Quando Charlie Porter apareceu no Vale de Yosemite no início dos anos 70 e começou a abrir novas vias de escalada na imponente parede de pedra monolítica conhecida como El Capitan, ele era um típico homem misterioso, um estranho ao grupo descolado em sua maioria californianos que fizeram de Yosemite o centro da escalada do mundo.
Ele veio do leste dos Estado Unidos - nasceu em Massachusetts - e não tinha crescido no esporte como tantos outros escaladores da sua geração, mas suas habilidades pareciam de outro mundo.
Em 1972, ele e outro escalador, Gary Bocarde, estabeleceram a Shield, que se tornou talvez a mais famosa via de El Capitan. Neste mesmo ano, ele fez a primeira ascensão gravada da face sudeste da parede de El Capitan, e fez sozinho, e nomeou a via de Zodíaco. Em 1973, ele escalou a face sudeste novamente por um caminho diferente, com diferentes desafios, chamando-a de Tangerine Trip, e no verão de 1974 havia estabelecido dois outros caminhos, Mescalito e Grape Race.
Estes eram feitos de nível mundial no montanhismo, mas se o Sr. Porter, que morreu aos 63 anos no dia 23 de fevereiro, no Chile, era um mistério, então, em muitos aspectos ele continuou sendo.
Um homem reticente que não era de alardear suas conquistas e que muitas vezes partiu para a vida selvagem sozinho, sem uma câmera ou um notebook, e Yosemite foi apenas o início de uma vida aventureira que o levou a alguns dos mais remotos lugares do mundo.
Entre eles destaca-se o Monte Asgard, na ilha de Baffin, no norte do Canadá, que e escalou sozinho, e no Cabo Horn, na ponta da América do Sul, ele foi o primeiro a remar de caiaque a perigosa Passagem do Drake, entre América do Sul e Antártida.
“Eu me lembro quando perguntei isso a ele, e ele apenas disse: ‘Oh, foi muito bom. Foi um dia calmo’”, disse ao seu meio-irmão, Barnaby em uma entrevista.
Duane Raleig, editor chefe da Rock and Ice, uma revista de escalada e montanhismo, diz sobre Porter: “Provavelmente um dos grandes aventureiros do século 20. Você seria duramente pressionado para encontrar alguém do segmento outdoor como Charlie Porter”, disse Raleigh.
Na viagem a ilha de Baffin, no Canadá, Raleigh disse, "Sr. Porter, sem telefone e sem rádio, caminhou por 100 quilômetros, através de geleiras, carregando todos os seus equipamentos, e solando esta enorme parede do Monte Asgard por nove dias, chegou ao topo em meio a uma tempestade. Na volta ele ficou sem comida e ainda tinha que caminhar por 10 dias com os pés congelados até um local seguro”.
Um capitão autodidata e construtor de barcos - como também era um escalador autodidata - Sr. Porter, dedicou-se ao trabalho científico, no extremo sul do Hemisfério Ocidental por 20 anos ou mais.
Ele fez levantamentos botânicos e oceanográficos da costa sul-americana, orientando cientistas pelos labirintos dos fiordes chilenos e pelos canais no arquipélago de Terra do Fogo. Nos últimos anos, ele ajudou a conduzir estudos climatológicos - a criação de estações metereológicas e redes de monitoração de geleiras - em associação com o Instituto de Mudanças Climáticas da Universidade de Maine.
Barnaby Porter, que vive em Walpole, no estado do Maine nos Estados Unidos, confirmou a morte do seu meio-irmão Charlie Porter, em consequência de um ataque cardíaco em sua casa, em Puerto Williams, no Chile, no Canal de Beagle próximo ao Cabo Horn.
“Ele sempre alegou que tinha a casa mais ao sul do Hemisfério Ocidental”
, disse Barnaby
Charles Talbot Porter, chamado por Talby em sua família, nasceu em 12 de junho de 1950, em Nashua, Nova Hampshire, do outro lado da fronteira do estado de Pepperell, em Massachusetts, onde cresceu. Seu pai, também chamado de Charlie, foi o médico da cidade, sua mãe, Barbara Cooney, foi autora de livros infântis e escreveu e ilustrou o livro “Miss Rumphius”.
O jovem Charlie, de acordo com o seu irmão, foi um pouco solitário e que depois se entreteria com projetos excêntricos, ele uma vez construiu um túnel de vento para testar os diversos modelos de seus planadores. Ele jogou futebol americano, hóquei, beisebol como todo menino e praticou remo no colégio. Ele nunca se formou na faculdade, embora o seu irmão disse que ele poderia ter dado aulas na Universidade de Boston e no MIT. Seu interesse por montanhismo, disse Barnaby, foi catalisado após liderar o resgate de estudantes presos em Huntington Ravine em Mount Washington.
Sr Porter, viveu durante um período na casa que construiu para a sua mãe no final dos anos 70, em Walpole, era casado e se divorciou três vezes. Além de seu meio-irmão, ele deixa uma irmã, Phoebe, e uma meia-irmã, Gretel.
Barnaby Porter disse que, como um construtor de barcos, o seu irmão uma vez construiu um veleiro de aço de 32 pés, começando com um casco de aço que tinha transportado para a casa de seus pais em Massachusetts. Ele trabalhou nele em sua garagem. Então sem nenhuma experiência em vela, além de uma prática de algumas corridas em Salem e essencialmente ter aprendido sozinho, ele levou o barco de Maine até a costa leste, no Golfo do México, através do Canal do Panamá e desceu a costa do Pacífico na América do Sul até o Chile.
Em 2010, Sr. Porter foi capitão de um barco que partiu das Ilhas Falkland (Ilhas Malvinas) para um ponto remoto do Atlântico Sul, o arquipélago de Tristão da Cunha, transportando cientistas suecos que estavam realizando pesquisas do clima, a viagem de regresso ao Uruguai durou 33 dias através de mares revoltos. O líder da expedição, Svante Bjorck, geólogo da Universidade de Lund, estava a caminho para o sul do Chile no mês passado para trabalhar com o Sr. Porter novamente - quando recebeu a notícia de sua morte.
“A presença de Charlie aqui é tão óbvia que ele tem estado na minha mente durante toda expedição”, escreveu em um email, Bjorck direto do Canal de Beagle. “Seu entusiasmo e inspiração tem sido vital. Acho que agora seremos capazes de reconstruir detalhes do nível do mar aqui que é completamente novo para esta região, o lugar favorito de Charlie na terra. Então, vamos, é claro, dedicar esses estudos a Charlie e em sua memória.” |