Extremos
 
30 anos da travessia a remo do Atlântico Sul por Amyr Klink
 
Texto: Gilberto Ungaretti - Fonte: Revista Náutica
14 de junho de 2014 - 17:15
 
Até hoje, nenhum outro homem repetiu a proeza de atravessar sozinho o Atlântico Sul a remo. E já se passaram 30 anos!
 

Na madruga de 10 de junho de 1984, em um porto da Namíbia, no sul da África, um então desconhecido Amyr Klink recebeu autorização para zarpar solitariamente rumo ao Brasil, a bordo de um barco a remo de menos de seis metros de comprimento e mais de uma tonelada de peso. Cem dias e seis horas depois, ao chegar à Praia da Espera, no litoral da Bahia, mais do que conhecido do público, ele se transformou em um herói nacional. Desde então, já protagonizou dezenas de expedições à Antártica, duas voltas ao mundo e a longa viagem - retratada no livro Cem Dias entre Céu e o Mar - permanece até hoje na memória de todos. Não há um brasileiro que nunca tenha ouvido falar naquela expedição - inédita até hoje no mundo, como Amyr conta neste rápido bate-papo.

As pessoas cultuam sua expedição a remo do Atlântico Sul até hoje. A que se deve isso?
Não sei exatamente porquê, mas de alguma maneira ela impressiona as pessoas. Talvez porque tenha sido a primeira vez que alguém fez o percurso, de 3,7 mil milhas a remo. E isso num tempo em que ainda não existia gps ou telefonia celular, o que me obrigou a estudar profundamente as correntes marítimas do Atlântico e a navegar pela astronomia. Eu navegava por meio do sol e do sextante. Apesar de parecer simples, o projeto exigia grande conhecimento.

Foi mais difícil circundar a Antártica ou atravessar o Atlântico?
Depois de ter ido tantas vezes para a Antártica, vejo que remar o Atlântico foi uma experiência muito fácil. Ela parecia assustadora por causa da distância e porque o barco era muito pequeno. Mas era só eu fazer a lição de casa, remando dez horas por dia, que tudo saía muito bem. É menos desgastaste do que tocar um veleiro de 60 pés sozinho, em uma volta ao mundo. Mas, por outro lado, é uma viagem realmente impressionante, porque o barco era muito pequeno. Tem medidas que se tivessem dois ou três centímetros de diferença - por exemplo, a altura do interior - ele não teria sobrevivido às capotagens. Teria enchido de água e afundado.

Ainda se recorda de qual foi o pior momento dessa viagem?
O começo foi um inferno. Ainda em terra, quando cheguei na África, tive de enfrentar um pesadelo burocrático. Depois, no início da viagem, tive de atravessar uma turbulenta corrente e capotei três vezes. mas, no final das contas, foi uma viagem feliz.

Quantas pessoas já repetiram o seu feito?
No Atlântico Sul, até hoje, a única travessia a remo ainda é minha, enquanto no Atlântico Norte já houve mais de 200 travessias a remo. Mas não será por muito tempo, porque sei de dois ou três brasileiros que estão se preparando para repetir o meu feito, além de um americano.

Você faria tudo de novo?
Foi uma viagem linda. A emoção de passar a metade do Atlântico, de ir descobrindo o barco aos poucos e ganhando confiança foi uma das melhores experiências no mar de toda a minha vida. No final, fiquei triste porque estava acabando. Demorei seis horas para desembarcar por causa disso.