Em um mundo acelerado, onde as notificações digitais nunca cessam, existe uma velocidade quase esquecida, uma marcha rítmica que ressoa com a pulsação da Terra. Esta velocidade é a da caminhada, especialmente aquela que nos leva por trilhas sinuosas e montanhas imponentes. É a velocidade de 4 km/h, isso quando estamos no plano, um ritmo que, embora modesto, abre as portas para a plenitude da vida. Quando o terreno se inclina e o peso de uma mochila se faz presente, essa velocidade cai para 2 km/h ou menos, mas é justamente nessa desaceleração que se descobre o verdadeiro significado de viver.
Longe das ruas e estradas, seja de asfalto ou terra, e do frenesi de carros, motos e bicicletas que persistem em seguir pelos mesmos caminhos conhecidos e seguros, opto por me integrar à natureza. Ao longo de centenas de quilômetros, almejo me tornar um com ela, mergulhando em seu ritmo e essência, afastando-me da pressa que tão frequentemente define nossa vida cotidiana.
Como escritor de expedições, especializado em narrativas de travessias de longas distâncias pelas montanhas, aprendi que desacelerar é essencial. Não é apenas uma questão de física, mas um profundo exercício de introspecção e conexão com o mundo ao redor. Ao ajustar o passo ao ritmo da vida, o caminhar torna-se uma meditação, cada respiração um diálogo silencioso com a natureza e o seu eu interior.
Ao caminhar nesse ritmo, um passo de cada vez, a mente se liberta das amarras do cotidiano. O barulho do mundo dá lugar ao sussurro do vento nas folhas, ao canto dos pássaros, ao murmúrio dos riachos e até ao inesperado banho de chuva. A natureza se comunica em uma linguagem sem palavras, expressando-se através de sensações, cores e aromas. É neste diálogo não verbal que, muitas vezes, descobrimos respostas para perguntas que nem sequer saber que tínhamos.
Desacelerar permite também uma observação mais atenta dos detalhes - a textura de uma folha, o padrão de musgo em uma rocha, a variação de tons no céu ao entardecer. Esses elementos, que a uma velocidade maior passariam despercebidos, enriquecem a experiência de estar vivo, de fazer parte de algo maior que nós mesmos.
A experiência de conviver com caminhantes de diversas partes do mundo e com os moradores de pequenos vilarejos também representa uma imersão em um mundo que simplesmente não se encontra nas grandes cidades.
Para o escritor de expedições, cada jornada é também uma viagem interior. As montanhas, com seus desafios e belezas, funcionam como metáforas para os obstáculos e maravilhas da vida. Escrever sobre essas experiências é um processo de destilação, onde as horas de caminhada se transformam em palavras que buscam capturar a essência do vivido. É um ofício que exige paciência e sensibilidade, qualidades cultivadas no ritmo lento e constante da caminhada.
Caminhar na natureza, na "velocidade da vida", é uma prática que nos ensina sobre resiliência, humildade e admiração. Nos ensina a valorizar o momento presente, a reconhecer nossa pequenez diante da vastidão do mundo e, ao mesmo tempo, a perceber a beleza sublime dos pequenos detalhes. É um lembrete de que a vida, em sua essência, não é uma corrida a ser vencida, mas uma jornada a ser apreciada, passo a passo, no ritmo que nos faz sentir verdadeiramente vivos.
PERGUNTA
Você também busca viver na velocidade da vida?