Os belgas Nico Favresse, Sean Villanueva e Siebe Vanhee, juntamente com o fotógrafo americano Drew Smith, realizaram a primeira escalada livre de Riders on the Storm (1.200 m, 7c+) na Torre Central do Paine (Patagônia chilena). Esta escalada histórica resolve um desafio há muito cobiçado por muitos escaladores de elite desde que Kurt Albert, Wolfgang Güllich, Bernd Arnold, Norbert Bätz e Peter Dittrich abriram a rota em 1991.
Enquanto os pioneiros gastaram 15 dias na parede, o trio belga e o fotógrafo americano passaram 18 dias pendurados na face leste da Torre Central do Paine. Nico Favresse, Sean Villanueva e Siebe Vanhee realizaram a ascensão em estilo cápsula, alternando-se na liderança ao longo dos 41 lances que compõem o desafio.
"Se a via se chama Riders on the Storm, é por uma razão", comentaram os belgas em um comunicado conjunto após a ascensão. Além da dificuldade e da magnitude do projeto, as condições tipicamente patagônicas são o elemento distintivo desta via.
A expedição entrou no Parque Nacional Torres del Paine em 15 de janeiro, carregando grandes sacos de comida e material de escalada, garantindo autonomia para um mês. Acamparam no Campo Torres, na base da parede, à espera de sua chance. Nos primeiros nove dias, conseguiram escalar apenas um dia e meio, o suficiente para alcançar o pilar do L13.
Uma breve janela de bom tempo, em 24 de janeiro, permitiu-lhes iniciar a ascensão livre. Naquela tarde, logo após montarem suas redes na parede e içarem os sacos, a primeira de várias tempestades atingiu.
A principal incerteza da aventura estava no L16, onde Ines Papert e Mayan Smith-Gobat abriram e equiparam em 2016 uma variante que permitiria a escalada livre onde a rota original apresentava a única seção de artificial ainda não liberada. Nos dias seguintes, Nico Favresse, Sean Villanueva e Siebe Vanhee dedicaram-se a essa tarefa e conseguiram superar o trecho, avaliando sua dificuldade em 7c+.
Após seis dias de escalada, já estavam na R26, abaixo do Teto Rosendach, calculando que poderiam alcançar o cume em um dia. No entanto, o tempo piorou naquele momento, e suas tentativas ao longo de uma semana foram frustradas por temperaturas congelantes e gelo cobrindo a rocha, além de fortes rajadas de vento.
Finalmente, tiveram a oportunidade de continuar no 14º dia de ascensão, quando superaram o teto e prosseguiram para cima. Naquela noite, restavam apenas seis lances acessíveis para sair por cima. Novamente, as condições tornaram-se adversas, com frequentes deslizamentos de neve e pequenas avalanches caindo sobre suas redes. Tiveram que esperar mais dois dias antes de finalmente progredir até o cume, em 9 de fevereiro.
Missão cumprida
"Cada vez que escalo essa parede, lembro-me do quão masoquista é escalar aqui em livre", disse Nico Favresse ao concluir. Os belgas conhecem bem a face leste da Torre Central do Paine. Nico Favresse e Sean Villanueva já haviam escalado Riders on the Storm em 2006, com Mike Lecomte e Olivier Favresse, enquanto Siebe Vanhee tentou a liberação em 2023 com Brette Harrington e Jacopo Larcher. Além disso, os três completaram a liberação de El regalo de Mwono (1.300 m, 8a+), via localizada logo à direita de Riders on the Storm, em 2017.
Escalada Estilo Cápsula
O estilo cápsula significa muitas coisas, mas é basicamente uma variação da escalada em estilo alpino, que, ao invés de acampamentos minimalistas improvisados, eleva uma versão do acampamento alto. Isso permite um refúgio de segurança para o qual se pode recuar, eliminando a necessidade de um retorno completo ao campo base (BC), e, quando bem executado, provavelmente apresenta o perfil mais eficiente em relação ao risco. Diferente da escalada em estilo alpino puro, que possui muito pouca margem para imprevistos e deixa uma pegada muito pequena, o estilo cápsula permite que os escaladores de fato vivam na rota, possibilitando, assim, uma escalada em um nível superior devido à maior capacidade de recuperação.
Escalada Livre
A escalada em livre, também conhecida como "free climbing" em inglês, é uma modalidade de escalada onde o escalador utiliza apenas as suas mãos e pés para progredir pela rocha ou parede de escalada. O equipamento de segurança, como cordas, mosquetões e proteções, é usado apenas para prevenir uma queda, não para auxiliar na ascensão. Diferentemente da escalada artificial, na qual dispositivos como estribos são utilizados para subir, na escalada em livre o desempenho do escalador depende exclusivamente de sua habilidade física e técnica.
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