Alguns dias atrás a internet viralizou as fotos de Kittiya Pawlowski em que aparece um leopardo das neves próximo ao Everest. Os principais montanhistas do mundo ajudaram a viralizar as fotos, mas Jocelyn Chavy e Ulysse Lefebvre, editores da revista Alpine Mag, desconfiaram quando analizaram melhor as fotos.
A análise de feita Jocelyn e Ulysse é bem profunda e mostra muito mais do que uma montagem com a inclusão de um leopardo nas fotos, mas sim uma "colagem" de várias fotos. Confira abaixo parte do trabalho publicado no site da revista Alpine Mag:
“Elas eram boas demais para serem verdadeiras. O mundo inteiro viu as fotos de Kittiya Pawlowski de um leopardo da neve, tirado � dist�ncia e cercado por magn�ficas montanhas do Himalaia. O problema � que a ilumina��o nas fotos da fot�grafa americana � um pouco estranha e as imagens mostram efeitos de colagem que lembram fotomontagens. Diante dessas d�vidas, decidimos analisar as imagens em detalhes. Agora podemos provar que pelo menos tr�s das fotos foram manipuladas, tendo identificado os peda�os de montanha usados para criar os fundos. Quanto a saber se � prov�vel que os leopardos da neve sejam vistos nas geleiras, Vincent Munier, especialista em leopardos da neve, � categ�rico - a resposta � n�o. Aqui est� a verdade por tr�s dessas fotos falsas.”
Jocelyn Chavy e Ulysse Lefebvre - editores da Alpine Mag
Quatro fotos. Apenas quatro, sem introdução ou história. Sua autora, Kittiya Pawlowski, afirma ser uma fotógrafa americana. Mas ninguém no mundo da fotografia de vida selvagem já ouviu falar dela. O mesmo vale para o mundo da fotografia de montanha em geral. Mas a sorte de iniciante acontece, e você não pode invejar Pawlowski se ela teve a sorte de tirar algumas fotos de um leopardo da neve, um animal que algumas pessoas mal vislumbraram, mesmo depois de passar anos no Himalaia.
O problema está na natureza das fotos, sua composição, a luz, sua localização. Em outras palavras, sua veracidade.
As fotos de Pawlowski são excelentes, mas são criações, composições de várias imagens combinadas em uma usando software como o Photoshop. Um dos principais problemas com a publicação dessas imagens é que elas não são apresentadas como criações, mas como fotografias reais, acompanhadas por um longo discurso em que Pawlowski descreve sua jornada até Gorak Shep, no sopé do Everest, para procurar o leopardo.
“Eu não tenho nada contra esse tipo de criação, mas tem que ser apresentado como tal.”
Vincent Munier, um fotógrafo que rastreia leopardos da neve há muitos anos
Análise da foto 4
Os olhos de águia de uma experiente fotógrafa do Himalaia, Jocelyn Chavy, identificou as duas áreas (cerca de um quilômetro de distância) que formam as duas metades da foto n°4. A parte superior desta imagem mostra um cume estreito com esporas de neve muito íngremes. Este cume existe; é o cume sudoeste de Nuptse. Este 'bite' de montanha foi inserido para formar a parte superior da imagem, ao sol. A seção inferior da imagem parece um col, sobre o qual o (falso) leopardo está se movendo.
Este col fica no cume oeste do Nuptse, que faz fronteira com a famosa cascata de gelo do Everest (e a rota comum). Uma expedição japonesa atravessou esse 'col' em 1977 e, de acordo com Rodolphe Popier, está no topo da rota que a expedição de Marc Batard seguiu no ano passado, atingindo 5.920 m. A altitude deste col de difícil acesso, como mostrado no Mapa Finlandês, é de 6.300 m. Mais importante ainda, as duas partes da imagem não podem fazer parte de uma única foto porque mostram duas partes muito diferentes do Nuptse. Portanto, a imagem n°4 é uma invenção total. |