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Circuito Huayhuash
Um dos 5 trekkings mais bonitos do mundo!
 
Publicado em 22/02/2010 - 22h42 - Texto e fotos - Fábio Fliess
 
 
 
   

Circuito Huayhuash – 04 a 13 de agosto de 2009

Quando cheguei ao acampamento da laguna Jahuacocha e vieram me felicitar por ter chegado ao cume do Diablo Mudo tirei um peso enorme dos ombros. Agora podia relaxar! Consegui cumprir o que vinha planejando há mais de um ano: completar o circuito de Huayhuash!  Um dos 5 trekkings mais bonitos do mundo!

A Cordilheira Huayhuash está localizada ao sul da cidade de Huaraz, no Peru. Menos procurada que a vizinha Cordilheira Blanca, Huayhuash ficou conhecida por abrigar o Siula Grande (6344m), palco de uma quase tragédia narrada no livro e filme “Tocando o Vazio”, de Joe Simpson. Lá também se encontra a segunda montanha mais alta do Peru, o Yerupaja (6634m) e outras cinco montanhas acima de 6 mil metros.

Embarcaram comigo nessa viagem os meus amigos de trilha, Gilmar, Alessandra e Rafael. 
Depois de inúmeras caminhadas e muita preparação física, embarcamos para o Peru no dia 01 de agosto de 2009.  No mesmo dia, rumamos para Huaraz de ônibus.  A programação era fazer duas caminhadas de aclimatação, antes de encarar o circuito.  Optamos pela rota clássica, com um total de 10 dias. Ao nosso grupo se juntaram um casal de BH (Luis e Cristina) e um casal da Espanha (Alberto e Maria).

 
 
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O primeiro dia foi uma longa viagem até o acampamento de Cuartelhuain (4100m), onde nos encontramos com a equipe que nos acompanharia. Teríamos guia, ajudante, cozinheiro, arrieros e quatorze mulas para transportar equipamento e provisões.  O visual que tínhamos das montanhas nevadas foi uma pequena amostra do que encontraríamos durante o percurso.

Quem pretende fazer o circuito deve se preparar para encarar muito frio, altitude e muitos “pasos” para vencer.  No segundo dia, já encaramos dois passos que nos levaram a 4700m e 4650m de altitude, respectivamente.  Foi o dia mais díficil e mais longo. Para complicar, o Rafael teve problemas intestinais e chegou muito fraco ao acampamento da laguna Carhuacocha.  Ele chegou tão cansado que pouco aproveitou o jantar.

Na manhã do terceiro dia, recebemos a triste notícia de que o Rafael iria abandonar o trekking, pois não havia se recuperado.  Ele usaria um caminho auxiliar que o levaria ao povoado de Queropalca e de lá, a Huaraz.

Depois do baque, só nos restava voltar a caminhar.  A expectativa era que este fosse o dia mais bonito de todo o circuito e isso se mostrou verdadeiro. Durante todo o tempo, os nevados nos acompanhavam.  Quando começamos a subida do passo Siula (4850m) pudemos ver as três lagunas, um cartão postal de Huayhuash.  A subida era forte e sofríamos na trilha. Mas ali vi uma cena impressionante. A Cristina estava muito cansada e nosso guia, Diogenes, simplesmente a colocou em seus ombros e a carregou até o topo do passo. Sem dúvida, uma demonstração de força.  O pernoite foi no acampamento de Huayhuash, onde presenciei os arrieros num jogo de futebol a quase 4300m de altitude.

O quarto dia de caminhada nos reservava uma visita as águas termais de Atuscancha.. Para isso tínhamos que vencer o passo de Portachuelo (4750m).  A caminhada foi agradável, mas enfrentamos uma nevasca bem próximo do acampamento Viconga. As fontes de Atuscancha eram formadas por duas piscinas, com a água aquecida a 45º. Uma recompensa pelo esforço dispendido até então!
Os dias passavam e eu estava cada vez mais aclimatado. Apenas algumas bolhas me incomodavam.  A madrugada do quinto dia foi uma das mais geladas e o nosso acampamento acordou pintado de branco. Ainda assim, a animação e a expectativa eram grandes pois a meta do dia era o passo Cuyoc (5000m).  Para muitos, esse seria o ponto mais alto do trekking. Foi duro vencê-lo, mas a sensação foi muito boa! Mais algumas horas de caminhada, e chegamos ao acampamento de Guanacpatay (4300m).

No dia seguinte, a programação era pernoitar no povoado de Huayllapa (3600m).  Nosso guia sugeriu que seguíssemos até o acampamento de Huatiac (4250m). Embora fosse necessário encarar um belo desnível, pouparíamos energia no dia seguinte, véspera da tentativa ao Diablo Mudo (5350m). Aceitamos a idéia, e nossa passagem por Huayllapa se mostrou realmente uma perda de tempo, pois o único telefone disponível não funcionava.  Nesse dia, o Gilmar começou a sentir dores no tendão, fez boa parte desse trecho mancando, e evitou a todo custo montar no cavalo de emergência.

O sétimo dia de trilha foi o mais curto.  Com pouco mais de 2 horas de caminhada, vencemos o passo de Punta Tapush (4800m). E logo depois já estávamos no acampamento, descansando.  A proposta do nosso guia se mostrou realmente acertada. Tivemos muito tempo para descansar e nos preparar para o desafio de escalar o Diablo Mudo. Infelizmente, não poderíamos contar com o Gilmar, ainda sofrendo com o tendão.

A noite foi difícil, por conta da ansiedade, e pouco dormi. Acordei "no susto" com o Diógenes nos chamando para um rápido café.  Em cima da hora, a Alê avisou que não iria, pois estava com muito frio e preocupada.  Só eu e o casal de espanhóis iríamos encarar a montanha.

A aproximação foi dura, em um terreno muito inclinado e irregular, que nos fazia escorregar a toda hora. Ainda estava escuro quando chegamos no início do trecho com  neve.  Colocamos os grampons e sacamos os piolets. O trecho nevado não era muito técnico, mas faltava ar.  A subida consistia em escalar algumas arestas, totalizando uns 300 metros.

Depois da expectativa frustrada por um cume falso, às 7h20 chegamos ao cume.  O visual, mesmo com o tempo não ajudando, era fantástico.  Todos os gigantes de Huayhuash estavam à nossa frente: Yerupaja, Yerupaja Chico, Suila, Sarapo, Carnicero, Yantaruri, Jurau, Trapecio, Puscanturpa e outros que não consegui guardar o nome.

Logo começou a nevar e resolvemos descer.  A inclinação era indecente,e fomos deslizando e carregando pedras e areia.  Ao final da descida, estava imundo do joelho para baixo.  Descemos pela Quebrada Huacrish, até encontrar com nossos amigos que seguiram pela trilha normal, transpondo o passo Yaucha (4850m). Paramos para descansar exatamente no ponto onde as trilhas se cruzavam, e logo avistamos Luis e Cristina no alto do passo.  Em seguida, apareceram a Alê e o Gilmar.  Com mais 1 hora de caminhada, chegamos ao acampamento da laguna Jahuacocha.  E comemoramos com todo o grupo! Tiramos a tarde para descansar e a noite tivemos truta no jantar.  Os arrieros pescaram várias delas na laguna.

A idéia inicial era usar o nono dia como descanso no mesmo acampamento, mas resolvemos antecipar nossa saída para Llamac.  Assim, sem pressa, começamos a encarar nosso último passo.  Tirei um número enorme de fotos nesse dia. 

Próximo de meio dia, chegamos no passo de Pampa Llamac (4300m).  Almoçamos e lançamos os últimos olhares para os nevados de Huayhuash. Desse ponto em diante, teríamos uma forte descida até Llamac, que estava a 3500m de altitude.  Chegamos no povoado ás 14h30.

Depois de descansar um pouco, voltamos ao povoado para tomar algumas cervejas.  Enquanto isso, no acampamento, o cozinheiro preparava a Pachamanca, que é um assado de ovelha temperado com ervas e acompanhado de vários tipos de batatas, cujo cozimento é feito sob a terra e pedras quentes.

No jantar comemoramos a expedição bem sucedida!! Sem ter que caminhar no dia seguinte, saboreamos o delicioso jantar preparado pelo cozinheiro Cirilo e bebemos à vontade.  Lá pelas tantas, com todos se espremendo na barraca refeitório, começaram os discursos.  Cirilo falou pelos locais e Luis pelos brasileiros e espanhóis. A festa acabou por volta das 22hs. Nem parecia, mas era nossa última noite em Huayhuash.

No último dia, tudo era feito em câmera lenta.  Arrumamos os equipamentos e tomamos café mais tarde. A van que nos levaria de volta à Huaraz chegou às 9hs. Nos despedimos dos arrieros, pois todos eram moradores de Llamac.

Começava então o lento retorno até a "cidade grande".  Depois de 9 dias curtindo o silêncio, me estressei rapidamente com o som que vinha do CD player da van.  Minha percepção é de que o CD inteiro tinha uma só música, tamanha a semelhança entre as faixas. Fizemos uma rápida parada na cidade de Chiquián, para esticar as pernas.  O motorista da van apareceu com outro CD.  Para mim, nada mudou!!!!

De volta à estrada, fomos sacolejando morro acima até encontrar com a rodovia.  A partir daí, a viagem foi bem mais tranquila.  E logo depois do almoço, chegávamos no hotel.

Foram 10 dias isolados do mundo. Saí de Huayhuash com a certeza de que havia visto algumas das paisagens mais incríveis da minha vida.  Estava feliz por ter cumprido todos os objetivos propostos e muito feliz por estar voltando para casa cheio de histórias para contar.  Afinal, é isso que carregamos dessas aventuras: histórias para nunca mais esquecer!!!

 
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