WALDEMAR NICLEVICZ
Expedição México e América Central
 
 
Publicado em 09/03/2009 - 22h13 - da redação
 
 
 
Foto 1 - O imponente Pico Orizaba (5.746m), a maior montanha do México. A estrada de terra corta um bosque com imponentes pinus, que vão ficando cada vez menores e desaparecem acima dos 4.100m.
Foto 2 - O refúgio em Piedras Grandes, a 4.200m de altitude. Minha barraca aparece à direita da foto, azul clara. O que parece um caminho calçado é um velho aqueduto, hoje desativado, e, infelizmente, sem água. O glaciar do Orizaba vem se reduzindo de forma assustadora, a cada ano as nevadas são mais raras.
Foto 3 - Depois dos 5.000m entra-se no glaciar, a subida é uma simples caminhada, mas exige cuidado na parte mais alta, um escorregão pode ser fatal, pois são 700 metros de altura até o topo!
Foto 4 - Chegada ao cume do Orizaba, a Montanha das Estrelas!
   
 
 
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Estimados Amigos!

Uma vez escutei que tem muito americano que vai para o México para ter a sua primeira experiência em alta montanha, e que alguns inclusive sobem aqueles imponentes vulcões visando se aclimatar antes de ir para o Everest.

Como não podemos acreditar em tudo o que escutamos por ai, fiquei um pouco desconfiado, mas agora que acabei de voltar do México, posso assegurar que para se ter uma noção do que é o ar rarefeito e o friozinho das alturas, que é uma excelente opção subir os vulcões mexicanos, principalmente o maior de todos, o Pico Orizaba, de 5.746m de altitude.

Os efeito do ar rarefeito acima dos 5 mil metros já são bem evidentes (acima desta altitude já existe menos de 50% do oxigênio que existe ao nível do mar). E se levarmos em conta que a capital do México está a 2.400m, e que lá em pleno inverno (dezembro no hemisfério norte) a temperatura beira os zero graus Celsius, podemos facilmente sentir temperatura inferior a quinze negativos no Orizaba (em média a cada 200 metros de desnível a temperatura decresce um grau).

A maior vantagem é que o Pico Orizaba não é perigoso. Embora a partir dos 5.000m entra-se em um belo glaciar, não existe o risco de avalanches ou o de quedas em gretas. A encosta da montanha é uma longa rampa de neve dura, com gelo em algumas partes, com cerca de 30º de inclinação no início e 40º na parte final.

O uso de grampões sob o solado das botas é indispensável, e também é importante ir encordado, pois em caso de queda a encosta vira um longo tobogã e a queda pode ser fatal. Na verdade esse é o único perigo, tanto que depois da metade de fevereiro o Orizaba raramente é escalado, pois o vento fica tão forte que transforma toda a encosta da montanha em uma rampa de gelo, onde escorregar passa a ser muito fácil e perigoso (a melhor época para a escalada é dezembro e janeiro).

Para escalar o Orizaba é preciso ir até a cidade de Tlachichuca, de lá existe um serviço de transporte em carro 4x4, que após 2 horas por uma estrada esburacada e com muita poeira, te deixa no Refúgio Piedra Grande, a 4.200m. O refúgio é espaçoso, para umas 30 pessoas, mas bem simples, sem repartições e sem água (é preciso levar água desde Tlachichuca). Eu preferi montar uma barraca ao lado do refúgio, para evitar ser acordado pelo movimento daqueles que partem de madrugada, mas mesmo assim acabei não dormindo muito bem, pois um vento forte balançou a barraca a noite inteira.

Após a primeira noite a 4.200m, fui até a borda do glaciar, que está a 5.000m, visando aprimorar a adaptação do meu organismo ao ar rarefeito. Levei três horas para tocar o gelo, caminhando bem tranqüilo por pedras soltas, lajes de rocha, e no final, por alguns corredores empinados que tinham um gelo duro no fundo. Enquanto a minha frente se empunha o cone final do maior vulcão do México, abaixo um mar de nuvens escuras e um vento gelado prenunciavam uma tempestade, impulsionando-me a continuar até o cume, pois cheguei a temer que o tempo ficasse ruim no dia seguinte. Mas me contive, não estava bem aclimatado e resolvi seguir o plano original, voltando para a minha barraca. Na metade da descida encontrei o meu amigo mexicano Hector Ponce de Leon, que estava subindo com seus 12 clientes ingleses, todos em um passo lento de tartaruga. Eles iriam acampar nas bordas do glaciar, de onde fariam o ataque final de madrugada.

Na próxima noite, também parti de madrugada, lá dos 4.200m, às 2:30. Em razão de já ter reconhecido o caminho, fui subindo rápido, como que tentando fugir do vento gelado. Quando cheguei aos corredores com gelo percebi que o Hector havia fixado cerca de 200m de cordas para os seus clientes. Ainda estava escuro, ali coloquei os grampões e continuei em bom ritmo. Na metade do glaciar o sol começou a nascer, mas, como eu estava no lado oeste da montanha, vi apenas a sombra do vulcão me encobrir e se lançar sobre o altiplano mexicano. Felizmente o dia estava lindo, tempo ótimo!

Ainda de noite tinha ultrapassado dois grupos de alpinistas, mas nem imaginava que ao chegar ao cume, às 8:41hs, eu seria a primeira pessoa do dia a pisar os 5.746m de altitude da Montanha das Estrelas, tradução para Citlaltepelt (nome nativo do Orizaba). Fiquei contemplando o belo panorama, agradecendo a Deus por mais aquele belo momento da minha vida! Logo chegou um grupo de tchecos, depois um de americanos.

Na descida encontrei o Hector e seu grupo de ingleses ainda no meio do glaciar, todos bem encordados e com o típico passo de tartaruga, me despedi de cada um desejando sucesso na escalada, o que de fato aconteceu (vale sempre o lema: devagar se vai longe, e alto!!!).

Desci rapidamente até o refúgio, desarmei minha barraca, entrei em um jipão, duas horas chacoalhando morro abaixo, uma ducha rápida, 1 hora e meia de ônibus pinga pinga até Puebla, e depois mais duas horas de ônibus até a cidade do México, aonde cheguei tarde da noite do dia 30 de dezembro de 2008, para, no dia seguinte, comemorar feliz a entrada de 2009!

A viagem continuou... na próxima atualização vou contar como foram os meus mergulhos na Riviera Maya, afinal nada melhor do que um pouco de mar, antes de mais montanhas!

Um grande abraço,

Waldemar Niclevicz