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01.05.2025 - 14:21 San Diego | 18:21 Brasil
Última Cama Confortável Antes da PCT
Eu olho para o aplicativo no meu celular, e ele me diz que faltam só seis dias para começar a Pacific Crest Trail. Seis dias até eu colocar os pés na trilha que vai me levar do México ao Canadá. Reservei um voo para San Diego, onde quero passar uns dias antes de tudo começar. Quero sentir o calor da Califórnia, caminhar na praia, comer tacos mexicanos e tomar uma margarita gelada. Mas, mais que isso, preciso de um tempo para me despedir da minha vida normal, como se estivesse virando a última página de um capítulo antes de começar outro. Só de pensar nisso, sinto um frio na barriga. Será que estou mesmo pronta?
Em Washington, onde moro, o tempo está tão confuso quanto eu. Dias de sol deram lugar à chuva, e faltando cinco dias, recebi uma notícia que me derrubou: minha amiga, que ia começar a trilha comigo, não vai mais por motivos pessoais. Aquele pedacinho de segurança que eu sentia por ter alguém conhecido ao meu lado sumiu. Eu sempre soube que essa caminhada era minha, que seria eu contra mim mesma. Mas ter um rosto familiar me dava um conforto que agora não existe mais. Escrever isso é tão pessoal, mas colocar no papel me ajuda a lidar com o medo. Não posso ser a única me sentindo assim, certo? E se eu não fizer amigos? E se ninguém gostar de mim? E se eu não estiver preparada?
Cheguei a San Diego três dias antes do início, exausta depois de uma noite sem dormir e um voo cedinho de Seattle. Estou hospedada num hotel na Old Town, com uma cama macia e uma TV que me fazem sentir que ainda estou na vida de antes. Mas, para ser honesta, me sinto meio entorpecida, como se nada fosse real ainda. Talvez seja porque estou num lugar familiar, com roupas limpas e um teto. Só que estou sozinha. No café da manhã, vi um cara que parecia um trilheiro — magro, talvez na casa dos 50, asiático. Algo nele gritava PCT, mas ele estava com roupas normais. Fiquei na dúvida, mas não perguntei. Não quis passar vergonha.
No dia seguinte, San Diego começou a me ganhar. Fui até La Jolla Cove, onde o mar brilhava, e passei a tarde na praia, sentindo a areia quente nos pés. Comi tacos incríveis e tomei uma margarita que me fez sorrir. De volta ao hotel, encarei minha mochila. Quando tentei levantá-la, quase caí. “É assim que a Cheryl Strayed se sentiu?”, pensei, rindo sozinha, embora o peso me lembrasse que a trilha não vai ser fácil. Organizei minha comida e equipamentos, tentando ignorar a ansiedade que voltava. Ainda sinto um vazio, como se uma parte de mim não acreditasse que estou tão perto de começar.
Na véspera do grande dia, sinto como se estivesse entre dois mundos. É minha última noite numa cama de verdade, e estou limpa, suspensa entre a Myllene de antes e a que está prestes a nascer. No café da manhã, o mesmo cara do dia anterior estava lá, e algo nele ainda me dizia “trilheiro”. Horas depois, no ponto de embarque do transporte, lá estava ele. Sorri, meio sem jeito, e percebi que trilheiros se reconhecem, mesmo sem falar. No transporte, éramos sete: duas tchecas, uma alemã, uma texana, um americano, o cara japonês e o motorista, que também é trilheiro. Na REI, coloquei alfinetes no mapa — um para Washington, outro para o Brasil. Meus olhos marejaram. Era como se eu estivesse marcando quem sou antes de me transformar.
O primeiro dia na trilha começou com panquecas e café no CLEEF, uma despedida perfeita. Eu e a alemã que conheci no transporte tiramos fotos no monumento que marca o início da PCT e começamos a caminhar rumo ao norte. Planejamos 15 milhas, e, meu Deus, foi difícil. O calor do deserto é cruel, e minha mochila, que ainda não ajustei direito, parece querer me esmagar. Mas o deserto… ele é lindo. Flores roxas espalhadas pelo chão, o ar vivo, o cheiro diferente. Estou apaixonada. Passamos por uma cascavel enroscada numa pedra e nem vimos — duas trilheiras atrás de nós mostraram a foto. Fiquei entre aliviada e assustada, mas agora olho cada pedra com atenção.
Agora, no fim do primeiro dia, estou exausta. Montei minha barraca, jantei e, com uma dorzinha de cabeça, me enfiei aqui às 19:30. Lá fora, ouço pássaros, e o ar está tão parado que parece que o mundo está prendendo o fôlego. Deitada, sinto uma coisa que não esperava: estou exatamente onde deveria estar. A trilha é assustadora, mas também é minha. Não sei o que vem pela frente, mas, pela primeira vez, sinto que posso descobrir.
“A trilha vai te ensinar quem você é. Mas só se você deixar.”
Elias Luiz possui um estilo de escrita singular, proporcionando aos leitores a sensação de fazerem parte da aventura enquanto percorrem as páginas do livro. Repleto de reflexões sobre a vida moderna e superação, apresentando a experiência única de viver um grande aventura em meio à natureza. As obras são enriquecidas com fotos e mapas que estimulam a imaginação do leitor. É impossível mergulhar na leitura sem sentir o desejo de colocar uma mochila nas costas e vivenciar sua própria jornada. Boa leitura e boas aventuras!
Elias Luiz percorreu trilhas de longa distância em Bariloche, diversos roteiros em El Chaltén, o magnífico Circuito O em Torres del Paine e o Circuito Dientes de Navarino em Puerto Williams.
O trekking ao Campo Base do Everest é a trilha mais desejada por todo aventureiro e Elias Luiz relata a sua grande jornada pelo Nepal e também pelo Tibet, passando pela face norte.
A Great Divide Trail, com seus 1.100 km é uma das trilhas mais inóspitas, difíceis e bonitas do planeta. Embarque junto com Elias Luiz e Daiane Luise nessa aventura repleta de ursos.
Você está prestes a conhecer uma das regiões mais selvagens da Europa, na Lapônia, acima do Círculo Polar Ártico, repleta de ursos, lobos, renas e a magistral Aurora Boreal.
Para você que sonha em colocar a mochila nas costas e fazer uma viagem de aventura, este livro será uma grande inspiração. Elias Luiz narra a sua aventura pelos Alpes.
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Se você sonha em fazer uma caminhada de longa distância, aproveite o roteiro oferecido por Elias Luiz, onde ele refaz a trilha original do seu livro Tour du Mont Blanc. Serão 170 km em 11 dias de caminhada e dias de descanso na charmosa Chamonix e em Courmayeur. Viva essa experiência!
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