Quando o verão chega, centenas de pastores sobem com suas vacas, bois, ovelhas e cabras paras as montanhas dos Alpes.
Porém esse tradicional trabalho nos meses quentes do ano não é mais realizado apenas por suíços: um terço das pessoas vem dos países vizinhos.
"O dia começa às cinco da manhã. Nós buscamos as vacas no pasto, as ordenhamos, depois as soltamos, começamos a fazer o queijo e o trabalho dura toda a tarde. Depois temos de limpar os estábulos e também cuidar dos queijos já fabricados, que pesam entre 8 e 13 quilos. Também controlamos para ver onde estão os bois. Às quatro da tarde buscamos de novo as vacas, as ordenhamos e soltamos de novo. Não podemos nos esquecer de alimentar os porcos. O trabalho termina às oito da noite ou mais tarde."
Sarah Fasolin sabe do que está falando. Entre 2003 e 2008 ela passou três verões como pastora nos Alpes bernenses. Foi quando percebeu que uma parte considerável dos pastores nas montanhas vizinhas também era estrangeira.
Apoio de fora
"Eu me surpreendi, pois tinha a imagem inocente de que esse trabalho seria realizado especialmente por suíços", diz. Depois percebeu que os agricultores alpinos têm grandes problemas para encontrar mão de obra e que estrangeiros vêm ocupar as vagas. Isso significa que o típico queijo alpino não é necessariamente feito por aqueles personagens comuns dessa região inóspita, os "Alpöhi", agricultores de longas barbas e o cachimbo na boca, mas sim por uma pessoa que é, na realidade, professora de escola na Alemanha. Porém o leite precisa ser genuinamente tirado de vacas suíças.
Fasolin quis compreender porque uma profissão 100% suíça acabou sendo exercida também por estrangeiros e, para tal, filmou durante um verão inteiro a região entre duas montanhas nos Alpes da região de Berna, em Haslital.
Ela pesquisou a cooperação entre os pastores estrangeiros e os nativos. Assim surgiu o filme intitulado "Die Käsemacher" (Os Fazedores de queijo), seu trabalho de conclusão no curso universitário de sociologia.
Tempos mudam
No passado as famílias eram maiores. Os jovens cuidavam das pequenas propriedades nos Alpes, lidavam com as vacas e faziam o queijo. Outros permaneciam nos vales e ceifavam o feno para o inverno.
Com o passar do tempo, as famílias foram se tornando menores e os jovens abandonavam os vales montanhosos em direção a regiões onde o trabalho era mais bem pago. Desde os anos 1970 são contratados estrangeiros para realizar o pastoreio alpino, uma tendência que só faz aumentar.
Esses pastores modernos vêm de países como Alemanha, Áustria, Itália e também Polônia. São indivíduos, jovens famílias ou casais, que se comprometem a passar uma temporada de dois a três meses com muito trabalho nos Alpes suíços em troca de um pequeno salário.
Mais duro que parece
"Os dois meios de vida entram em conflito", reflete Sarah Fasolin. Um agricultor de montanha e um pastor temporário têm duas mentalidades e formas diferentes de se comunicar. Outra barreira adicional para os estrangeiros, além das complicações burocráticas, é a língua. A dificuldade de compreender o dialeto local pode levar a incompreensões ou até conflitos.
Segundo a socióloga de 33 anos, o maior problema é, porém, que muitos dos candidatos a pastor têm uma imagem falsa do que os espera. "Eles podem imaginar a dureza do trabalho, mas não esperam que haja tanta coisa para fazer."
Razões distintas
Um perfil específico para o pastor temporário não existe para Sarah Fasolin. "Existem aqueles que querem fugir da civilização e precisam dar um tempo. Outros procuram uma aproximação da natureza. Também existem aqueles que gostam mais dos animais do que das pessoas. Outros querem simplesmente um trabalho."
O que espera a todos eles é muito trabalho durante o verão. Fasolin descreve essa temporada nos Alpes como uma situação extrema, um desafio para o corpo e a mente. "Todos os dias vocês faz a mesma coisa, cada minuto é planejado. Você fica muito sozinho e também distante do meio que está acostumado. Existem pastores que desistem quando percebem que chegaram aos seus limites."
Além disso, também ocorrem conflitos entre agricultores e esses pastores. Também os próprios pastores podem ter disputas entre si em grandes cooperativas, como é o caso da região do Oltscherenalp.
Encontrar soluções
Mas, na maioria dos casos, os agricultores locais se entendem bem com os pastores estrangeiros, explica Fasolin. "O agricultor está consciente de que esse trabalho não poderia ser realizado sem ajuda externa. Assim eles são abertos e têm poucos preconceitos contra o pessoal de fora. Afinal, eles encontraram uma certa forma de convivência."
Em todo caso, alguns turistas nas montanhas reclamam ao ver que alemães estão fazendo o queijo alpino. Estes respondem, lembrando que os suíços devem estar satisfeitos de existir, pelo menos, pessoas dispostas a fazer esse trabalho.
Sarah Fasolin sabe que esse tradicional trabalho não pode mais funcionar sem mão de obra estrangeira. Cada vez mais regiões alpinas estariam abandonadas, o que já ocorre atualmente na Suíça. Porém ela acredita que se algumas regiões são deixadas de lado, outras melhor conectadas com o país podem ter um futuro.
Globalização
"A tendência de racionalização aumenta. Cada vez mais as regiões alpinas terão de dividir uma queijaria em comum. Outro passo possível seria deixar todas as vacas sob a responsabilidade de uma pessoa e ter menos mão de obra para a ordenha."
A agricultura alpina sofre atualmente mudanças, pois não está completamente alheia às influências da globalização. O que resta é "o fascínio, a inacreditável bela face da vida na natureza", reforça Sarah Fasolin, que também nesse verão deve trabalhar por um mês como pastora alpina.
"Lá fora, nas montanhas, vemos as quatro ou cinco horas da manhã imagens que não existem em lugar nenhum. Ou nos momentos em que precisamos buscar uma vaca durante uma tempestade ou através de campos cobertos de neve. É uma vida intensa, o que faz dos Alpes um local bastante atrativo." |