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O Aconcágua e a inconstância |
da redação, Carlos Santalena
2 de abril de 2012 - 15:35 |
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Extremos no cume do Aconc�gua com Carlos Santalena Foto: Gilberto Oliveira
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Grupo no m�s de fevereiro 2012" Foto: Grade6
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A imponente face sul do Aconcagua Foto: Ayesha Zangaro
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Descida do cume em fevereiro (Campo Independencia-6400m, abaixo e ao fundo) Foto: Renato Zangaro
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Descida do cume em fevereiro Foto: Renato Zangaro
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Entardecer em C�lera 6000m (sombra da montanha no horizonte) Foto: Carlos Santalena
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Cume Aconcagua 27 de janeiro 2012 Foto: Carlos Santalena
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Gran Acarreo na descida do cume no dia 20 de fevereiro Foto: Renato Zangaro
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Aconcagua visto do cume do Bonete Foto: Ayesha Zangaro
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Cume Aconcagua 27 de janeiro 2012 Foto: Gilberto Oliveira
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Extremos no cume do Aconc�gua com Carlos Santalena Foto: Gilberto Oliveira
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O mundo em sânscrito e também na língua nepalesa é definido como “jagat”, uma palavra que nos estudos védicos traduz muito bem a grande lei da impermanência praticada no budismo e no hinduísmo. Podemos definir como o “vai-e-vem”, em tudo que vivemos e sentimos.
Comento sobre esta palavra que a meu ver define muito bem o clima e as experiências que podemos ter em uma montanha aqui na América do Sul que é o Aconcagua, localizado em território argentino, que há muito tempo vêem deixando seu acampamento base repleto de montanhistas do mundo inteiro esperando seu grande momento de poder chegar ao cume das Américas.
Na última temporada que tivemos 2011-2012, desde o inicio os maiores rumores eram sobre como estaria o clima: se estaria ventoso, nevado, frio, perfeito ou até em estado de alerta para que todos desçam, pois chegou uma tormenta. A meta principal era que 3 grupos chegassem ao topo entre os meses de dezembro e fevereiro quando acaba a alta temporada, seriam então 3 cumes em diferentes meses.
Saímos de Mendoza na Argentina, cidade base para o início da expedição, como sempre, com destino a Puente del Inca que é um povoado pequeno e rústico já a beira da entrada do Parque do Aconcágua, na rota que segue de Mendoza a Santiago do Chile. Dormimos uma noite em 2800m de altitude – Puente del Inca , afim de adaptar melhor o corpo ao ar rarefeito. Este processo favorece a nós que não somos da montanha, subirmos de forma mais saudável e segura.
Nosso cronograma prevê duas noites de aclimatação a 3440m , no acampamento Confluência, 5 noites no acampamento base Plaza de Mulas entre subidas e descidas de preparação e 5 dias de subida definitiva, que consiste subir ao Campo 1 (Plaza Canadá – 4950m), Campo 2 (Nido de Condores - 5400m), Campo 3 (Cólera – 6000m), o cume que esta a 6962m de altitude e retorno ao base.
Com esta logística, saímos com o primeiro grupo dia 23 de dezembro e assim passamos um natal diferente no hotel regrado a bons vinhos e queijos e o réveillon no campo base – 4300m, onde só pudemos brindar com um pouco de champagne e dormir as 22 horas, algo atípico para esta data, mas bastante interessante para quem busca algo mais tranquilo.
Este grupo foi muito bem e envolvia poucas tentativas de cume embora o grupo fosse grande devido a muitos “trekkers” que visitariam apenas o Campo Base. Mostrando todo o seu poder de mudança brusca e mostrando o quão rápido poderia ser, subimos ao campo 1 , seguimos ao campo 2 quando surpreendentemente pegamos uma tormenta destas violentas o que nos fez retornar direto a base de onde já voltamos a Mendoza. Todos voltaram felizes primeiramente por ter a certeza que alcançamos o máximo possível de cada um, mantendo o grau de segurança e que na vida nem sempre ganhamos ou conseguimos, muitas vezes não depende de nós.
Com a chegada de nossa segunda expedição, estávamos realmente motivados a alcançar aquele pico neste último ano e como é de praxe nas logísticas que montamos no Aconcágua, priorizamos mais uma vez o clima, diferente de muitos locais que acabam seguindo apenas as datas programadas pelo roteiro comprado, o que acaba dando menos chance ao merecimento e mais chance a sorte e é claro acaba trazendo uma atmosfera mais comercial e menos expedicionária onde buscamos a melhor janela para ascensões em grandes montanhas.
Neste grupo me parecia que o clima estaria mais ao nosso favor, pois logo que entramos no parque o clima esta feio, o que agrada muito pois geralmente quer dizer que mais adiante quando realmente necessitarmos de um bom clima ele possa aparecer.
Seguimos exatamente o mesmo padrão de logística e quando estávamos no Campo Base recebemos a comum noticia que a janela que esperávamos não havia se confirmado e que teríamos apenas uma chance e 2 dias antes do que havíamos programado. Analisando aquela situação e vendo que mais da metade do grupo já se encontrava bem aclimatado, tocamos do base direto ao Campo 2 de onde deveríamos atacar o cume no dia seguinte pois em seguida o tempo mudaria para pior, porém ao chegar ao Campo 2 recebemos mais uma previsão agora dando-nos mais um dia para a tentativa. Felizes com a noticia desistimos da idéia de atacar do Campo 2 para subirmos ao Campo 3 e fazermos uma tentativa mais concreta e claro com mais chances de sucesso. Dito e feito, subimos ao Campo 3 e na mesma madrugada por volta das 5:30 da manhã partimos rumo ao cume em um dia bom, utilizando menos roupas pois a temperatura estava razoável e propicia a ascensão.
Fizemos o cume que costuma ser uma subida bastante dura e longa embora não seja técnica. É impressionante como está questão de estar em um ambiente onde você não tem total controle e é extremamente impermanente nos faz estar ainda mais presente. O fato de realmente não sabermos o que pode acontecer no próximo instante nos obriga a estar em estado de consciência plena, pois caso você não consiga estar neste estado, o grau de ansiedade será aumentado em grande escala o que gastará muito a energia do escalador para o dia final.
Visto isso costumamos dizer que o Aconcágua é uma montanha 70% psicológica e 30% física, pois se você agüentar a grande quantidade de mudanças climáticas e as grandes mudanças de humor e tranqüilidade internas teria como dizemos “meio caminho andado”.
Depois da segunda expedição e após um cume seguimos para terceira empreitada no mesmo ambiente, porém agora depois de 2 meses na montanha, já acostumado com o banheiro apelidado de fedor eterno, com as noites em barraca e com as lindas noites estreladas do campo base, sabíamos de mesma forma que teríamos novamente que estar presentes para que nenhuma previsão ou grandes “vai e vens” no clima pudessem tirar nossa concentração e precisão na escalada.
O terceiro grupo por sua vez era bastante heterogêneo, o que trazia um desafio ainda maior para o papel de guia, onde todos devem se entender bem naquele ambiente belíssimo, porém de stress e desconforto. Desta vez o cronograma foi perfeito e subimos exatamente como o programado ao campo 1 e posteriormente ao campo 2 onde fomos surpreendidos com um cogumelo de nuvens no cume da montanha, exatamente o pior clima que poderíamos imaginar, ou melhor que não poderíamos imaginar pois é claro esta mudança repentina no micro-clima não estava em nossas previsões. Estes grandes cogumelos indicam uma zona de baixa pressão onde são acumuladas nuvens e tormentas de grande poder. Na realidade era apenas um teste para saber se estávamos realmente presentes e se realmente éramos perseverantes.
No dia seguinte, ou seja, depois da segunda noite em Nido de Condores a 5400m, tivemos um dia ótimo para seguirmos a Cólera de onde na próxima madrugada deveríamos fazer a tentativa de cume. Com grande merecimento de todos os envolvidos tivemos um bom dia, porém bastante frio, com temperaturas de -25ºC graus e ventos constantes, chegamos ao topo, e com um bom clima desfrutamos de 30 minutos sentados no teto das Américas.
O dia de cume é sempre o maior desafio onde calculamos subir em 10hs e descer em 4hs (como máximo para subir em ritmo lento), não poderia ser diferente desta vez, a primeira parada é Piedras Blancas a 6200m para muita hidratação, a segunda parada é Independência 6400m, para colocação de Crampons e descanso grande, a terceira parada maior vem na Cueva aos 6660m, em seguida enfrentamos a Canaleta, o ombro e alcançamos mais uma vez a cruz cravada aos 6962m do cume. Diferente de nossa 2ª expedição, a terceira teve temperaturas mais frias. Neste mesmo dia a pequena e grande Ayesha chegava ao topo do Aconcágua junto com seu pai Renato, um parceiro de expedição Germán - Colombiano , e nosso grande amigo e também guia Capy, todos com grande desprendimento e força.
Depois de 3 idas e vindas da montanha, terminamos uma temporada que podemos dizer ter sido boa, com 2 cumes, muito conhecimento, muita amizade, muita alegria, muito desafio e ainda encontramos uma grande degustação de vinhos Mendocinos na cidade para celebração ficar ainda mais característica do local. O grande Sentinela de Piedras mais uma vez nos deu uma grande experiência de vida, de conhecimento e de superação. |
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