Era uma sexta-feira de verão, no início de 2003 e o telefone tocou em minha chácara na pacata cidade de Cabreúva, aos pé da Serra do Japi.
- Elias, sua proposta de colaboração com a criação de um site continua de pé? disse com a voz calma de sempre o alpinista Vitor Negrete.
Lógico que sim, desde o início havia me oferecido para colaborar com o sonho dos brasileiros rumo ao Everest, e mais do que nunca aquela era uma época complicada para o desenvolvimento de um site, e por isso queria que esse fosse um problema a menos para eles - Vitor Negrete e Rodrigo Raineri - assim teriam tempo para se preocupar com algo maior, a busca pelo patrocínio.
- Legal, muito obrigado, então em duas horas estou ai, preciso do site pronto em 3 dias, terei uma entrevista ao vivo na ESPN Brasil e quero fazer a divulgação, pode ser?
Duas horas depois estacionou na chácara o famoso “Trovão Azul”, a caminhonete D10 de longa data e grandes aventuras vividas pelo Brasil afora e principalmente quando viajava para escalar o Aconcágua. Cabelo comprido, calça de trekking, tenis e uma camisa branca compunha o visual do alpinista que tinha escalado a temida face sul do Aconcágua.
Conversamos e avaliamos o conteúdo e o design do site durante algumas horas, Vitão, como era conhecido, sempre com a voz calma, dava suas opiniões até que finalmente achamos um caminho a seguir.
Dois dias depois entreguei o site para ele e durante algumas semanas ajudei-o na atualização de notícias. Depois ele pediu o nome dos programas que eu utilizava e dei apenas algumas dicas de como usá-lo e ele se incumbiu de aprender o resto fuçando. Em menos de um mês ele já estava familiarizado com o Dreamweaver e sozinho fazia as próprias atualizações. De tanto que se aprofundou na ferramenta, acabou ficando expert e me passou uma dica que facilitaria a conexão com o servidor, algo que até hoje uso com boas lembranças.
Na expedição de 2005, Vitor chegou ao cume do Everest e nós do Portal Extremos (na época era Portal do Trekking) fomos o primeiro site no Brasil a divulgar o feito do brasileiro, algo que iria se repetir pelos próximos anos.
Em 2006 a expedição brasileira voltou ao Everest, para a segunda tentativa. Vitor Negrete no dia 18 de maio finalmente tocou o cume do Everest sem o uso de oxigênio suplementar, mas passou mal na descida e faleceu na madrugada do dia 19 de maio, no C3 da face norte, provavelmente devido a complicações de um edema pulmonar ou cerebral.
E novamente, mas agora com uma grande dor, fomos o primeiro site no Brasil a divulgar a triste notícia da morte do amigo Vitor Negrete. |