Pra quem acha que já alcançamos a igualdade de gênero, vou deixar minha opinião pessoal e um desabafo…
Esse texto não é originalmente meu, mas os fatos que ele menciona são inegáveis.
Desde o início do montanhismo, as mulheres foram colocadas em segundo plano, amplamente desencorajadas a participar e, quando conseguiam feitos notáveis, suas conquistas eram ocultadas ou minimizadas. Essa realidade se repete em diversas esferas dos esportes ao ar livre e na vida.
A escalada, dominada por homens, sempre teve uma abordagem e uma cultura esmagadoramente masculinas. Não por acaso, uma rota de nível iniciante era chamada, em gíria, de “um dia fácil para uma dama”.
Quando uma mulher alcançava o sucesso nas montanhas, sua força e habilidade raramente eram reconhecidas. Ou será que eu deveria falar disso no presente?
A narrativa cultural frequentemente atribuía suas conquistas a um homem que teria carregado sua mochila ou ao fato de ela estar escalando com um bom sherpa. Mas os homens também não escalam com ótimos sherpas? E, só para constar, atualmente temos sherpas mulheres fazendo escaladas incríveis…
Quando se mencionava uma mulher na montanha, destacavam-se sempre os homens que a seguravam, que lhe davam as mãos em alturas assustadoras ou a ajudavam a atravessar fendas profundas.
Mas, quando mulheres conquistavam cumes ou rotas sozinhas, essas rotas muitas vezes eram consideradas fáceis demais para que os homens tentassem repeti-las. Foi o que aconteceu com Miriam Underhill e Alice Damesme, que escalaram o Grépon em 1929.
Esses são dados históricos, parte de um artigo do The Guardian, mas agora decidi falar da minha experiência pessoal.
Por muito tempo, achei que era melhor ficar em silêncio, e fiquei. Engoli em seco, na mesa, no meio do que era pra ser uma conversa descontraída num jantar entre amigos em Vinhedo.
Mas hoje tenho uma filha. E, em respeito às mulheres e ao futuro que desejo para ela — um futuro onde não precise enfrentar preconceito ou comentários maldosos —, decidi escrever este texto e mencionar uma das piores humilhações que tive que ouvir dentro do que eu chamava de “família”.
Muitas vezes tentaram diminuir minhas próprias conquistas: escalei o Everest pelas duas faces na primeira tentativa, tanto em 2013, pelo Nepal, quanto em 2017, pelo Tibete; fui a primeira mulher brasileira a escalar o K2 de primeira, em 2019 — numa temporada em que, dos 120 escaladores, 100 desistiram.
E os comentários mais maldosos não vieram só de estranhos. Por incrível que pareça, o mais doloroso desmerecimento da minha escalada no K2 veio de dentro do que eu chamava de lar. Nesse momento, percebi que não estava no lugar certo.
A história se repete. E continuará se repetindo enquanto nós, mulheres, ficarmos caladas e tivermos medo de nos impor diante do machismo, dos assédios e dos abusos, e de suas consequências.
Enquanto não nos apoiarmos, não celebrarmos nossas próprias conquistas e as de outras mulheres. Enquanto aceitarmos a ideia de que os homens são mais capazes apenas por serem homens.
Isso precisa mudar. E a mudança começa quando nos valorizamos e nos recusamos a aceitar menos do que merecemos.
Mesmo que isso custe caro. Mesmo que isso custe sua própria família.
Vale a pena estar onde você tem o valor e o respeito que merece. Falo por experiência própria.
Feliz Dia Internacional das Mulheres!