+  BLOG DA AMAN MORBECK  
 
20 dias pelo Centro-Oeste brasileiro
Barra do Garças, Serra do Roncador, Nova Xavantina, Chapada dos Guimarães, Pantanal do Mato Grosso e Transpantaneira, Pantanal do Mato Grosso do Sul e Estrada-Parque do Pantanal e Bonito
 
 
 

Pensei em contar detalhadamente essa viagem de 5.889 km (cravados no GPS Garmin), mas achei melhor fazer um resumão e deixar que as imagens que publiquei no meu Flickr (www.flickr.com/photos/amanmorbeck/sets), com alguns comentários, contem mais de como ela aconteceu. Essa aventura foi muito, muito, mas muito legal, bem melhor do que pude antecipar quando estávamos planejando-a. A distância percorrida foi um pouco maior do que se tivéssemos ido do Oiapoque ao Chuí (5.500 km) e, incrivelmente, fizemos só um pedacinho do Brasil.

 
 

Agosto de 2009. Depois de alguns meses de planejamento, finalmente estávamos na estrada em direção a Mato Grosso. A Palio Adventure estava lotada com mochilas com roupas e calçados, duas bikes embaladas nas malas-bikes da CURTLO, notebooks, câmera, filmadora, tripé, vinhos, livros, GPS e mapas.
De São Paulo, seguimos até Araxá (MG), onde dormimos e revimos amigos, e de lá a próxima parada foi Barra do Garças, na divisa de Mato Grosso com Goiás, às margens do Rio Araguaia, onde moram meus pais. Para chegar até lá, rodamos muitos quilômetros pelo Estado de Goiás.
Na cidade e ao redor dela há muitas coisas legais para se fazer, como visitar o Parque Estadual da Serra Azul, onde está o Cristo, com uma vista magnífica; as cachoeiras ao pé da serra; e o discoporto (invenção cômica de um prefeito para facilitar o pouso de disco voadores – aparições de objetos não identificados são bem comuns por lá).
O Rio Araguaia e suas praias e o Parque das Águas Quentes, com águas termais com temperaturas que chegam a 50º C, também são atrações que seduzem muitos turistas.
De Barra, dirigimos até Nova Xavantina para nadarmos no famoso Rio das Mortes. Na ida e na volta, passamos pela lendária Serra do Roncador e pela minúscula Indianópolis, onde conhecemos a Lú, dona do único restaurante à beira do asfalto, e comemos a melhor comida caseira da minha vida – com verduras da horta caseira e peixe frito que havia sido pescado no rio que passa a poucos metros de sua casa.
Depois de dias de calor e de divertimento, despedimos de minha família e cortamos o Mato Grosso em direção ao Pantanal, com uma breve parada na Chapada dos Guimarães. Primeiro, para um mergulho na Cachoeira da Martinha e alguns quilômetros à frente, impossível não ficar boquiaberto com a imensidão do mirante do Centro Geodésico, a 798 metros de altitude. Chapada dos Guimarães é bem pequena e aconchegante, cercada por paredões rochosos que emolduram praticamente toda a estrada até Cuiabá.
Sem entrar na capital mato-grossense, cruzamos a ponte sobre o Rio Cuiabá e seguimos em direção a Poconé, que ainda estava a 100 km dali, onde chegamos ao cair da tarde. Procuramos placas que indicassem a saída para o Pantanal, mas não encontramos uma sequer; o jeito foi perguntar aqui e acolá. Abastecemos no último posto antes da Transpantaneira, ou rodovia Zolito Dorilêo, e passamos sob a placa que confirmava que finalmente estávamos a poucos quilômetros do tão sonhado Pantanal.
A rodovia começa asfaltada, mas 15 km depois começa a estrada de terra vermelha com cascalho e logo à frente está o simbólico portal de madeira que povoou meus sonhos e que marca o início da estrada-parque. Logo depois, já com o visual da planície verde, chegamos ao ninhal, coalhado de aves de todos os tipos e de cores variadas e de jacarés. Um espetáculo à parte. Alguns minutos mais tarde, o sol começou a se pôr.
Chegamos à Pousada Rio Claro em completa escuridão, onde depois de descarregar tudo e tomarmos banho, nos deliciamos com a comida caseira e os diversos tipos de peixe servidos. De madrugada, estávamos de pé às 4h para conhecermos a famosa alvorada pantaneira, com os sons dos pássaros a saudar o nascer do sol. Sinceramente? É imperdível!
Só então vimos direito a charmosa pousada e depois do café fomos explorar seus arredores. Mais tarde, lá estava eu a pedalar na Transpantaneira, outro sonho antigo que finalmente estava sendo realizado. Pedalei por ela dois dias, num total de 60 km dos seus 140 km. E foi uma experiência incrível porque fiz isso numa segunda e numa terça-feiras, quando quase não há movimento na estrada, e tive a oportunidade de ver de perto animais e aves que não se sentiam incomodados pela suavidade da bicicleta. Amei!

 
 

Na Pousada Rio Claro, fizemos um maravilhoso passeio de barco diurno pelo rio de mesmo nome e é indescritível ver os animais e as aves em seu habitat. Com o motor desligado na maior parte do tempo rio abaixo, os bichinhos não se assustam. Lá pelas tantas, paramos no meio do rio e vivenciamos uma das experiências mais incríveis da viagem: ver o casal de jacarés Chico e Doroteia chegarem de mansinho para ganharem piranhas espetadas na ponta de uma vara que o barqueiro segurava. Para isso, tinham de saltar para pegá-las. Fiquei impressionada com a rapidez e com o impulso que aqueles bichos imensos e pesados têm, e que parecem tão pachorrentos vistos à beira dos rios e das lagoas. Depois desse dia, fiquei muito mais atenta a seus movimentos durante nossos passeios.
À noite, fomos para a primeira focagem de jacarés. No breu total, o facho da lanterna passa nas margens do rio e os olhos dos jacarés refletem a luz, pontilhando a escuridão. Às vezes, veem-se também outros animais, como onça, jaguatirica e capivara, mas não tivemos essa sorte.
Deixamos a Rio Claro, o Pantanal de Mato Grosso e a Transpantaneira com muita vontade de ficar mais tempo, mas outras emoções nos esperavam. De Poconé, pegamos a BR 163 (que liga Mato Grosso ao Paraná) no trecho de Cuiabá a Campo Grande e que sofrimento! Até Rondonópolis (219 km), a rodovia – com pista simples em 90% da extensão – é um lixo, com asfalto irregular e esburacado, sem acostamento e o tráfego de carretas é muito, mas muito intenso. Pra completar, choveu todo o tempo. Propus uma brincadeira: que pelos próximos 100 km contássemos os caminhões que conseguíssemos ultrapassar, os que viessem em direção contrária e os que estivessem estacionados nos postos de gasolina ao longo da rodovia – que cedo ou tarde voltariam a rodar. Resultado: nesses 100 km ultrapassamos 174, cruzamos com 412 e contamos 73 nos postos!
Depois de Rondonópolis, embora ainda com pista simples, o asfalto melhorou e o número de caminhões diminuiu, mas ainda assim foi puxado. Chegamos a Campo Grande às 19h, depois de percorrer 803 km desde que deixamos a Pousada Rio Claro.
No dia seguinte, zarpamos logo cedo em direção à Estrada-Parque do Pantanal, que cruza o Pantanal de Mato Grosso do Sul a partir de um ponto da BR 262 até a cidade de Corumbá. Ao longo dela, estão hotéis, pousadas, vilarejos e a travessia do Rio Paraguai de balsa. Nosso destino era o Hotel Passo do Lontra, às margens do Rio Miranda, no km 8 da estrada-parque.
Tínhamos visto tudo pela internet, mas ao vivo e em cores esse lugar superou todas as expectativas. Além da beleza natural de sua localização, todo o complexo é construído em palafitas para evitar alagamento na época das chuvas. Passarelas ligam todas as áreas e uma mais longa circunda todas as construções para que os hóspedes passeiem mesmo em época de chuva, quando o terreno fica alagado. Apesar do cansaço, fomos explorar os arredores.
Ao lado do hotel fica um centro de pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, onde alunos estudam a fauna e a flora da região com enfoque preservacionista.
Difícil saber o que queríamos fazer primeiro. À noite, depois do jantar, lá estávamos para nosso primeiro passeio, outra focagem de jacarés e de outros animais. No dia anterior, turistas tinham visto uma onça pintada. Vimos muitos jacarés, inclusive filhotinhos, algumas capivaras e vários pássaros. O céu estava superestrelado e em vários momentos, com motor desligado, o único barulho que ouvíamos era da água contra o casco do barco. O vento fresco batia suavemente no rosto e eu só tinha a agradecer por estar ali, naquele momento, curtindo aquele presente – amo céu estrelado.
Diferentemente do que vivenciamos no Pantanal mato-grossense, o nascer do dia ali foi saudado por macacos e por gaviões.
Após o café da manhã, seguimos para o safári na estrada-parque em direção à Fazenda São João. Pelo caminho, muitos bichinhos. Na fazenda, de propriedade do mesmo grupo do hotel, cavalgamos, fizemos caminhada, ficamos cara a cara com jacarés, comemos comida típica dos pantaneiros, cochilamos na rede e voltamos detonados no fim da tarde.
Não dava vontade de dormir sob aquele céu maravilhoso. Sentada no deck, curti a suavidade da água descendo, batendo na madeira sob meus pés, enquanto observava o subir e o descer de barcos e o voo dos pássaros até que a noite caiu por completo.
No último dia, fizemos um passeio de barco pelos rios Miranda e Vermelho, vimos muitos bichos, curtimos demais tudo, nos despedimos e de lá seguimos pela estrada-parque até Corumbá. Difícil é andar na estrada. Não por suas condições, porque ela é bem-cuidada, mesmo sendo de terra, mas porque toda hora é preciso parar para ver jacarés, aves, veados, macacos, capivaras etc.
E assim fomos, parando aqui e ali até Porto da Manga, onde se atravessa de balsa o Rio Paraguai, que é bonito demais. Nossa visita ao Pantanal estava chegando ao fim.
Em Corumbá, conhecemos o porto e rodamos um pouco pelas ruas, procurando um lugar legal para comer, mas não encontramos. Como já estava tarde e queríamos chegar a Bonito naquele dia ainda, compramos besteirinhas para comermos e pegamos o asfalto. Deixamos a cidade para trás, cruzamos a longa ponte sobre o Rio Paraguai – de balsa foi bem mais legal – e pisei fundo no acelerador na plana BR 262 até um atalho para Bonito, antes da cidade de Miranda, onde pegamos um bom trecho de estrada de terra.

(Tuiuiú é o símbolo do Pantanal nos dois Estados, mas para mim deveria ser o jacaré. É impressionante a quantidade deles, principalmente no Mato Grosso do Sul. Aliás, ter visitado os dois me mostrou como são diferentes. Para quem quer ver mais pássaros, o melhor é ir para Mato Grosso; para ver animais, é melhor o Sul. Em ambos a comida é deliciosa e praticamente só estrangeiros os visitam. Na Pousada Rio Claro, nenhum brasileiro além de nós e vários estrangeiros; no Hotel Passo do Lontra encontramos brasileiros, mas não para curtir o Pantanal; estavam ali para pescar. Conversando com os gerentes dos hotéis nas duas porções, eles confirmaram que realmente a visitação para curtir a região é de 95% de estrangeiros. Uma pena, porque para mim foram dois dos lugares mais maravilhosos que conheci de tudo o que já visitei mundo afora. Quero muito voltar, agora sabendo mais o que quero ver e fazer, como visitar a região em época de chuva para ver tudo alagado. E recomendo que ambas as porções sejam visitadas, ora uma, ora outra para quem dispõe de menos tempo.)

Chegamos a Bonito por volta das 20h e fomos pro hotel, já sabendo que seria impossível fazer todas as atividades que a cidade oferece nos dias que iríamos passar ali. Foi difícil escolher alguns e ficamos com a Lagoa Azul, a Fazenda Rio do Peixe e o Aquário Natural – tudo maravilhoso. Numa das noites, fomos ver a apresentação do responsável pelo projeto Jiboia.
Bonito me surpreendeu pra caramba porque tudo o que vimos foi muito mais "bonito" e tudo o que fizemos foi muito mais divertido do que antecipamos. Isso de fazer todas as atividades com monitor me parecia muito sem nada a ver, mas ao conhecer a delicadeza daquelas estruturas naturais, compreendi que não poderia ser de outra forma. Ou as pessoas se mobilizavam para preservar, o que significa restringir o acesso e monitorar os visitantes, ou toda aquela beleza duraria muito pouco. Um viva para aquela comunidade por decisão tão acertada.
No vigésimo dia de passeio estávamos de volta a São Paulo. Passamos por Presidente Prudente e conheci o Rio Paraná ali e fiquei encabulada com sua grandeza. Parece o mar. Com o coração feliz e centenas de boas recordações, descemos as bagagens e todas as lembrancinhas que trouxemos, um pedacinho de cada lugar que encontram-se espalhados pelo apartamento e que não nos deixam esquecer do quanto nos divertimos e do quanto viajar é maravilhoso.

Eles tornaram nossa viagem mais divertida e mais confortável:

- Crocs – não viaje sem eles. Podem ser usados na água, na terra, na areia, no asfalto. Só não recomendo quando for caminhar em trilhas, independentemente da distância;
- Notebook – para descarregar fotos e filmes, editar, escrever e conectar à internet onde der;
- Carro – a Palio Adventure foi tudo de bom;
- Câmera e filmadora – para guardar lembranças com sons e movimentos;
- Mochilas e acessórios – ter bons equipos fazem muita diferença;
- Celular – para emergência, para dar notícias, para receber notícias e para entrar na internet em caso de necessidade;
- GPS – levamos TomTom e Garmin, extremamente úteis.

 
 
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Jornalista e aventureira
 
Nasci no interior de Goiás e cresci em Mato Grosso. Quando ganhei meu primeiro globo terrestre e vi onde 'eu estava', meu espírito viajante sentiu que não seria possível passar toda minha vida ali, com tanto por conhecer. Cresci sonhando em colocar os pés na estrada, correr mundo, conhecer outras culturas, interagir com o diferente, aprender. Fiz muitas viagens pelo Brasil – e continuo a fazê-las – e depois de deixar um emprego estável e seguro para viabilizar meu sonho, vivi por três anos (1995–1998) fora daqui. Conheci um pouco do México e do Peru, morei nos Estados Unidos (Virgínia e Flórida), mochilei por 11 países da Europa e morei por cinco meses na Tailândia, onde, entre tantas coisas, também mochilei da região de Bangcoc às fronteiras da Birmânia e pelo Laos. Sou apaixonada por viagens e atividades ao ar livre, principalmente mountain biking, trekking e canoagem, por fotografia de natureza e por compartilhar, por meio de textos e fotos, o que vivencio em minhas andanças. Se quiser me contatar, fique a vontade:

- Email: amanmorbeck@gmail.com
- Twitter: @amanbr
- Facebook: Aman Morbeck
 
 
 

- 1990 – Primeira saída do Brasil – Peru (Lima, Cuzco, Macchu Pichu) e México (capital e várias cidades do interior)
- 1995 a 1998 – Morou nos Estados Unidos, com algumas idas e vindas para passeios em outros países
- 1996 – 3 meses de mochilança pela Europa Ocidental (Itália, França, Portugal, Suíça, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Alemanha, Grécia, Irlanda e Áustria)
- 1998 – 6 meses no Sudeste Asiático (5 meses – viveu e mochilou pela Tailândia; 3 semanas de mochilança pelo Laos)
- 2005 – Mountain bike de Gonçalves (MG) a Nazaré Paulista (SP) – 165 km em 3 dias pela Serra da Mantiqueira
- 2006 – Manaus; trekking, arborismo e rafting em Presidente Figueiredo (AM)
- 2006 - Travessia Lençóis Maranhenses
- 2006 – Canoagem no Saco Mamanguá/Paraty – 3 dias de descobertas ao balanço das ondas
- 2007 – Curso de Formação de Educadores ao Ar Livre (FEAL), ministrado pela Outward Bound Brasil (OBB) – 2 semanas de trekking e aprendizado na Serra do Cipó (MG)
- 2007 – Trekking Trilha do Ouro – Campos de Cunha (SP)/Serra da Bocaina/Mambucaba (RJ)
- 2008 – Off-road Cunha/Paraty pela estrada velha; trekking Paraty-Mirim/Saco do Mamanguá com subida até o Pão de Açúcar do Mamanguá
- 2009 - Expedição Ipê Roxo (batizada por mim) – Barra do Garças, Serra do Roncador, Nova Xavantina e Pantanal do Mato Grosso/Transpantaneira, em Mato Grosso; Pantanal do Mato Grosso do Sul, Estrada Parque do Pantanal até Corumbá e Bonito, em Mato Grosso do Sul
- 2006/2009 – Trilha das 7 Cachoeiras, Catuçaba (SP)
- 2010 – Off-road Joanópolis (SP)/Monte Verde (MG)/Gonçalves (MG)