REVISTA GO OUTSIDE
 
Fique longe dos destinos descritos a seguir: são lugares no Brasil e no exterior que estão precisando de
um pouco de sossego para se recuperarem da exploração turística exacerbada
 
 
Publicado em 25/05/2009 - 17h47 - da redação
Texto: Marcelo Delduque / Fotos: Caio Vilela
 
 
  SUPERLOTAÇÃO: Para alcançar a Machu Picchu da foto é necessário seguir uma procissão de turistas pela trilha Inca
Foto: Caio Vilela
   
 
  A realidade: esqueça a imagem da ruína maia à beiramar em Tulum, no México. ou melhor, encontre-a em meio à multidão que a cerca.
Foto: Caio Vilela
   
 
  São Thomé das Letras
Foto: Rodolfo Magalhães
   
 
 
Publicidade
   

SHARM EL SHEIKH (EGITO)
Vendido como "o pedaço de paraíso mais perto da Europa", Sharm el Sheikh é a meca do turismo submarino no mar Vermelho e costuma receber cerca de 4,4 milhões de turistas por ano. No extremo sul da península do Sinai, o point, considerado um dos 10 melhores do mundo por Jacques Cousteau, se aproveitou por muito tempo da localização estratégica e dos preços baixos da operação no Egito.

Mas o movimento excessivo castigou o ambiente marinho a um ponto quase irreversível. Derramamentos de óleo, comerciantes de corais e a descontrolada caça submarina deixaram um estrago visível nos mergulhos realizados hoje pelos turistas. Um dos arrecifes mais procurados pelos mergulhadores é o de Yolanda, que recebe pelo menos 70 barcos por dia, enquanto um prometido novo regulamento para minimizar o impacto ambiental não entra em vigor.

GRUTA DA PRATINHA (CHAPADA DIAMANTINA, BAHIA)
Visitação desorganizada é a tônica da Chapada Diamantina, a mais incrível das chapadas brasileiras, que ocupa cerca de 38 mil quilômetros quadrados de caatinga, cerrado, campos gerais e rupestres, e engloba 58 cidades em meio a planícies e serras salpicadas de morros que chegam a 2 mil metros de altitude - segundo informações do livro Chapada Diamantina (editora TerraBrasil, 2007). Mas como grande parte das atrações fica em locais pouco acessíveis, o turismo não chega a interferir muito nesses ambientes naturais. Não se pode falar o mesmo dos locais próximos às estradas, como o morro do Pai Inácio, o Poço do Diabo e a gruta da Pratinha, que provavelmente encabeça a lista dos pontos mais impactados. Ela é uma lagoa de água cristalina que, em uma de suas margens, invade uma caverna. O lugar é inacreditavelmente lindo, mas costuma ser difícil encontrar um espaço para nadar: num feriado, 700 pessoas por dia chegam a visitar a gruta que, segundo um funcionário local, tem capacidade para 500.

Em suas águas se pratica flutuação (com snorkel e colete salva-vidas para não levantar sedimentos) e tirolesa. Como ela está fora do Parque Nacional da Chapada Diamantina (que guarda apenas 4% de toda a chapada), a gruta é explorada por particulares: ela fica em uma área privada a 20 quilômetros do centro de Iraquara, onde há um restaurante e uma pousada de 12 apartamentos. No auge da bagunça, já foram vistos vendedores de algodão doce dentro da caverna. Zé Américo, proprietário da agência Nativos da Chapada (75 9966 0131), conta que a vegetação também não é mais a mesma. "Havia vitórias-régias que não existem mais", se recorda.

TRILHA INCA (PERU)
Até o final dos anos 1980, chegar a Machu Picchu caminhando era a recompensa de uma aventura épica, realizada apenas por mochileiros que encaravam horas em trens precários e quatro dias de trekking e acampamento.

Hoje você ainda pode fazer a mesma trilha de 46 quilômetros, mas precisará de ajuda da imaginação para viver o mesmo romantismo e clima de aventura, enquanto segue uma fila indiana de turistas até chegar na muvuca, que superlota a atração turística principal do Peru 365 dias por ano. Para minimizar o impacto, a trilha Inca está limitada a receber apenas 500 caminhantes por dia, contando guias e carregadores. Uma vaga para se juntar a um grupo e realizar a caminhada é vendida on-line como se fosse a última bolacha do pacote, mas caso você resolva ir hoje, é muito provável que consiga vaga só para o ano que vem.

SÃO THOMÉ DAS LETRAS (MINAS GERAIS)
Na década de 1970, hippies, místicos e malucos de toda ordem sentiram vibrações astrais nas pedras de São Thomé das Letras, no sul de Minas Gerais, serra da Mantiqueira. Diferente do que se imaginava, a segunda leva de "invasores" não foi de extraterrestres, mas de uma horda de ônibus turísticos desproporcional à capacidade para recebê-los - em dias de feriado, chegam à cidade mais de meiadúzia deles, o que não difere muito dos finais de semana normais, quando aportam de quatro a cinco. Se arriscar ir até lá num feriado, fique longe das cachoeiras próximas às estradas, como a da Borboleta. Ali, em meio ao cheirinho de churrasco, só falta distribuírem senha aos que desejam se refrescar.

O site ViajeAqui.com.br diz que "no vale das Borboletas, as pedras assorearam o poço natural e acabaram com a cachoeira", mas o Centro de Informações Turísticas (35 3237 1461) responde que a Borboleta é uma das mais visitadas e ainda tem uma boa quantidade de água. Será?

BALI (INDONÉSIA)
Praias superlotadas, crescimento urbano não planejado, cultura local violentada e saneamento básico precário. A realidade da ilha, que já foi promovida pelos folhetos das agências de turismo europeias como um sossegado paraíso natural, pode desapontar quem desembarca pela primeira vez em seu movimentado aeroporto internacional. Para o 1,5 milhão de turistas que visitam Bali ao longo de um ano (a ilha tem 2,5 milhões de habitantes), os templos e praias continuam ali.

Mas a atmosfera zen e exótica não é mais a mesma. Música eletrônica ininterrupta e a nudez dos europeus agridem as comunidades locais, a ponto de terem estimulado uma reação que veio em forma de atentado terrorista por parte dos muçulmanos indonésios em um clube noturno da praia de Kuta, ocorrido em outubro de 2002.