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Mirante da Ponte de Pedra
Foto: André Dib |
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Arara
Foto: André Dib |
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Sob um dia quente e ensolarado, começamos a caminhada cortando as ruelas da cidade, e as mochilas cargueiras chamavam a atenção. Alto Paraíso foi o ponto de partida para a Travessia Leste, uma trilha clássica na Chapada dos Veadeiros. Após vinte minutos caminhando, saíamos do trecho urbano para percorrer a trilha, propriamente dita. Subimos uma pequena serra, caminhando sobre fragmentos de cristais de quartzo que reluziam na terra, como fragmentos de um grande espelho estilhaçado, até a cachoeira do Cristal. Seguimos para a Cachoeira da Água Fria, uma imponente queda de 70 metros, precipitando-se sobre uma espessa mata de galeria, onde os capões de mato exibem um verde intenso o ano todo, mesmo nas estações secas, entre setembro e abril. Passamos pelo alto da queda, onde avistávamos todo o vale do moinho. Pacheco, meu guia, sugeriu que fossemos até a parte baixa da cachoeira. Descemos pela trilha íngreme, marcada pelos tons difusos da montanha e atingimos a pequena mata que dificultou, mas não dissuadiu nosso banho. Voltando a trilha contornamos a encosta que margeava um grande vale, e começamos a descida para o povoado do moinho, onde faríamos nossa primeira pausa. Essa região de terras férteis, guarda a história de Alto Paraíso, antiga fazenda Veadeiros, que deu origem a um povoado, marcando o início da colonização na região em meados do século XVIII. O nome Chapada dos Veadeiros faz referência aos antigos caçadores de Veado-Campeiro, abundante nas cercanias da chapada, que enviavam o couro das caçadas para Minas Gerais e o porto de Belém.
Chegamos ao moinho no final de tarde e fomos recebidos pela simpática Dona Leonía, que faz parte dessa história e relembra os bons tempos, quando o povoado fartava-se com a colheita do trigo.
O segundo dia amanhece claro, mas com nuvens se acumulando sobre o vale, e contrariando todas as previsões climáticas, Dona Leonía profetiza “Vocês vão molhar filho”. E como a experiência é a lei que rege o tempo por ali, caminhamos cerca de 20 minutos para que a chuva nos atingisse em cheio. Chegamos ao sopé da montanha encharcados e começamos o ziguezague contínuo pela “Serra da Pedra Ruim”. Nome que os nativos dão a subida até o topo aplainado da Serra da Baliza. Olhando pelas frestas de nuvem que se abriam rapidamente depois da chuva, seguíamos vislumbrando a paisagem marcada pela vista da Serra Geral, que divide Goiás com a Bahia. Pelos recônditos do planalto central atravessávamos aquela vasta extensão de terra, marcada por horizontes largos. Atravessamos um grande platô, coberto por uma gramínea rala salpicada de Capim-Estrela e seguimos até olhos d’água que brotavam na pastagem silvestre. Seguimos margeando o rio Ferreirinha até o topo de uma grande queda emoldurada por Totens gigantes e imponentes. Mesmo nas agruras de uma lugar inóspito, a natureza sabe ser pródiga. Chegamos a cachoeira do Sertão Zen. A origem desse nome diverge muito, mas podemos perfeitamente aludir o título à harmonia profunda que reina sobre esse lugar. Percorremos a borda do abismo e seguimos por um campo de capim alto que ocultava as rochas, dificultando nossa passagem. Atravessávamos, nesse momento, uma paisagem intrincada composta por formações rupestres que insistiam em nos tirar do prumo. Descemos em direção ao vale do rio Macaco e encontramos um riacho de águas cristalinas que restabeleceu nossos ânimos. No final da tarde atravessávamos o rio Macaco, que forma uma seqüência incrível de cascatas coroadas pela queda da catedral, uma imponente cachoeira de 50 metros que cai sobre uma grande piscina natural de águas avermelhadas. Sem dúvida um dos pontos altos do Trekking.
Iniciamos o terceiro dia rompendo um cenário idílico, formado pela vastidão interrompida por grandes morros. Após subirmos ao chapadão, avistávamos o vale do rio Paranã. Nesse trecho, a ação do homem mostra-se evidente. Plantações de soja e milho estendem-se até o horizonte. A monocultura é um problema sério a ser discutido, o desmatamento e a substituição de áreas do cerrado original com uma grande variedade de plantas, pelo cultivo de uma só cultura é uma prática comum nessa região, gerando o empobrecimento gradativo do solo, a proliferação de pragas, poluição dos mananciais, além de modificar o ambiente natural dos animais, alterando de forma trágica esse bioma extremamente rico, frágil e vulnerável. Descemos novamente por um capim alto que insistia em ocultar o caminho, onde a experiência do guia falou mais alto. Não é à toa que Pacheco foi considerado em 2007, o melhor guia do Brasil pelo “guia 4 rodas". Chegamos ao cair da tarde no complexo de cachoeiras Macaquinhos no município de São João da Aliança, onde o rio Macaquinho desce permeando um vale por alguns quilômetros, precipitando-se em bonitas quedas e formando deliciosas piscinas naturais em tons e nuances de verde esmeralda. Depois de 3 dias, terminamos os cerca de 70km percorridos. O entardecer na chapada nos trazia um sentimento de pequenez e perplexidade diante daquela natureza rude, bela, ameaçada pelo homem e suas reações exacerbadas. Compreendi que fazemos parte de um todo muito maior, que nunca vamos compreender e que muitas vezes nos afastam da rotina e da vida cotidiana.
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