Detesto ter que lidar com isso. Detesto! Porém, como editor do principal portal de aventura do Brasil, ocasionalmente essa responsabilidade cai em minhas mãos e não posso deixar nosso público desamparado.
Recebi mensagens informando que um "aventureiro" lançou anos atrás uma campanha de financiamento coletivo com a promessa de entregar um livro ao final de sua jornada. No entanto, quase três anos se passaram e ele sempre apresenta a mesma desculpa de que está finalizando. A última justificativa foi há dois anos.
Como escritor e editor de meus próprios livros, compreendo que pequenos atrasos são naturais, seja devido à finalização do texto ou a problemas na gráfica. Meu primeiro livro, "Tour du Mont Blanc: Em Busca de Emelie", atrasou 8 meses. Isso ocorreu porque, na primeira versão, não havia concluído a trilha, resultando em um desfecho fraco. Durante esses 8 meses, retornei à trilha, finalizei-a, reescrevi partes do livro, editei e, além disso, enfrentei problemas com a impressão em duas gráficas diferentes. Somente na terceira gráfica, a qualidade da impressão ficou boa. Até hoje, continuo utilizando essa gráfica para imprimir meus novos livros.
Compreendo os desafios da vida de escritor independente, mas três anos de atraso e dois anos sem comunicação com os leitores que pagaram adiantado não me parecem justos.
Infelizmente, esse não é um caso isolado. Uma "aventureira" está seis anos atrasada na entrega de seu livro, também financiado coletivamente.
Essas situações mancham nosso segmento e prejudicam as pessoas sérias que lançam campanhas e dependem delas para concretizar seus livros ou projetos. Os internautas ficam receosos se receberão o que foi prometido.
É desconcertante quando recebo propostas de apoio para expedições, onde uma das promessas de entrega é o lançamento de um livro sobre a aventura. Será que essa pessoa é realmente uma escritora? Ela compreende todas as burocracias envolvidas em lançar um livro? Ela sabe o que é escrever um livro?
Muitas vezes, essas pessoas recorrem a terceiros para publicar seus livros. Contratam jornalistas para colocar no papel a história que desejam narrar. Essa solução é válida e justa, desde que informem isso desde o início. No entanto, publicar um livro por meio de terceiros não faz de você um escritor. As impressões presentes no livro serão a visão e o estilo do jornalista, nunca do aventureiro. Portanto, não espere ler um livro assim e achar que está conhecendo a alma do aventureiro.
Também existem os Ghost Writers (escritores fantasmas), onde o aventureiro paga para um escritor escrever o livro, e o nome deste nunca é mencionado. Dessa forma, o aventureiro fica com a fama de ser o autor. Essa prática é comum.
Alguns anos atrás, criei uma frase de efeito que acabei não divulgando, pois algumas pessoas poderiam não gostar. No entanto, a frase pode ter diversas interpretações, dependendo de quem a lê:
Vivemos em uma geração em que é mais fácil escalar o Everest do que escrever um livro!
Eu acredito que as partes envolvidas deveriam conversar e tentar chegar a um acordo. Negociar é essencial. Talvez, no mínimo, poderiam disponibilizar um ebook ou PDF do livro, caso seus clientes concordem. O que não pode acontecer é ficar sem dar satisfações e continuar vivendo como se nada estivesse acontecendo.
Observação: Aos envolvidos, este espaço está aberto para que apresentem suas explicações, as quais terei prazer em publicar juntamente com este texto. Citei apenas dois casos que tenho conhecimento, mas com certeza devem existir outros casos.