AMAN MORBECK
Evento que aconteceu em São Paulo este ano foi como golpe de misericórdia no mercado de aventura
brasileiro em termos de exposição de fabricantes e de pequenas operadoras
 
 
Publicado em 06/10/2009 - 14h26 - Aman Morbeck
 
 
 
  Adventure Sports Fair em 2009.
Foto: Aman Morbeck
   
 
 
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A edição 2009 da que um dia foi chamada de "a maior feira de aventura da América Latina" completou seu 11° aniversário. No entanto, em vez de estar mais forte a cada tradicional setembro, nos últimos anos ela pouco lembra os eventos iniciais, com ruas repletas de potenciais consumidores que se deliciavam nos estandes de fabricantes (de vários tamanhos e de várias partes do Brasil) de produtos para esse segmento.  
O que vi este ano, mais uma vez, foi uma feira que deveria tirar a palavra "adventure" de seu título, pois isso se transformou em propaganda enganosa. Talvez eu seja saudosista, críticos de plantão podem dizer, mas a realidade das ruas vazias nos três dias de feira indicam que ela não atrai novos visitantes tampouco. E isso entristece a mim e a quem que, como eu, vivenciou outro momento em seus anos dourados.
Em minha perambulação e conversa com expositores, ouvi comentários muito desanimadores e o que mais vi foram estandes ocupados por representantes de governos estaduais e de países como Argentina e Chile a venderem seu peixe. Nada contra, mas muitos deles têm muito pouco de aventura e zero de novidade, o que tornou aquilo tudo muito parecido com uma feira de turismo. Nada de pequenas operadoras que vendiam aventura no passado; hoje, seus representantes nem visitantes viraram.
Também vi pessoas extremamente desapontadas por ter se deslocado de seus Estados, como Rio Grande do Sul, por exemplo, para visitar a "feira de aventura" e ter se decepcionado a tal ponto que foram embora dois dias antes do planejado para não continuarem a gastar com hotel e comida, já tinham visto tudo em poucas horas. Vieram com expectativas despertadas pela propaganda.
O que deu errado com esse que era o único evento que congregava o mercado de aventura no Brasil? Não tenho acesso aos bastidores da organização e escrevo com base em observações e em conversas, por isso é importante ressaltar que minha análise é estritamente pessoal, mas tomo a liberdade para apontar alguns pontos que acredito terem feito diferença.
Por exemplo, a questão da baixa visitação. Aqui, temos três aspectos que acredito ter pesado muito, principalmente nas duas últimas edições, para afastar muitas pessoas: a) dificuldade de acesso, pois chegar até a Imigrantes de automóvel não é tarefa fácil durante o dia, seja ou não fim de semana, além da distância que implica em gasto de combustível; b) o preço da entrada mais o preço do estacionamento tornam inviáveis a visita para uma família média (isso sem contar que ninguém vai para ficar meia hora, o que acaba resultando em mais despesa com alimentação, que por sua vez nunca é barata em feiras e similares); e c) quem pesquisou no site de divulgação viu que não havia fabricantes de referência do segmento participando e acredito que isso tenha feito diferença para muitos.
Para o primeiro ponto alguém pode dizer que havia transporte de graça a partir do metrô Jabaquara, o que é verdade, mas a cidade de São Paulo não é coberta por linhas que facilitem o acesso a esse meio, sem contar que se teria de deixar o carro num estacionamento próximo do metrô e ter despesa da mesma forma. No tópico seguinte estava o ingresso a R$ 20,00 mais estacionamento no mesmo valor. E aí o que aconteceu? Todas as pessoas conhecidas que encontrei lá não haviam pagado entrada – ou porque eram expositores ou palestrantes ou porque, como eu, eram convidados. E por último, por que a ausência de marcas como Kailash, CURTLO, Deuter, Timberland, Kampa e outras que são referência no Brasil? O que aconteceu para que elas batessem em retirada? Não tenho resposta, pois como pontuei acima, não sei dos bastidores.
Para completar, o golpe de misericórdia: o boca a boca. "Não vá não, está pior que a do ano passado". Esse foi o comentário que mais ouvi e se tivesse de pagar pelo ingresso, certamente não teria ido.
Hoje em dia, principalmente numa cidade do tamanho de São Paulo, quanto mais longe "de onde o povo está", menos chance de o evento ser bem-sucedido, a não ser que seja mega, o que não é o caso do mercado de aventura. Este ano, temos dois exemplos de feiras menores cuja localização é um ponto muito favorável ao seu sucesso: Bike Expo Brasil e Expo Bríndice 2009, ambas no Centro de Convenções Frei Caneca, a poucos quarteirões da avenida Paulista.
Fora isso, a Adventure Sports Fair talvez precise repensar sua identidade e fazer uma necessária e urgente correção de percurso. A não ser que seus organizadores insistam em manter o modelo e não se importem de vê-la cada vez mais encolhida no quesito aventura, mas para continuar no mesmo molde deveriam mudar seu nome. Não cabe mais ser chamada de feira de esportes de aventura, a não ser que tenham a intenção de dar outra conotação a esse termo também, como acontece com algumas marcas de automóveis, que de aventura só têm a maquiagem.
 

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