O desaparecimento da mergulhadora russa Natalia Molchanova, de 53 anos, abalou o mundo do esporte, sobretudo porque a atleta morreu praticando uma atividade em que era considerada, sem dúvida, a melhor do mundo.
Os registros confirmam esse título: 41 recordes mundiais, campeã do mundo 23 vezes e capacidade de segurar a respiração por mais de 10 minutos.
Três dias após o sumiço da atleta na costa da ilha de Formentera, no sul da Espanha, não se sabe ao certo quais foram as causas do acidente que consternou o mundo do mergulho livre.
O mergulho livre ou de apneia, prática em que Molchanova fez fama, é o esporte subaquático por excelência. Baseia-se na imersão sem ajuda de ar comprimido.
"Ela era uma estrela da apneia e ninguém se atrevia a pensar que poderia sofrer algo, mas ela estava no mar, e quando brincamos com o mar já sabemos quem tem mais força", afirmou ao jornal New York Times o presidente da Associação Internacional para o Desenvolvimento da Apneia (Aida), Kimmo Lahtinen.
O filho de Molchanova, Alexey Molchanov, também campeão mundial de apneia em sua categoria, afirmou à BBC que já não há esperança de resgatá-la com vida.
Segundo Molchanov e a Aida, a mergulhadora nadava a três quilômetros da costa de La Savina, em Formentera, a uma profundidade de 30 metros e em meio a "fortes correntes submarinas", ao lado de outros três mergulhadores.
Ela não voltou mais à superfície. Nenhum dos acompanhantes deu uma explicação concreta sobre o que pode ter ocorrido e os órgãos de resgate decidiram encerrar as buscas nesta quarta-feira.
Agora esperarão apenas que o corpo apareça na superfície do mar.
O que aconteceu?
Especialistas consultados pela BBC Mundo (serviço em espanhol da BBC) afirmaram que o mergulho não é um esporte de alto risco se for praticado mediante todos os protocolos de segurança.
"O mergulho, em geral, é realizado em conjunto. É preciso sempre ter uma pessoa ao lado para ajudar quando há algum acidente por falta de oxigênio ou outro fator", disse Santiago Jakas, presidente da Associação Espanhola de Mergulho.
O esporte se pratica tanto em piscinas como no mar, ambiente de maior complexidade por causa das correntes.
Há várias categorias e dois objetivos básicos de competição: aguentar o maior tempo sob a água sem respirar e alcançar a maior profundidade.
No mar, as atividades mais conhecidas - e onde Molchanova reinava absoluta entre as mulheres - são as imersões de peso constante, com tipos diferentes de nadadeiras, e as livres.
Há três provas de competição: uma envolve nadar o mais fundo possível com uma única respiração e apenas uma nadadeira (onde o russa era a única mulher na história do esporte a quebrar a barreira mítica de 100 metros, em 2013), a com duas nadadeiras e aquela em modo livre.
No mergulho livre o principal objetivo é alcançar a maior profundidade. Competidores usam pesos, o chamado peso constante, que os ajudam a afundar.
Esses pesos devem ser carregados quando o mergulhador volta para a superfície, o que garante maior esforço físico.
Molchanova levava vários pesos quando realizou seu último mergulho.
As correntes
Segundo Jakas e outros mergulhadores, o fato de a atleta russa estar em uma região de "fortes correntes submarinas" não deve ser considerado a causa definitiva de seu desaparecimento.
"Para os praticantes de apneia as correntes não são tão perigosas como para os mergulhadores com cilindros, pois eles podem subir à superfície a qualquer velocidade. Se sentem uma corrente, precisam apenas subir", afirmou o mergulhador espanhol.
O maior risco para os praticantes de apneia é a prática solitária. A maioria dos acidentes graves ocorre em imersões sem companhia, após desmaios ou síncopes sem socorro próximo.
"É um esporte no qual não se respira e algumas vezes, quando as reservas de oxigênio acabam, ocorrem desmaios, o corpo se apaga. Mas com outro colega nas imediações é algo fácil de resolver", afirmou Jakas.
O que se sabe sobre o desaparecimento de Molchanova é que ela estava com outros mergulhadores, mas ainda não está claro se eles estavam apoiando a campeã ou faziam exercícios separados.
Além disso, os colegas que a acompanhavam afirmaram que ela não usava uma espécie de corda branca que vai da superfície ao fundo e que funciona como guia em situações de risco.
Após o fim das buscas, integrantes das equipes de resgate afirmaram ao jornal El País que "o mar é imenso, e um corpo pequeno, sobretudo na superfície, entre correntes com velocidade superior a 1 km/h, pode ser arrastado por até 50 km por dia". |