Um ano e dois meses do acidente, e da sua morte?
Quando aconteceu?
Meu filho, Bernardo Collares Arantes, não morreu de hipotermia na primeira noite. Não enlouqueceu com a hipotermia e arrancou suas roupas.
Não estava tão ferido assim: fratura na bacia, possível fratura de coluna e sangrando, como foi publicado na época por pessoas que se dizem entendidas no assunto.
Não estava em um estado que não pudesse se mexer, sequer pegar a água deixada ao seu lado.
Não se jogou para se livrar das dores terríveis.
Não chegou até à borda com mochila, saco de dormir, manta térmica e capacete para se aliviar das suas necessidades fisiológicas.
Todos esses argumentos foram usados para se justificar a omissão de socorro e o sumiço do seu corpo que não foi encontrado no platô que estava vazio.
Pois bem, durante alguns dias cinco profissionais estiveram vasculhando a Super Canaleta, local onde ele poderia estar, caso alguma das hipóteses acima fosse verdadeira.
Do meu filho, Bernardo Collares Arantes, acharam NADA !!!
Encontraram sim, material de dez anos atrás, porque ,excepcionalmente a Super Canaleta estava completamente sem neve. Verão igual a esse em El Chaltén não acontecia há dez anos.
Portanto, o "moribundo" desescalou.
Sem cordas, tentou fazer escalada Solo como já estava treinando aqui no Pão de Açucar e no Pico Maior em Salinas, que, coincidentemente, ou não, são os lugares onde ele escolheu para que suas cinzas fossem lançadas.
E meu filho, Bernardo Collares Arantes, era tão bom no que fazia, que, com tudo contra: ferimentos (agora já não se sabe quais), nevasca e falta de equipamento, tentou descer e NÃO DESPENCOU, porque não está na Super Canaleta.
Nem ele, nem nenhum dos equipamentos que foram enumerados que teriam ficado com ele, estão no platô vazio!!!
Até agora, meu filho, Bernardo Collares, encontra-se DESAPARECIDO !!!
Heliane Collares
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