Há mais de 15 anos, desde a inauguração da Casa de Pedra, pelo menos duas vezes ao mês recebo dúvidas sobre construção de paredes de escalada, o que é difícil de responder.
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Não que exista qualquer tecnologia inovadora ou segredo na construção de paredes, mas sempre tem uma manhazinha aqui e ali para facilitar as coisas. No entanto, basicamente o sistema construtivo é muito simples.
De qualquer forma, neste último fim de semana, durante a construção da minha própria parede em casa, resolvi de uma vez por todas colocar isso no papel e divulgar; quem sabe assim boa parte das principais dúvidas já acabem por aqui.
Antes de mais nada e já respondendo à primeira dúvida dos amigos… Mas você tem a Casa de Pedra inteira para você, para quê montar uma parede em casa?
Bom, esse é o típico exemplo de que os ditos populares são a mais pura verdade! “Em casa de ferreiro, espeto de pau”. Na verdade, o ginásio fica a 20 km de casa, e para mim é muito difícil, depois do horário comercial, atravessar a cidade para escalar. Além do grande tempo perdido, esse é justamente o momento que vou curtir os filhos antes de colocá-los na cama.
Mas vamos à construção da parede!
1º Passo: Perguntas essenciais antes de construir sua própria parede de escalada
Qual o espaço disponível?
Não é preciso um grande espaço para montar uma parede bem legal em casa. Maior não quer dizer melhor!
Muitas das pessoas que me procuram para tirar dúvidas sobre paredes geralmente começam dizendo que moram num sobrado e que têm uma parede alta nos fundos, blá blá blá.
Gente, entendam que “parede alta” é igual a necessidade de segurança, equipamentos, cordas e principalmente uma segunda pessoa para te dar segurança. E você vai querer treinar sozinho, não vai?
Uma parede em casa nunca será um ginásio de escalada. Se você construir uma parede enorme, acabará com um “elefante branco” no quintal, que não te servirá para nada.
Além disso, você gastará muito mais dinheiro do que num pequeno boulder, que é bem mais útil.
Quanto vou gastar na parede?
Fazer um orçamento é fundamental para não ter surpresas no meio do caminho e é bem simples de fazer. Com base no seu espaço disponível, dá para orçar de forma bem aproximada o custo real: chapas de madeira, porcas agarras, parafusos, pregos, estrutura (metálica ou madeira), verniz, tinta, etc.
Eu geralmente digo para que não coloquem as “agarras” neste orçamento. Vou explicar por quê. As agarras são de longe o material mais caro de uma parede de escalada e podem facilmente, num pequeno boulder, multiplicar por 10 o custo total da parede. Sim, dá para gastar mil na parede e 10 mil em agarras.
Portanto, construa sua parede em etapas: orce os materiais, chame os amigos e construa a parede em si. Com o passar dos meses, vá aos poucos acrescentando novas agarras. Uma parede de boulder boa vai consumir pelo menos 30 agarras num único metro quadrado. Neste ponto a conta é simples: quanto mais, melhor.
Quanto mais agarras, mais possibilidades de criar movimentos, séries e travessias do tipo ida e volta, sem ficar “repetindo movimentos”.
Que tipo de treino vou realizar na parede?
Essa pergunta é especialmente importante, pois determinará o perfil da sua parede. Se você vai “brincar” na parede, se ela for feita para crianças ou se você for extremamente iniciante, talvez uma parede mais reta seja uma boa opção; mas eu sinceramente te desencorajo a construir nesses moldes.
Primeiro porque você não será iniciante por muito tempo e, segundo, porque num espaço limitado só um bom negativo lhe dará a força e resistência que você precisa para suas escaladas na rocha.
2º Passo: Definindo o projeto
Menos é mais! (Less is more!)
Não viaje em desenhos complexos, cheios de arestas, tetos e múltiplas faces. Além de muito mais trabalhoso, um boulder cheio de feições desperdiçará muito mais material, encarecendo sua construção. A área útil para fixar as agarras também é drasticamente reduzida, pois geralmente perto das bordas fica difícil colocar porcas agarras por causa da estrutura.
Pense em planos grandes e contínuos, aproveitando toda a extensão da chapa de madeira (2,20 x 1,60m). Se você tem pouco espaço e puder fazer uma parede basculante do tipo “system wall”, então perfeito. Caso contrário, tente montar um boulder com variações de inclinação. Ao invés de um boulder alto, onde você terá que investir muito mais em colchões, dê preferência a um boulder mais baixo, mas com boa extensão lateral.
Um projeto muito interessante para quem tem um corredor lateral de casa livre é fazer um “rodapé” de aproximadamente 55 cm (uma chapa de 2,20 x 1,60m cortada em 4 partes) e, em cima de cada uma dessas chapas, outra inteira variando as inclinações de 15º a 45º no máximo. Ou seja, em 6,4m de largura por pouco mais de 2,5m de altura você tem uma excelente ferramenta de treino.
Não exagere na inclinação da sua parede; inclinações com mais de 45º pouco lhe acrescentam tecnicamente. Um negativo extenso de 25º de inclinação já é mais que suficiente para um treino bombástico para os braços, sem “crescer” muito para cima do corredor.
3º Passo: A estrutura
A estrutura pode ser feita em madeira, nos moldes de uma estrutura de telhado: vigas e caibros por trás das chapas, que serão parafusadas aos mesmos com parafusos de rosca soberba. Claro que, devido ao grande peso das chapas, agarras e depois você pendurado embaixo disso tudo, é sempre bom colocar parafusos grandes, que passem pelo menos uns 3 cm da chapa de madeira e em grande quantidade. Eu diria pelo menos um parafuso a cada 30 cm por todo o perímetro da chapa.
Se sua estrutura for de ferro, antes de mais nada convide aquele amigo que “sabe o que está fazendo” com uma boa máquina de solda. Nas paredes mais simples e panos maiores, geralmente barras U de 2 1/2” são mais que suficientes. À medida que os desenhos ficam mais complexos, com variações de ângulo e planos menores, opte por cantoneiras de 1 1/4”.
Quanto à estrutura, é claro que deve existir um bom senso. Paredes baixas e simples são visualmente fáceis de julgar se a estrutura está firme; geralmente, tendemos a superdimensionar essas estruturas. Se você for montar algo mais complexo e grande, convém convidar aquele seu tio engenheiro para dar uns palpites!
4º Passo: Montagem
Com uma trena, régua metálica grande e lápis, risque nas chapas ainda inteiras uma trama de 15 x 15 cm, 18 x 18 cm (melhor opção) ou, no máximo, 20 x 20 cm, e faça furos de ½ polegada para colocar as porcas agarras. Recomendo que você empilhe 5 ou 6 chapas e, com uma broca chata de ½”, fure todas de uma vez. Isso economiza tempo e evita que a madeira lasque na parte de baixo.
O lado que você furou é o da frente da parede (melhor acabamento); o lado de trás é onde vão as porcas agarras.
Bata as porcas agarras com a chapa ainda deitada no chão. Se você deixar para bater a porca agarra com a chapa já na parede, além do barulho ensurdecedor, elas não ficarão tão bem presas.
Pedaços menores, acabamentos de arestas e peças triangulares talvez precisem ser furados e as porcas agarras batidas apenas depois de instaladas no lugar, para que você visualize melhor as posições ideais dos furos. Ao furar, sempre preste atenção para evitar a estrutura que está por trás.
Porcas agarras que ficam em cima da estrutura acabam sendo inutilizadas, pois o parafuso não tem espaço para penetrar na porca, além de ser impossível fazer a manutenção caso essa porca agarra espane.
Com a estrutura pronta e as porcas agarras batidas, basta fixar as chapas com parafusos de rosca soberba na madeira ou com rebites de 3/16 no ferro. Parafusos de 5/16 de cabeça francesa também podem ser usados, embora deem muito mais trabalho.
5º Passo: Acabamento
O acabamento depende muito da sua necessidade ou capricho. As frestas entre chapas podem ser fechadas com massa plástica, dessas de funilaria para automóveis, que é bem mais cara e difícil de trabalhar. Ou você pode juntar toda a serragem produzida e misturar com cola branca. Com essa pasta de serragem e cola, basta aplicar com uma espátula nas frestas entre as chapas; é muito mais barato, porém, demorado para secar.
Lixe apenas depois de estar bem seco!
Uma vez tudo pronto, lixado e com arestas arredondadas, basta pintar ou envernizar, de acordo com sua preferência.
6º Passo: Colocando as agarras
Depois de dias serrando, soldando, parafusando, furando e pintando, eu sei que você está louco para colocar as primeiras agarras. É muito comum sair colocando agarras a esmo e, quando você menos espera, elas já acabaram.
Você acaba usando agarras boas de mão onde não deve ou não coloca os pés nos lugares importantes. Então, pense bem na sua estratégia de treino, onde pretende acrescentar novas agarras no futuro, etc. Se você tem poucas agarras, é melhor concentrar todas em um único pedaço, do que espalhar pela parede toda e depois perceber que sua parede está limitada a 5 movimentos e você precisa ter um braço de 2,30 m para alcançar a próxima!
Segurança
Junte uns colchões velhos e convide seus amigos para a “segurança de corpo”. Lembre-se de que, para virar ou quebrar um pé, basta uma queda de mau jeito de 50 cm!
O meu boulder
Minha necessidade era de uma parede simples, que ocupasse pouco espaço na garagem e que interferisse pouco visualmente, mas que fosse eficaz no treino. Por isso, optei por um plano único de 20º de inclinação negativa, ideal para realizar séries de puxadas, blocadas, etc. A estrutura foi montada em madeira no padrão do telhado, o que garantiu continuidade e facilidade na montagem da estrutura.
Tempo de montagem: sábado e domingo. Acho que montaria em apenas um dia se não fosse o excesso de ajuda dos meus filhos e da cachorra!
Material gasto
2 Chapas de madeira “virola” 18 mm – R$180,00
Estrutura – 2 vigas de madeira 15x5 cm e 5 caibros 5x5 cm – R$227,00
250 Porcas agarras de 3/8” – R$170,00
Parafusos soberbos – R$30,00
Material para acabamento em verniz – R$120,00
Custo total da parede (sem agarras) – R$727,00
Bom, agora é só colocar as agarras usando parafusos de 3/8” com cabeça Allen. Parafusos de cabeça sextavada são realmente mais baratos, mas não funcionam na grande maioria das agarras. Alguns poucos fabricantes nacionais ainda deixam aquele buracão na resina para que caiba a chave de boca, mas são exceção. As agarras importadas exigem parafusos Allen.
O comprimento dos parafusos pode variar desde pouco mais de 1” até 7” para prender agarrões grandes. Se você está com o dinheiro contado, o jeito é medir a profundidade do furo de cada agarra e comprar tudo certinho, sempre deixando uma meia dúzia de reserva de cada tamanho.
Mas antes de sair comprando o material, lembre-se de que uma parede em casa é uma questão de necessidade. Se não tiver academia na sua cidade, se você não tem tempo ou condições de pagar um ginásio, se você mora longe, ok. Mas não ache que vai se divertir horrores na parede, pois acaba sendo chato treinar sozinho, sem os amigos para animar ou bolar lances e desafios diferentes.
Escalar também é social, portanto, pense duas vezes antes de empatar um dinheirão na sua parede! Depois de pronta, ela pode virar um elefante branco em casa, e você não aproveita como imaginava.
E não pense que estou dizendo isso porque tenho a Casa de Pedra, não! Minha colocação é fruto de muitos anos de experiência e observação. Imagine quantas esteiras e bikes ergométricas estão empoeirando nas casas das pessoas. Uma parede de escalada mal acabada ou com poucas agarras acaba servindo apenas como peça anti-decoração!
Elias Luiz possui um estilo de escrita singular, proporcionando aos leitores a sensação de fazerem parte da aventura enquanto percorrem as páginas do livro. Repleto de reflexões sobre a vida moderna e superação, apresentando a experiência única de viver um grande aventura em meio à natureza. As obras são enriquecidas com fotos e mapas que estimulam a imaginação do leitor. É impossível mergulhar na leitura sem sentir o desejo de colocar uma mochila nas costas e vivenciar sua própria jornada. Boa leitura e boas aventuras!
Elias Luiz percorreu trilhas de longa distância em Bariloche, diversos roteiros em El Chaltén, o magnífico Circuito O em Torres del Paine e o Circuito Dientes de Navarino em Puerto Williams.
O trekking ao Campo Base do Everest é a trilha mais desejada por todo aventureiro e Elias Luiz relata a sua grande jornada pelo Nepal e também pelo Tibet, passando pela face norte.
A Great Divide Trail, com seus 1.100 km é uma das trilhas mais inóspitas, difíceis e bonitas do planeta. Embarque junto com Elias Luiz e Daiane Luise nessa aventura repleta de ursos.
Você está prestes a conhecer uma das regiões mais selvagens da Europa, na Lapônia, acima do Círculo Polar Ártico, repleta de ursos, lobos, renas e a magistral Aurora Boreal.
Para você que sonha em colocar a mochila nas costas e fazer uma viagem de aventura, este livro será uma grande inspiração. Elias Luiz narra a sua aventura pelos Alpes.
For those who dream of putting a backpack on their shoulders and embarking on an adventure trip, this book will be a great inspiration. Elias narrates his adventure through the Alps.
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Obrigado por me inspirar a buscar cada vez mais a 'Waldeinsamkeit' .
Alles Gutes für dich!"
Rafael SilvaLeitor de Rocky Mountains
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Senti emoção, medo, achei que você é maluco, senti saudades, fiquei com vontade de fazer a trilha, e no final desisti… mas não de fazer trilhas tá! Só desse final perigoso!
Parabéns pelo livro, pela coragem e determinação! Parabéns por nos inspirar, por fazer olhar o mundo de diferentes formas. Por nos mostrar que devemos sair da rotina, sentir a natureza, viajar… e o que mais precisamos é ter um coração em paz e bons amigos!"
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