A 80km de Marrakesh, no Marrocos, encontra-se a cadeia montanhosa Atlas, que corta o país. E é nele que ergue-se, imponente, o monte Toubkal, a maior montanha do norte da África, cujo pico está a 4.167m de altitude. No início do mês fugi da sensação térmica de 50ºC da medina de Marrakech para uma rápida expedição ao topo. Na companhia de dois amigos de Paris que motivei a me acompanhar na empreitada, parti para a cidade de Imlil, onde nos juntamos com o guia Abdul, nosso cozinheiro Omar e a mula Catarina. O idioma local é o berbere. Mas a maioria fala árabe também e, os mais instruídos, o francês.
No primeiro dia, em temperatura amena e ar puro, aproveitamos para treinar em umas montanhas da cidade para a aclimatação à altitude. Este procedimento é bem recomendável, já que se pode alcançar em 2.300m num trekking leve de cinco horas. Após o treino, comemos uma refeição rica em carboidratos para o início da ascensão na manhã seguinte. Às 7h30 partimos já num sol forte de cerca de 35oc. A primeira etapa até o acampamento base é tecnicamente fácil, mas o calor dificulta o percurso que dura cerca de sete horas. O percurso é repleto de lindas paisagens dos vales do Parque Nacional do Toubkal e é normal cruzar em diversos momentos com agricultores locais e outros grupos que fazem trekkings diários ou retornam do cume com suas mulas carregadas pelos caminhos estreitos.
No acampamento base, com capacidade para 200 pessoas, o ambiente é descontraído e a temperatura já cai um pouco. Ali já estamos a cerca de 3.200m de altitude. Os distintos grupos se espalham pelos terraços e pátios do acampamento para relaxar, conversar e tomar um chá de menta - típico da região. Depois de um jantar reforçado todos se recolhem cedo, pois a saída de ataque ao cume começa às 5h e depois que o primeiro levanta, os demais se despertam em seguida como uma onda.
O terceiro já é o dia do ataque ao cume. A temperatura baixa já nos obriga a colocar uma outra camada para o início do dia, enquanto a luz do sol ainda não esquenta o suficiente. Do acampamento base ao cume são mil metros de ascensão. A primeira das duas horas e meia é a mais desafiadora. Cascalhos soltos, pedras altas e trilha íngreme logo no início da caminhada já colocam os físicos à prova. Na segunda hora já é possível sentir bem o peso da altitude na respiração, mais ofegante que o habitual. Alguns do grupo chegaram a sentir um pouco de dor de cabeça, mas nada que tenha durado muito ou atrapalhado o ritmo.
A 500m de altitude do topo, uma corrente gelada de ar entrou contra nós e tivemos que investir em uma segunda camada (corta-ventos e anoraks), luvas, gorros e toda a proteção necessária, pois a queda de temperatura havia sido drástica. Apesar de estarmos no verão marroquino, ainda passamos por algumas placas de neve remanescentes.
No inverno, o Toubkal é coberto de gelo e sua ascensão se torna ainda mais complicada. Com mais riscos e com a necessidade de uso de crampons, equipamentos de segurança e de um guia eficiente.
Os metros finais até o cume são técnicos, não são os mais complicados do trecho, o que fazem com que a chegada ao topo seja mais aprazível. De lá, presenciamos um nascer do sol maravilhoso sobre as nuvens. Após alguns minutos de repouso e contemplação, hora da descida. Afinal, estamos ali apenas na metade do percurso. E para baixo, os santos ajudam, mas é quando os joelhos mais sofrem. Nosso grupo optou por descer de uma vez só até Imlil. Ou seja, depois da ascensão de 1.000m no início da manhã, descemos 2.800m até a cidade de onde saímos. Ao todo foram pouco mais de oito horas de trekking no dia, amenizados pelos pontos de suco de laranja e água que encontram-se espalhados no caminho.
A experiência no Toubkal foi muito interessante e me serviu como um bom treino para a próxima montanha: se tudo der certo, em setembro parto para a subida do Mont Blanc, na França. O topo do Atlas é mais acessível do que parece. Na maior parte do tempo a dificuldade se mantém em média e razoável, com pontos específicos difíceis. A um custo de cerca de R$ 400,00 se pode partir nesta aventura de três dias com tudo incluído (pernoites em Imlil e no refúgio base, refeições, transporte ida e volta de Marrakesh, guia, cozinheiro e mula). Um desafio que contrasta com tudo que você já viu do Marrocos onde você pode se superar em um percurso exótico e atraente, muito além dos coqueiros, desertos, dromedários e praias do país.
Um abraço a todos,
Rafael Duarte
Miramundos
|