Todo montanhista que se preze já deve ter sonhado em escalar o Everest. Por mais difícil que possa parecer, e é, isso passa pelo imaginário de todos. Embora existam montanhas tecnicamente mais difíceis, o Everest é a mais alta. É o lugar onde nós, seres humanos, podemos chegar mais perto do céu com nossos próprios pés.
Escalar essa montanha não é para qualquer um e exige muito treino, dedicação, sacrifício e dinheiro. Também exige sorte, pois existem fatores externos à nossa vontade que, mesmo com todo o preparo, não nos garante a chegada ao cume e o retorno em segurança.
Em novembro de 2012, realizei o sonho de muitos anos que era ver essa montanha de perto. Embarquei para o Nepal para percorrer a trilha ao Campo Base mais famoso do mundo, cobiçado por 11 em cada 10 trekkers.
A viagem em si é indescritível e a aconselho a todos. Mas o motivo que me leva a escrever este artigo é a descoberta de que não existe um só Everest no mundo. Pelo contrário, existem cerca de 7 bilhões de Everests. Isso mesmo, um para cada ser humano vivo.
Durante a caminhada pude observar pessoas de todas as idades, nacionalidades, condições físicas, humores, sonhos, limitações e metas. Todas tentando superar os próprios limites naquele ambiente hostil, em condições não convencionais e estranhas ao seu dia a dia.
Observei guias, carregadores e trekkers extremamente fortes, que caminhavam rápido, com muito peso nas mochilas e que praticamente não faziam esforço para atingir as metas previstas para cada dia. Por outro lado, notei que pessoas menos privilegiadas física ou mentalmente faziam um esforço tremendo para chegar aos mesmos destinos. Eram idosos, deficientes físicos e muitos outros que simplesmente “não estavam prontos” para encarar uma aventura como essa. No entanto, todos tinham o mesmo objetivo: alcançar seus limites e, se possível, ultrapassá-lo.
E aí vem a pergunta: qual é o limite de cada um? Qual o topo do mundo de cada um? Qual Everest é mais alto? O que é mais difícil: subir o Everest ou ganhar uma medalha de ouro olímpica? Subir o Everest ou vencer o Prêmio Nobel? Subir o Everest ou salvar vidas num incêndio? Subir o Everest ou cuidar de seus filhos e vê-los crescer saudáveis, tornando-se pessoas dignas, honestas e que ajudarão a melhorar nosso planeta?
Qual Everest é mais alto: aquele do montanhista com muita experiência e preparo que consegue chegar a 8.000m ou o de uma pessoa que nunca colocou o pé em uma montanha e chega a 6.000m? Quem foi mais forte ou merece mais louvor? E qual o melhor aluno: aquele que já sabe quase tudo da matéria no começo do semestre e tira 9,0 na prova final ou aquele que não sabia nada e tira 8,0? Quem aprendeu mais? Quem progrediu mais?
Simplesmente não há respostas para essas perguntas, pois são coisas incomparáveis. A única coisa que importa é que alguém tinha um sonho e que se esforçou ao máximo para atingi-lo. A meta em si sempre será gratificante, motivo de orgulho, satisfação e admiração, mas o caminho é que nos faz chegar lá. A superação nos faz crescer. O cume é consequência, não o objetivo.
A humanidade sempre admirou e continuará admirando os grandes feitos. É de nossa natureza. Mas minha maior lição desta aventura foi poder constatar que, mesmo que não se chegue ao cume do Everest físico, existem outros Everests mais radicais, mais difíceis, mais desafiantes que todos nós podemos ousar escalar. Basta para isso sonhar, dedicar-se e curtir o caminho. O cume é logo ali e se chega lá dando um passo após o outro. Escolha o seu Everest e parta para conquistá-lo.
Abraços
Hélio Costa.
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