TagNak / Nepal
Após vários dias sem internet volto a escrever sobre um dos momentos mais incríveis desta aventura. Posteriormente escreverei sobre todos os dias desta viagem chamada de Trekking ao Acampamento Base do Everest e entenderão que ele é uma pequena parte de toda essa aventura.
Acordamos bem cedo hoje, pois este será um dos mais longos dias de trekking. Vou dar uma espiada em como está o tempo e uma forte nevasca caiu durante toda a noite e deixou a paisagem toda branca. Nos reunimos no dimer room já esperando o nosso reforçado café da manhã.
Ram, o nosso guia nepales, tem informações sobre as condições de conseguir ou não realizar a travessia do dia. Todos no dimer room estão anciosos com o que ele vai falar, pois apesar da apreensão, todos querem partir, não apenas o nosso grupo, mas muitos outros grupos que estão aqui e não tem a noção do que irão enfrentar. Após alguns rodeios sobre o assunto, Ram, avisa que é perigoso fazer a travessia, mas que mesmo assim iremos tentar. A comemoração é geral e todos se apressam no café pra logo partir.
Despachamos nossos porters com as mochilas marinheiras mais pesadas e colocamos as nossas mochilas de ataques e nos equipamos com blusa e calça anorak, botas e bastões de caminhada pra cruzar o passo de Chola Pass a 5.420 metros de altitude. A paisagem agora está toda branca com alguns pontos de terra escura e pedra aparecendo. Minutos após a nossa saída a nevasca volta a cair, e nossa subida se torna mais emocionante em um zig-zag que vai cortando montanha acima. Em alguns trechos somos obrigados a praticamente escalar as pedras para continuar nossa lenta subida. Por sorte a nevasca para e fica mais tranquilo nossa tarefa.
Após 3 horas de caminhada finalmente chegamos próximo ao passo, agora caminhamos literalmente sobre a neve, mesmo sem grampons vamos ganhando terreno na trilha deixada pela nossa equipe. Finalmente chegamos a uma parede ingríme e aqui nossos bastões não tem utilidade, vamos escalando lentamente em meio a pedra e neve e logo chegamos ao topo do Chola Pass. Nosso grupo está acomodado entre as pedras e começamos a comer algo para ganhar energia e nos hidratar com bastante água.
A nevasca volta a cair e todos se apressam pra agora enfrentar a parte mais difícil, a ingrime descida. Todos estão prontos e percebo que estou fazendo algo de errado e peço para esperarem um pouco. Estou usando uma primeira camada de luva, o que está deixando os meus dedos congelados, coloco uma camada mais grossa de luva e espero que melhore, os dedos dos pés também estão perdendo sensibilidade, o que já é um sinal que tantos os dedos das mãos como os dos pés estão no chamado congelamento de 1º grau, onde não sentimos mais a sensibilidade deles. No momento não sei a gravidade disso e me apresso em descer.
Na minha frente está o casal Edi e a Dani que descem lentamente, pois qualquer erro há o perigo de escorregar pelo precipício, o que seria fatal. Mas a lentidão dos dois me deixa em apuros, não quero ficar mais tempo aqui, meus dedos estão ficando cada vez mais congelados.Dani vai descendo sentada e praticamente não ganham terreno. Carlos, o guia, logo percebe a situação e desce para ajudá-los, aproveito o momento e ultrapasso os três. É nesse momento que percebemos com um bom equipamento faz a diferença. Sinto segurança com a minha bota Salomon e vou descendo a passadas largas.
Ao passar por eles, escuto Edi alertando a Dani para colocar uma luva mais grossa, pois como ela está descendo sentada, está a todo momento com as mãos na neve. Vejo que a situação alí é um pouco grave, mas também não posso ajudar muito, pois meus dedos estão cada vez mais congelados, deixo a situação ao encargo do guia Carlos que já está auxiliando os dois. Com a minha rápida progressão passo pelo guia nepales - o Ram - e pela Jus, e logo encontro o Agnaldo, nosso mais experiente membro do grupo e que sempre caminhou a frente de todos. Ele percebe a minha pressa e abre passagem.
- Vai com calma Elias, se você escorregar vai cair precipício - alerta o Agnaldo.
Foi um bom aviso e assim vou descendo com mais cuidado. Olho para cima e não consigo mais enxergar o grupo que sumiu entre a nevasca, a minha frente, uns 30 metros abaixo, vejo um casal, onde um senhor inglês desce com dificuldades e sem luvas, acompanhado de uma norueguesa. A descida é lenta e em zig-zag, mas aos poucos vamos descendo. Uma hora depois já estou no último terço da descida e meus dedos voltam a ganhar sensibilidade, o que me deixa mais tranquilo. Continuo descendo, agora já próximo do final da descida do Passo de Chola Pass, mas o casal que estava a minha frente sumiu. Sou o único por aqui, olho para trás e o único membro do grupo que consigo enxergar é o Agnaldo.
Finalmente chego em um trecho mais plano e o Agnaldo chega logo atrás, resolvemos parar e esperar o grupo. Aproveitamos para repor um pouco de energia comendo chocolate e tomo um pouco de Suum, um repositor energético sedido pela Proativa. Com a teleobjetiva da máquina fotográfica consigo enxergar o grupo ainda no meio da montanha e vejo o Carlos auxiliando a descida da Dani e do Edi, que descem muito lentamente. Mais abaixo deles está o Ram que segue junto com a Jus, vejo que apesar da lenta progressão todos estão bem e em questão de meia hora eles estarão aqui e em segurança.
O grupo vai chegando e de repente avistamos o inglês e a norueguesa se aproximando. Disseram que após a descida ficaram desorientados e não encontraram a trilha correta e ficaram perambulando pela base a procura de uma saída que não encontraram. Ao nos avistar resolveram se juntar ao nosso grupo para assim seguir com mais tranquilidade. Uma grande ironia do destino, pessoas que tiveram como heróis nacionais, Amundsen e Scott agora estavam seguindo os tropicais brasileiros. Participe, deixe o seu comentário logo abaixo. |