– Elias, não acredito que você está aqui em Caxias do Sul!
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Era Claudia Traslatti, uma jovem senhora de 72 anos, que me abordava radiante, quase sem acreditar que eu estava em sua região. Ela havia lido alguns dos meus livros e, entre as primeiras perguntas, quis saber sobre Tour du Mont Blanc – Em busca de Emelie:
– Elias, e aí, rolou?
Essa é uma das curiosidades que atormenta milhares de leitoras que querem saber mais sobre a misteriosa Emelie e acabam entrando em contato comigo por direct no Instagram, WhatsApp ou e-mail.
A convite de Helen Hertzog, da Loja Patos do Sul, fui um dos palestrantes do 2º Caxias Mountain Festival, realizado entre os dias 30 e 31 de agosto de 2025, na Fazenda Boa Vista.
– Eu não sabia que você estaria aqui. Se soubesse, teria trazido o seu livro para autografar… mas, mesmo assim, quero que faça uma dedicatória em um papel para eu colar depois no meu exemplar.
Como sabia que ela não tinha o meu livro das Rocky Mountains, ofereci-lhe um de presente e fiz uma dedicatória carinhosa para ela. Ela insistiu em pagar, mas, como repeti que presente não se paga, acabou me entregando o cartão dela e disse que, quando eu quisesse, poderia participar de uma trilha noturna com ela. Mas refletiu melhor e comentou a ideia com a filha, Guadalupe.
– Elias, em que pousada você está?
– Estou na charmosa Hospedaria Rio do Vento, no distrito de Ana Rech, em Caxias do Sul, junto com a minha amiga Sigrid.
Claudia ficou contente e disse que daria um jeito de organizarmos ainda hoje a caminhada noturna.
Quando me reencontrei com a Sigrid, mais conhecida pelos aventureiros como Preta, lhe informei que tínhamos sido convidados para uma caminhada noturna.
– Que ótimo, Elias, onde vai ser?
– Não sei.
– Com quem?
– Não sei bem, mas é com a Claudia.
– Ficou sabendo que recebemos um convite para um jantar de encerramento com a equipe que organizou o festival? Será que faremos a trilha depois?
– Não sei, Preta, deixa que no final tudo se resolve e iremos com quem nos chamar.
E assim, eu e Preta fomos raptados para a trilha noturna, junto com Claudia, Guadalupe e Vanessa, amiga da família. Rodrigo Camatti, que já havia feito a trilha anos atrás, também se juntou a nós e seria o responsável pela carona minha e da Preta. Para nossa grande surpresa, Guadalupe era amiga de anos atrás de Sigrid.
Fomos direto para a sede da Criúva Operadora, no distrito homônimo. Então entendi que tanto Claudia quanto sua filha Guadalupe eram guias de turismo e donas da agência. Aproveitei o momento para autografar o livro Tour du Mont Blanc que estava em sua estante.
Depois de conhecermos a agência e recebermos um breve briefing sobre o que iríamos fazer, seguimos para o local de início da trilha.
Vanessa já nos esperava na entrada. Descemos, caminhamos cerca de cinquenta metros e, então, Claudia pegou Rodrigo pela mão e sumiu de vista. Voltou sozinha minutos depois e, em seguida, foi a minha vez. Pegou em minha mão e fomos adentrando ainda mais no pequeno bosque.
Naquele instante entendi o que estava acontecendo. Já havia feito uma trilha parecida há vinte anos, em São Bento do Sapucaí, durante um treinamento de resgate e primeiros socorros que durou três dias. Era uma caminhada A.V.O.T., inspirada em treinamentos militares, cuja grande graça está justamente em você não saber o que vai acontecer — nem o que de fato é a tal Caminhada Noturna. Exatamente por isso, não entrarei em mais detalhes.
A trilha tinha apenas seiscentos metros, percorridos em cerca de oito minutos. A lua em quarto crescente atravessava a copa das árvores e iluminava um ponto aqui, outro ali. Ao final, em uma clareira do bosque, encontrei Rodrigo sentado sobre um enorme tronco de madeira, em volta de um fogão a lenha, onde Guadalupe preparava o jantar em panelas de ferro.
Assim que Sigrid e Claudia chegaram, nos reunimos para jantar. Próximo ao fogão, em uma estante rústica, peguei uma cumbuca de porcelana e uma colher e me servi de arroz mateiro, feito com carne de boi picada na faca, linguiça na brasa, queijo serrano derretido e pão caseiro, acompanhado de suco de uva orgânico. Claro que não resisti e repeti. De sobremesa, uma paçoca doce na palha.
Depois do jantar, Guadalupe acendeu outra fogueira, cercada de troncos que serviam de bancos, onde cada um de nós iria se sentar para contar sobre a experiência vivida na trilha. E esse é um dos momentos mais engraçados e cativantes da atividade.
Esse tipo de trilha noturna com A.V.O.T. é uma das experiências mais incríveis que já tive em caminhadas. E não se engane pela distância: não é isso o que conta. Aqui, com a Criúva Operadora, a vivência foi ainda mais intensa, encerrando com um jantar de sabores típicos da cultura gastronômica local, finalizado com um café de chaleira.
Não poderia ter encerrado melhor meus dias em Caxias do Sul, ao lado de pessoas que amam o que fazem e colocam carinho como seu principal produto.
O que é o A.V.O.T.
Nos treinamentos militares e também em cursos de sobrevivência ou de orientação em ambientes naturais, existe a prática de caminhar utilizando de forma consciente e intensificada os quatro sentidos básicos:
- Audição: perceber sons sutis do ambiente, como água corrente, galhos quebrando, passos, vento mudando de direção.
- Visão: ampliar o campo de observação, identificar movimentos, cores, marcas no terreno e caminhos alternativos.
- Olfato: captar cheiros de fumaça, vegetação, flores, animais, ou até mesmo o cheiro de chuva chegando.
- Tato: sentir a vibração do solo, a textura das árvores, a direção do vento, a temperatura e a umidade no ambiente.
Em resumo, a caminhada A.V.O.T. é um exercício de percepção sensorial inspirado em técnicas militares de patrulha e sobrevivência, usado também em trilhas técnicas para treinar atenção, foco e conexão com o ambiente.
Serviços
• Criúva Operadora de Turismo - Fone: 54 99178.5622
• Hospedaria Rio do Vento - Fone: (54) 98128-2396
• Loja Patos do Sul - Fone: (54) 3228-1100
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Obrigado por me inspirar a buscar cada vez mais a 'Waldeinsamkeit' .
Alles Gutes für dich!"
"Adorei Elias! Senti emoção, medo, achei que você é maluco, senti saudades, fiquei com vontade de fazer a trilha, e no final desisti… mas não de fazer trilhas tá! Só desse final perigoso! Parabéns pelo livro, pela coragem e determinação! Parabéns por nos inspirar, por fazer olhar o mundo de diferentes formas. Por nos mostrar que devemos sair da rotina, sentir a natureza, viajar… e o que mais precisamos é ter um coração em paz e bons amigos!"
Kelly Cardelli Leitora de Patagonia
"Obrigada Elias, o livro é sensacional! A riqueza de detalhes impressiona, devorei o livro ontem a noite, em muitos momentos me emocionei e me senti caminhando contigo a cada parágrafo que ia lendo. Você conseguiu passar a emoção vivida, e isso é sensacional pra nós leitores! Não vejo a hora de estar lá!"
Anelize Damy Leitora de Tour du Mont Blanc
"Completar o TMB com o Extremos foi uma experiência incrível. Uma trilha desafiadora pelo desnível, mas que te recompensa sempre com paisagens deslumbrantes, natureza preservada, sabores, sons e água pura. Passamos por três países, cidades, vilarejos, refúgios aconchegantes, florestas e fazendas, sempre com a montanha por perto nos mostrando sua grandiosidade e beleza. Uma imersão intensa na cultura alpina e no espírito de união entre os hikers que encontramos na trilha.
Marcos Ribeiro Hiker do TMB