TREKKING
Por: Elias Luiz  | 09.03.2025  •  14:00

Quando começamos a explorar o mundo das aventuras, é comum sermos atraídos pelos destinos icônicos: uma fotografia na placa do “Fim do Mundo” em Ushuaia, um registro no topo de uma montanha famosa ou uma imagem diante de um monumento consagrado como “o lugar a visitar”. Esses pontos turísticos, muitas vezes acessíveis com pouco esforço físico, tornam-se o objetivo principal, a recompensa visível de uma viagem que, em retrospectiva, pode parecer superficial. Eu mesmo trilhei esse caminho no início da minha trajetória como aventureiro no início dos anos 2000. Viajava longas distâncias, chegava ao ponto turístico, tirava a fotografia e seguia para o próximo. Era uma busca por troféus, mas, com o passar do tempo, percebi que esses momentos, embora memoráveis, deixavam um vazio.

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Foi então que algo mudou. Comecei a incluir caminhadas de longa distância para chegar ou passar por esses lugares — como os 156 km até o Campo Base do Everest, os 170 km do Tour du Mont Blanc, os impressionantes 1.100 km da Great Divide Trail, os 450 km da Kungsleden, os 390 km da Via Alpina e tantas outras trilhas pela Patagônia. Nessas jornadas, descobri uma verdade que transformou minha visão sobre aventura: o valor não está apenas no destino, mas no processo, no caminho que percorremos para chegar lá. Este artigo é um convite aos aventureiros iniciantes para que abracem essa filosofia e encontrem significado não apenas nas fotografias, mas nas pegadas que deixam ao longo da trilha.

O Fascínio Inicial pelos Destinos Turísticos

Para quem está começando, é natural que os destinos turísticos sejam o primeiro chamariz. Eles são amplamente divulgados, aparecem em listas de “lugares para visitar antes de morrer” e carregam uma aura de conquista instantânea. Quem não sonha em fotografar-se diante do Lake Louise, no Canadá ou do alto da Aiguille du Midi, em Chamonix? Esses locais são símbolos de aventura, e alcançá-los parece validar nosso espírito explorador. No entanto, quando o acesso é fácil — como chegar de carro ou teleférico —, a experiência pode se limitar a um momento rápido, quase mecânico: tirar a fotografia, publicá-la nas redes sociais e seguir em frente. Além de que todos esses lugares de fácil acesso, estão sempre lotados, e a experiência até mesmo para uma simples foto não é agradável.

Esse padrão é compreensível. Somos condicionados a buscar resultados tangíveis, e os pontos turísticos oferecem isso de forma imediata. Mas o que resta depois? Quantas vezes olhamos para essas imagens anos mais tarde e sentimos que elas não contam a história completa? Foi essa sensação de superficialidade que me levou a repensar minhas aventuras e buscar algo mais profundo.

A Transição para o Caminho

A mudança ocorreu gradualmente. Primeiro, decidi incorporar caminhadas mais longas às minhas viagens. Em vez de apenas “chegar” ao destino, quis sentir o esforço de conquistá-lo. O Campo Base do Everest, por exemplo, não se resumiu à placa ou à vista do Everest — foram os dias de caminhada, o ar rarefeito, as conversas com outros trekkers, a compania dos guias e ajudantes locais, além do silêncio das montanhas que marcaram a experiência e a cultura local. No Tour du Mont Blanc, foram as vilas alpinas, os passos íngremes, os refúgios cheios de gente de toda parte do mundo e a sensação de atravessar fronteiras a pé que permaneceram na memória, mais do que o ponto final.

Com o tempo, percebi que o destino era apenas um pretexto. O verdadeiro aprendizado estava nos dias ou semanas de caminhada. Era o vento cortante da Patagônia, a mochila pesada ao longo da Great Divide Trail, o silêncio gelado da Kungsleden. Cada passo me ensinava algo: paciência, persistência, humildade diante da natureza. O ponto turístico, antes o objetivo principal, tornou-se secundário, um bônus ao final de uma jornada que valia por si só.

Por Que o Caminho Importa?

Para os aventureiros iniciantes, essa ideia pode parecer distante. Afinal, por que escolher o esforço quando o destino está tão fácil de ser alcançado? A resposta reside no que o caminho proporciona: um espaço para autodescoberta, conexão com a natureza e desenvolvimento pessoal. Quando caminhamos longas distâncias, enfrentamos desafios que nos tiram da zona de conforto. Ter que remar o próprio bote para atravessar um rio, encarar ursos de frente, ser arrastado por um rio, passar o aniversário em um dos pontos mais isolados do mundo, pegar caronas e sempre procurar soluções para imprevistos que aparecem ao longo da trilha nos ensina a confiar em nós mesmos e a valorizar o processo.

Além disso, o caminho nos dá tempo para absorver o ambiente. Em vez de apenas passarmos por um lugar, começamos a vivê-lo — o som do rio correndo, o aroma da floresta depois da chuva, as pegadas que contam histórias, a paisagem mudando aos poucos. Detalhes que passariam despercebidos em uma visita rápida se transformam em memórias vivas, mais marcantes do que qualquer fotografia.

Como começar?

Aqui compartilho o que aprendi e como guio aqueles que estão começando. Não se trata de impor regras, mas de oferecer um caminho baseado em experiências reais, com lições práticas para quem deseja seguir.

1 COMECE PEQUENO, MAS COM INTENÇÃO: Nem todo iniciante está pronto para um trekking de 100 quilômetros, e isso não é necessário. O correto é compreender que o esforço faz parte da recompensa, mas tenha um propósito claro desde o início. Escolha caminhadas curtas, de um dia, com algo além do destino em mente. Por exemplo: suba uma colina para ver o pôr do sol, mas observe o trajeto — as árvores, os sons, o vento. Vá com calma, preste atenção, e você verá que a jornada já carrega um valor próprio.
2 O CAMINHO CONTA UMA HISTÓRIA: A trilha não é apenas um meio para chegar a um destino; ela fala, ensina e revela segredos a quem sabe observá-la. O terreno sob seus pés conta sobre o que está por vir — se o solo firme anuncia passagens seguras ou se marcas de erosão indicam desafios à frente. O vento que muda de direção pode ser o prenúncio de uma tempestade, assim como a presença de certas flores pode revelar a história oculta do lugar. Como na Great Divide Trail, onde o lírio-avalanche amarelo floresce em áreas onde avalanches transformaram a paisagem, revirando o solo e abrindo espaço para a luz. Essa flor, que surge logo após o derretimento da neve, alimenta os ursos que desenterram seus bulbos, sustenta alces e veados, e fornece néctar essencial para as abelhas. Sua presença não é aleatória — ela carrega a memória de invernos rigorosos e a renovação da primavera. Caminhar sem perceber esses detalhes é ignorar as histórias que a natureza nos conta. Mas aqueles que aprendem a ler a trilha compreendem que cada passo revela um capítulo, e que a jornada, em si, é a verdadeira narrativa.
3 A BELEZA DA TRILHA: Com o tempo, você percebe que os lugares famosos, aqueles que todos querem visitar, ganham destaque justamente por serem de fácil acesso. Mas ao longo das jornadas mais extensas, você descobre paisagens tão belas quanto — ou até mais — que não aparecem nos guias. Elas não são famosas porque exigem dias de caminhada para serem alcançadas. E isso, para você, torna-se um presente. Esses recantos por onde passamos costumam ser silenciosos, quase intocados, reservados para quem escolhe o caminho menos óbvio.
4 BUSQUE O NOVO, FUJA DAS MULTIDÕES: Com a experiência, vem a vontade de explorar além do óbvio. Trilhas populares podem ser um bom começo, mas a verdadeira conexão com a natureza acontece quando você se afasta das multidões. Há algo único em caminhar por lugares onde poucos passaram, onde o silêncio é absoluto e a paisagem parece intocada. Na Kungsleden, na Suécia, apenas cerca de 250 pessoas completam a travessia a cada ano. Na Great Divide Trail, no Canadá, esse número cai para cerca de 50. São percursos exigentes, mas a recompensa está na imersão total no ambiente selvagem. Descobrir trilhas menos conhecidas não significa se aventurar sozinho — sempre vá com pelo menos mais uma pessoa. A natureza é grandiosa, mas respeitá-la é parte da experiência.
5 O PRINCIPAL CAMINHO É O INTERIOR: Por mais que a trilha sob seus pés conte histórias da terra e a paisagem ao redor encante os olhos, o verdadeiro percurso se desenrola dentro de você. Caminhar vai além de atravessar o espaço; é um convite a se escutar, a deixar os pensamentos se aquietarem como poeira que repousa após o vento. A cada passo, o ritmo da respiração e o som dos seus movimentos abrem um espaço onde o ruído do mundo se desfaz. Esses ensinamentos, porém, não se entregam em trajetos breves ou trilhas fáceis — eles nascem das jornadas longas, onde o tempo e a distância esculpem a alma. O segredo está na intenção de voltar-se para dentro: notar como o peso do corpo exausto silencia a mente, como o vazio da natureza ecoa o que pulsa em seu peito. A trilha lá fora é um espelho; ela orienta, mas é o seu interior que dá vida à caminhada. No fim, você pode perceber que o destino nunca foi o topo ou a vista, mas o que se revelou em você, passo a passo, ao longo do caminho.

O Caminho Como Metáfora da Vida

Essa filosofia não se limita às trilhas — ela reflete minha forma de enxergar a vida. Já persegui objetivos esperando que me completassem, mas descobri que o valor está nos dias comuns, no esforço, nas pequenas vitórias, nas amizades de longas datas. O caminho é onde nos transformamos, onde nos tornamos mais resilientes e mais atentos.

Um Convite à Jornada

Se você está começando, aceite o convite. Registre o ponto turístico, mas vá além: caminhe mais, sinta o peso da mochila, ouça o silêncio da trilha, aprecie o desconforto. Comece com um dia, avance para um fim de semana. Talvez um dia você esteja cruzando os Alpes ou enfrentando os ventos da Patagônia. E então entenderá: o que importa não é apenas o destino, mas cada passo que o levou até lá.

O aprendizado está no caminho. A aventura é quem você se torna enquanto segue. Prepare suas botas ou tênis, ajuste a mochila e comece — o mundo o espera, e a melhor jornada, é a sua.


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For those who dream of putting a backpack on their shoulders and embarking on an adventure trip, this book will be a great inspiration. Elias narrates his adventure through the Alps.

Se você sonha em fazer uma caminhada de longa distância, aproveite o roteiro oferecido por Elias Luiz, onde ele refaz a trilha original do seu livro Tour du Mont Blanc. Serão 170 km em 11 dias de caminhada e dias de descanso na charmosa Chamonix e em Courmayeur. Viva essa experiência!



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Rafael SilvaLeitor de Rocky Mountains

"Adorei Elias! Senti emoção, medo, achei que você é maluco, senti saudades, fiquei com vontade de fazer a trilha, e no final desisti… mas não de fazer trilhas tá! Só desse final perigoso! Parabéns pelo livro, pela coragem e determinação! Parabéns por nos inspirar, por fazer olhar o mundo de diferentes formas. Por nos mostrar que devemos sair da rotina, sentir a natureza, viajar… e o que mais precisamos é ter um coração em paz e bons amigos!"

Kelly Cardelli Leitora de Patagonia

"Obrigada Elias, o livro é sensacional! A riqueza de detalhes impressiona, devorei o livro ontem a noite, em muitos momentos me emocionei e me senti caminhando contigo a cada parágrafo que ia lendo. Você conseguiu passar a emoção vivida, e isso é sensacional pra nós leitores! Não vejo a hora de estar lá!"

Anelize Damy Leitora de Tour du Mont Blanc

"Completar o TMB com o Extremos foi uma experiência incrível. Uma trilha desafiadora pelo desnível, mas que te recompensa sempre com paisagens deslumbrantes, natureza preservada, sabores, sons e água pura. Passamos por três países, cidades, vilarejos, refúgios aconchegantes, florestas e fazendas, sempre com a montanha por perto nos mostrando sua grandiosidade e beleza. Uma imersão intensa na cultura alpina e no espírito de união entre os hikers que encontramos na trilha.

Marcos Ribeiro Hiker do TMB