de Espiritualidade: Alguns críticos argumentam que o Caminho está perdendo seu caráter espiritual e introspectivo, transformando-se mais em uma atividade turística.
Homogeneização Cultural: A padronização dos serviços e a presença de grandes cadeias comerciais diminuem a autenticidade cultural do percurso.
6. Gestão e Manutenção
Manutenção dos Caminhos: A necessidade constante de manutenção e melhorias nos caminhos é um desafio para as autoridades locais, especialmente em áreas remotas.
Coordenação entre Regiões: A falta de coordenação entre as diferentes regiões e países pelos quais o Caminho passa resulta em inconsistências na qualidade e na gestão das rotas.
7. Conflitos entre Peregrinos e Locais
Relações com os Locais: O grande número de peregrinos causa tensão com os residentes locais, que sentem que suas comunidades estão sendo invadidas e que seus modos de vida estão sendo alterados.
Essas críticas refletem os desafios e complexidades de manter o Caminho de Santiago como uma rota significativa e sustentável, equilibrando a crescente popularidade com a preservação de sua essência e impacto positivo.
Você é um peregrino?
Qual a sua visão geral do caminho diante destas críticas?