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ESPECIAL: 100 ANOS DO ENDURANCE LIÇÕES DE SHACKLETON #7
 
A arte de formar equipes para grandes desafios
 
texto: Cleyson Dellcorso
13 de janeiro de 2015 - 11:30
 
 
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  Márcio Bortolusso

Como vimos nos artigos anteriores, Shackleton e sua tripulação já estavam presos no gelo há 16 meses. O moral da equipe continuava alto, mas agora seria necessário que o “Chefe” colocasse em prática a sua arte de formar equipes para grandes desafios: Seria necessário abandonar o banco de gelo e se aventurar ao mar com três pequenos barcos salva vidas, pois a época do degelo se aproximava.

Seria uma tarefa dificílima, um grande desafio àqueles homens já bastante debilitados. Estavam fora de qualquer rota conhecida de navios baleeiros, longe de qualquer civilização e sem meios de comunicação e, ainda pior, a busca por socorro seria feita em um mar revolto e apenas utilizando os remos como propulsão. Quaisquer erros de navegação estariam definitivamente perdidos na imensidão do oceano.

O primeiro grande desafio seria dividir os 27 homens entre os três barcos salva vidas, acomodar as personalidades afins e o nível de experiência de cada um. Cada barco deveria ser autossuficiente, deveriam chegar a alguma ilhota e de preferência junto com os demais, o que era dificultado pelas características diferentes dos três barcos.

A divisão do pessoal era crítica. Cada tripulação enfrentaria um desafio extraordinário e diferente, tanto físico quanto mental. Tarefa muito mais difícil que dividir as pessoas entre as barracas no acampamento no gelo, onde o objetivo era abafar as divergências e manter o moral elevado, agora precisava destas características e mais as habilidades necessárias à navegação e ao grande esforço compatível com cada tipo de barco.

Os relatos dos membros da tripulação obtidos através dos diários e das declarações posteriores são quase unanimes no talento magistral do “Chefe” para combinar experiência, talento e temperamento em unidades eficientes, levando em conta posto e posição.

De um modo geral colocou em cada barco um núcleo sólido de tripulantes: um navegador competente, dois bons marinheiros e alguém para ministrar cuidados médicos, as outras vagas foram preenchidas em função das personalidades.

Shackleton ficou com o barco maior e melhor, porém escolheu os tripulantes mais fracos, problemáticos e pessimistas para acompanhá-lo.

Estas dicas são muito simples e de fácil aplicação, mas ao menos em meu caso, têm eficácia comprovada. Mesmo após cem anos desta expedição, podemos aprender e muito com ela.

Na próxima semana vamos discutir como capacitar a equipe para tarefas difíceis.

O “Chefe” confiava plenamente nos líderes de suas equipes, mas nunca perdia nenhum deles de vista. Há um século já utilizava a liderança situacional e mesmo nas circunstâncias em que estavam, elogiava, comemorava e premiava a cada meta atingida. O prêmio ia desde uma ração extra de carne de foca até um leite quente, o que era um luxo naquele momento. Por sorte conseguiram tirar do navio uma boa quantidade de leite em pó.

Logo após embarcarem nas frágeis embarcações, como se fosse para enerva-los ainda mais, o mar ficou extremamente agitado e receberam a companhia de orcas com seus sopros de gelar o sangue, ocasionando o temor de terem os barcos virados e servirem de refeição às baleias assassinas.

Finalmente, após quase um mês chegaram a um pequeno rochedo, que por ser “terra firme” foi motivo de muita festa, mas ainda longe de qualquer possibilidade de socorro.

Uma nova decisão precisava ser tomada e Shackleton preparou o pessoal para a que tomaria: Deixaria parte dos homens naquele rochedo e buscaria socorro em uma estação baleeira distante pouco mais de 1.500 Km. Vale lembrar que é aproximadamente esta a distância entre os portos do Rio de Janeiro e Salvador e ele deveria fazer o percurso em um barco salva vidas.

Não poderia deixar os pessimistas no rochedo para não contaminar o ambiente...

O grande desafio agora seria formar duas equipes; A primeira composta por 21 homens que deveriam ficar em um rochedo esperando que o “Chefe” voltasse com o socorro prometido e a segunda, composta de 5 homens que o acompanhariam. Não poderia deixar os pessimistas no rochedo para não contaminar o ambiente e ao mesmo tempo precisava de cinco homens que tivessem a força e competência necessária para percorrer aquela imensa distância e suportar todos as dificuldades que já sabiam que encontrariam.

Mais uma vez, Shackleton colocou em prática a arte de formar equipes para grandes desafios

O livro de Alfred Lansing - A incrível Viagem de Shackleton narra com detalhes a epopéia de quase três meses, vivida pelos cinco homens, em busca de socorro para eles próprios e para os companheiros que ficaram sobre uma rocha na imensidão do mar Antártico.

Esta fase da expedição de Shackleton me deu dicas importantes que passei a incorporar em meus treinamentos de Gestão de Pessoas e em programas de Coaching de Liderança:

• A melhor maneira de lidar com tarefas muito difíceis é dividir o pessoal em equipes menores que sejam auto suficientes. É mais fácil para você administrar.

• Conheça cada membro da equipe muito bem, de modo a poder reorganizar o pessoal em caso de necessidade.

• Dê autoridade e poder aos líderes das equipes para que possam agir com liberdade, mas fique atento aos detalhes. Deixe que todos saibam que você avaliza suas ações.

• Fique sempre atento ao desenvolvimento do processo, não se deixe surpreender por problemas a meio do caminho.

• Se necessário mude o rumo. Nestas situações ser flexível é muito útil.

• Faça sacrifícios pessoais, isto faz com que todos percebam o seu comprometimento com a situação.

• Sempre, sempre mesmo, demonstre confiança naqueles que estão agindo em seu lugar.

• Nunca chame a atenção para os pontos fracos de alguém na frente dos outros, mas reforce os pontos fortes na presença de todos.

• Mantenha perto de você os que têm personalidade difícil ou que sejam pessimistas

 


Cleyson Dellcorso tem formação em engenharia e filosofia, possui MBA pela UCLA (EUA), com foco em gestão de pessoas, é especialista em liderança pelo Haggai Advanced Leadership Institute (Singapura) e instrutor do mesmo instituto. É professor de liderança e motivação no curso de pós-graduação em gestão de projetos (PMI) do Instituto Brasileiro de Tecnologia Avançada do grupo IBMEC.



 
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