Na madruga de 10 de junho de 1984, em um porto da Namíbia, no sul da África, um então desconhecido Amyr Klink recebeu autorização para zarpar solitariamente rumo ao Brasil, a bordo de um barco a remo de menos de seis metros de comprimento e mais de uma tonelada de peso. Cem dias e seis horas depois, ao chegar à Praia da Espera, no litoral da Bahia, mais do que conhecido do público, ele se transformou em um herói nacional. Desde então, já protagonizou dezenas de expedições à Antártica, duas voltas ao mundo e a longa viagem - retratada no livro Cem Dias entre Céu e o Mar - permanece até hoje na memória de todos. Não há um brasileiro que nunca tenha ouvido falar naquela expedição - inédita até hoje no mundo, como Amyr conta neste rápido bate-papo.
As pessoas cultuam sua expedição a remo do Atlântico Sul até hoje. A que se deve isso?
Não sei exatamente porquê, mas de alguma maneira ela impressiona as pessoas. Talvez porque tenha sido a primeira vez que alguém fez o percurso, de 3,7 mil milhas a remo. E isso num tempo em que ainda não existia gps ou telefonia celular, o que me obrigou a estudar profundamente as correntes marítimas do Atlântico e a navegar pela astronomia. Eu navegava por meio do sol e do sextante. Apesar de parecer simples, o projeto exigia grande conhecimento.
Foi mais difícil circundar a Antártica ou atravessar o Atlântico?
Depois de ter ido tantas vezes para a Antártica, vejo que remar o Atlântico foi uma experiência muito fácil. Ela parecia assustadora por causa da distância e porque o barco era muito pequeno. Mas era só eu fazer a lição de casa, remando dez horas por dia, que tudo saía muito bem. É menos desgastaste do que tocar um veleiro de 60 pés sozinho, em uma volta ao mundo. Mas, por outro lado, é uma viagem realmente impressionante, porque o barco era muito pequeno. Tem medidas que se tivessem dois ou três centímetros de diferença - por exemplo, a altura do interior - ele não teria sobrevivido às capotagens. Teria enchido de água e afundado.
Ainda se recorda de qual foi o pior momento dessa viagem?
O começo foi um inferno. Ainda em terra, quando cheguei na África, tive de enfrentar um pesadelo burocrático. Depois, no início da viagem, tive de atravessar uma turbulenta corrente e capotei três vezes. mas, no final das contas, foi uma viagem feliz.
Quantas pessoas já repetiram o seu feito?
No Atlântico Sul, até hoje, a única travessia a remo ainda é minha, enquanto no Atlântico Norte já houve mais de 200 travessias a remo. Mas não será por muito tempo, porque sei de dois ou três brasileiros que estão se preparando para repetir o meu feito, além de um americano.
Você faria tudo de novo?
Foi uma viagem linda. A emoção de passar a metade do Atlântico, de ir descobrindo o barco aos poucos e ganhando confiança foi uma das melhores experiências no mar de toda a minha vida. No final, fiquei triste porque estava acabando. Demorei seis horas para desembarcar por causa disso. |