Tenho o prazer de apresentar um dos artigos mais importantes do final dos anos 80 — época em que o montanhismo vivia um boom internacional e era preciso colocar ordem na casa.
David Breashears, excelente montanhista, escritor e cineasta, escreveu este texto em 1988, ano em que 50 pessoas chegaram ao cume do Everest (36 clientes estrangeiros + 14 sherpas). Em 2022 foram 682 pessoas (240 clientes + 399 sherpas).
A genialidade dessa sequência está em um detalhe ainda mais discreto, quase invisível, que só se revela quando olhamos com calma e deixamos a cena respirar diante de nós.
Nos últimos anos, testemunhamos um número sem precedentes de alpinistas e expedições ativas nos picos mais altos do mundo. Não por culpa própria ou erro de julgamento, esses escaladores são cada vez mais confrontados com situações extremas nas quais devem tomar decisões difíceis. Essas decisões podem determinar se eles e seus companheiros sobreviverão.
Muitas vezes essas decisões são admiráveis e altruístas. Às vezes, são egoístas e lamentáveis. Comumente ficam em algum lugar no meio. Eventos recentes chamaram a atenção para situações extremas que destacam a geografia moral do montanhismo.
Por exemplo: quando o companheiro de um alpinista fica fraco e incapaz de continuar, com o cume ao alcance após semanas de trabalho árduo, o alpinista deve seguir sozinho ou descer com seu parceiro vacilante? Ou, como líder de uma grande expedição, alguém sacrifica o sucesso da própria equipe para resgatar um membro ferido de outra expedição? Em que momento se decide abandonar um companheiro ferido na tentativa de salvar sua vida?
Cada situação no montanhismo apresenta uma experiência subjetiva única. Muitas vezes, diante de uma decisão crucial, o alpinista está exausto, desidratado e sofrendo os efeitos da altitude. Alguém pode se preocupar apenas com a própria sobrevivência ou, movido pelo desejo avassalador de chegar ao cume, ignorar a condição do companheiro.
Isso levanta questões morais importantes: nossa paixão por conquistas ofusca o compromisso com o bem-estar dos colegas? Quais são as obrigações morais dos alpinistas uns para com os outros em circunstâncias extremas?
A resposta final é clara: o bem-estar dos companheiros deve estar sempre em primeiro lugar. Mas numa sociedade que recompensa o sucesso e condena o fracasso, raramente haverá glamour para quem volta de mãos vazias por ter escolhido ajudar alguém.
Se queremos tomar decisões conscientes, precisamos de valores morais sólidos. Raramente escalamos sozinhos. Devemos aceitar o risco de abrir mão de um cume por outra pessoa — é simplesmente egoísta fazer o contrário.
Uma vida é algo vibrante e vital. Um cume é apenas um cume.
O montanhismo constrói e revela caráter. Sob estresse prolongado, a fibra moral emerge. É exatamente esse teste de limites que torna a escalada tão satisfatória — e que exige que examinemos nossas decisões com honestidade.
Compartilhamos um vínculo comum: amor pelas montanhas, emoção do desafio, camaradagem. Por isso, somos todos companheiros e concordamos tacitamente com regras básicas de conduta. Uma delas é oferecer toda assistência razoável a quem estiver em apuros.
Nas montanhas, companheirismo e humanidade vêm antes da autogratificação.
Questões morais são complexas, mas sua consideração é vital se quisermos preservar as tradições respeitadas do montanhismo. É fundamental que sempre atuemos com preocupação genuína por quem escala conosco.
David Breashears
American Alpine Journal – 1988





