Quando começamos a explorar o mundo das aventuras, é comum sermos atraídos pelos destinos icônicos: uma fotografia na placa do “Fim do Mundo” em Ushuaia, um registro no topo de uma montanha famosa ou uma imagem diante de um monumento consagrado como “o lugar a visitar”. Esses pontos turísticos, muitas vezes acessíveis com pouco esforço físico, tornam-se o objetivo principal, a recompensa visível de uma viagem que, em retrospectiva, pode parecer superficial. Eu mesmo trilhei esse caminho no início da minha trajetória como aventureiro no início dos anos 2000. Viajava longas distâncias, chegava ao ponto turístico, tirava a fotografia e seguia para o próximo. Era uma busca por troféus, mas, com o passar do tempo, percebi que esses momentos, embora memoráveis, deixavam um vazio.
Foi então que algo mudou. Comecei a incluir caminhadas de longa distância para chegar ou passar por esses lugares — como os 156 km até o Campo Base do Everest, os 170 km do Tour du Mont Blanc, os impressionantes 1.100 km da Great Divide Trail, os 450 km da Kungsleden, os 390 km da Via Alpina e tantas outras trilhas pela Patagônia. Nessas jornadas, descobri uma verdade que transformou minha visão sobre aventura: o valor não está apenas no destino, mas no processo, no caminho que percorremos para chegar lá. Este artigo é um convite aos aventureiros iniciantes para que abracem essa filosofia e encontrem significado não apenas nas fotografias, mas nas pegadas que deixam ao longo da trilha.
O Fascínio Inicial pelos Destinos Turísticos
Para quem está começando, é natural que os destinos turísticos sejam o primeiro chamariz. Eles são amplamente divulgados, aparecem em listas de “lugares para visitar antes de morrer” e carregam uma aura de conquista instantânea. Quem não sonha em fotografar-se diante do Lake Louise, no Canadá ou do alto da Aiguille du Midi, em Chamonix? Esses locais são símbolos de aventura, e alcançá-los parece validar nosso espírito explorador. No entanto, quando o acesso é fácil — como chegar de carro ou teleférico —, a experiência pode se limitar a um momento rápido, quase mecânico: tirar a fotografia, publicá-la nas redes sociais e seguir em frente. Além de que todos esses lugares de fácil acesso, estão sempre lotados, e a experiência até mesmo para uma simples foto não é agradável.
Esse padrão é compreensível. Somos condicionados a buscar resultados tangíveis, e os pontos turísticos oferecem isso de forma imediata. Mas o que resta depois? Quantas vezes olhamos para essas imagens anos mais tarde e sentimos que elas não contam a história completa? Foi essa sensação de superficialidade que me levou a repensar minhas aventuras e buscar algo mais profundo.
A Transição para o Caminho
A mudança ocorreu gradualmente. Primeiro, decidi incorporar caminhadas mais longas às minhas viagens. Em vez de apenas “chegar” ao destino, quis sentir o esforço de conquistá-lo. O Campo Base do Everest, por exemplo, não se resumiu à placa ou à vista do Everest — foram os dias de caminhada, o ar rarefeito, as conversas com outros trekkers, a compania dos guias e ajudantes locais, além do silêncio das montanhas que marcaram a experiência e a cultura local. No Tour du Mont Blanc, foram as vilas alpinas, os passos íngremes, os refúgios cheios de gente de toda parte do mundo e a sensação de atravessar fronteiras a pé que permaneceram na memória, mais do que o ponto final.
Com o tempo, percebi que o destino era apenas um pretexto. O verdadeiro aprendizado estava nos dias ou semanas de caminhada. Era o vento cortante da Patagônia, a mochila pesada ao longo da Great Divide Trail, o silêncio gelado da Kungsleden. Cada passo me ensinava algo: paciência, persistência, humildade diante da natureza. O ponto turístico, antes o objetivo principal, tornou-se secundário, um bônus ao final de uma jornada que valia por si só.
Por Que o Caminho Importa?
Para os aventureiros iniciantes, essa ideia pode parecer distante. Afinal, por que escolher o esforço quando o destino está tão fácil de ser alcançado? A resposta reside no que o caminho proporciona: um espaço para autodescoberta, conexão com a natureza e desenvolvimento pessoal. Quando caminhamos longas distâncias, enfrentamos desafios que nos tiram da zona de conforto. Ter que remar o próprio bote para atravessar um rio, encarar ursos de frente, ser arrastado por um rio, passar o aniversário em um dos pontos mais isolados do mundo, pegar caronas e sempre procurar soluções para imprevistos que aparecem ao longo da trilha nos ensina a confiar em nós mesmos e a valorizar o processo.
Além disso, o caminho nos dá tempo para absorver o ambiente. Em vez de apenas passarmos por um lugar, começamos a vivê-lo — o som do rio correndo, o aroma da floresta depois da chuva, as pegadas que contam histórias, a paisagem mudando aos poucos. Detalhes que passariam despercebidos em uma visita rápida se transformam em memórias vivas, mais marcantes do que qualquer fotografia.
Como começar?
Aqui compartilho o que aprendi e como guio aqueles que estão começando. Não se trata de impor regras, mas de oferecer um caminho baseado em experiências reais, com lições práticas para quem deseja seguir.
O Caminho Como Metáfora da Vida
Essa filosofia não se limita às trilhas — ela reflete minha forma de enxergar a vida. Já persegui objetivos esperando que me completassem, mas descobri que o valor está nos dias comuns, no esforço, nas pequenas vitórias, nas amizades de longas datas. O caminho é onde nos transformamos, onde nos tornamos mais resilientes e mais atentos.
Um Convite à Jornada
Se você está começando, aceite o convite. Registre o ponto turístico, mas vá além: caminhe mais, sinta o peso da mochila, ouça o silêncio da trilha, aprecie o desconforto. Comece com um dia, avance para um fim de semana. Talvez um dia você esteja cruzando os Alpes ou enfrentando os ventos da Patagônia. E então entenderá: o que importa não é apenas o destino, mas cada passo que o levou até lá.
O aprendizado está no caminho. A aventura é quem você se torna enquanto segue. Prepare suas botas ou tênis, ajuste a mochila e comece — o mundo o espera, e a melhor jornada, é a sua.
PERGUNTA
Qual é o seu caminho?