Dolomitas Brenta, Escalada do Campanile Basso – Diedro Fehrmann
da redação, Waldemar Niclevicz
21 de setembro de 2011 - 4:07
 
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BRENTA - A foto mostra um pouco da grandeza do ambiente do Grupo Brenta, destacando-se ao fundo o Campanile Alto (2.937m). Apareço já na parte superior do Campanile Basso, na Rota Normal, prestes a chegar ao cume. O Diedro Fehrmann termina 150 metros abaixo do cume, mas vale a pena prosseguir pela Normal para contemplar o visual lá de cima.
 

Estimados Amigos,

Em agosto estive na Itália, escalando nas Dolomitas, no Monte Rosa e no Mont Blanc.
Nas próximas atualizações, vou contar detalhes desta bela viagem, começando hoje pelas Dolomitas. Você encontra mais informações e fotos desta mesma viagem clicando aqui.

 
DIEDRO - Apareço no alto do grande e belíssimo diedro que caracteriza a via Ferhmann.
   
 
CHAMINÉ - Apareço no centro da via, quando o diedro deixa de ser uniforme, e é preciso desviar alguns tetos pela direita. Acima a rocha volta a ganhar a forma de um grande diedro, com uma ampla chaminé, porém úmida e escorregadia, que deve ser evitada pela parede da direita.  
   
 
DIEDRO FERHMANN - O Eiki (de preto) na parede final do Diedro Ferhmann, a parte mais difícil da via, V grau, em razão de ser exposta, sem a facilidade de se proteger como no diedro. Entre o Eiki e o Alessandro (de vermelho, italiano que estava na cordada debaixo da nossa), existe um teto que não se vê na foto, após superá-lo é preciso fazer uma bela travessia à esquerda, que termina na parada do fim da via, de onde eu fiz a foto.  
   

Como existem praticamente infinitas opções, é imprescindível fazer um bom planejamento antes de seguir para as Dolomitas. Você pode escolher um dos imponentes maciços ou fazer um circuito, pois, em cada um dos maciços ou grupos de montanhas, existem dezenas de vias de escalada, uma mais linda do que a outra.

Eu optei por um circuito porque queria ter uma visão geral das Dolomitas, acabei visitando 9 dos 14 maciços principais, começando pelo Brenta, que fica a noroeste da cidade de Trento.

A montanha mais famosa do Grupo Brenta (3.150m) é o Campanile Basso (2.877m), uma belíssima torre de 500m de altura. É preciso ir primeiro até Madona di Campiglio, típica cidadezinha das Dolomitas, eu e o Eiki chegamos lá após duas horas de viagem desde Arco (cidade próxima ao Lago di Garda, sede de um dos mais famosos campeonatos mundiais de escalada).

Na correria da viagem, começamos a caminhada um tanto tarde, às 20 horas, desde o estacionamento do Refugio/Restaurante Vallesinella (1.530m), para chegar a passos rápidos às 22 horas no Refúgio Brentei (2.182m). O espetacular Refúgio estava lotado, mas nosso lugar estava garantido, porque havíamos feito a reserva, algo imprescindível na alta temporada (julho e agosto) (facilmente se encontra os contatos do gestor de qualquer refugio pela Internet).

O ideal era ter chegado ao refúgio ainda de dia, para fazer um reconhecimento do caminho que leva até o início da via de escalada, mas havíamos chegado apenas um dia antes na Itália, e no dia seguinte tínhamos que estar em Trento para encontrar nosso amigo Andriguetto, que não pôde sair do Brasil no mesmo dia que nós. Enfim, não há tempo a perder nas Dolomitas!

Tomamos uma sopa e fomos dormir. Acordamos às 4 da manhã, tomamos o café que já estava preparado para os madrugueiros, no refeitório do refúgio, e encaramos a escuridão com nossas lanternas frontais. O dia foi logo amanhecendo e às 6 horas estávamos na base do Diedro Fehrmann, prontos para iniciar a escalada do Campanile Basso.

O Diedro Fehrmann (350m, V) é considerado uma via mítica, uma verdadeira prova de fogo para testar se o escalador está pronto para encarar as longas vias das Dolomitas, e ninguém recomenda que seja feito como a primeira via da temporada, ou mesmo como uma primeira via nas Dolomitas. Vale a pena escalar algo mais simples antes, para se acostumar com a rocha, e até mesmo para entender o estilo de escalada das Dolomitas, com poucos grampos entre as paradas e lances não muito difíceis, mas às vezes bem expostos. Algumas pessoas chamam esse estilo de “escalada de aventura” e é bem o estilo que temos no Marumbi, meu “lar doce lar”, na Serra do Mar do Paraná.

Outra razão de eu optar pelo Diedro Fehrmann, é que pela via Berger-Ampferer (260m, IV +), considerada a Rota Normal do Campanile Basso, fatalmente haveriam várias cordadas.

Se você for para as Dolomitas evite as rotas normais, prefira vias um pouco mais difíceis para evitar congestionamentos, perda de tempo e até possíveis acidentes (é comum as cordadas de cima deixarem cair pedras nas cordadas de baixo!!!).

Eu e o Eiki fomos os primeiros a entrar no Diedro Fehrmann, logo dois italianos nos seguiram, e assim continuamos até o final. A via é um espetáculo, o diedro em si é perfeito, 90º, como um livro aberto na vertical, com uns 80 metros de altura, a proteção é praticamente toda em móvel, existem raros grampos de fenda, basicamente nas paradas, que merecem serem melhoradas com algum friend.

Na parte superior existe outro grande diedro, que logo se torna uma chaminé úmida e escorregadia, é preciso sair uns 10 metros para à direita e seguir pelo meio da parede, exposta, V grau, mas é só manter a calma que se acha onde proteger. Após o domínio de um teto vem uma bela travessia à esquerda que leva ao fim do diedro, a via acaba ali, mas ainda faltam 150 metros de altura até o topo, fomos para o lado oposto do Campanile Basso por uma “cengia” (plataforma que vai rodeando a montanha) e continuamos até o cume pela Rota Normal, aonde chegamos após um total de 9 horas de escalada. Algumas fotos rápidas e lá fomos nós para a segunda parte da nossa aventura, a descida.

A descida jamais pode ser subestimada nas Dolomitas, geralmente é bem complexa, com rapéis, misturados com trechos de desescaladas e caminhadas. Tenha sempre um bom croqui da subida, mas não se esqueça de levar também um bom croqui da descida.

Como em toda grande parede, o ideal para escalar é usar duas cordas de 50 a 60 metros, alternando-as nas costuras para diminuir o atrito, e emendando esticões curtos em um só para ganhar tempo – mas durante o rapel nas Dolomitas, vale a pena usar apenas uma corda, fazer rapéis curtos do que longos, pois a corda enrosca facilmente no calcário dolomítico, cheio de pontas.

Dizem que temporais são comuns no final da tarde nas Dolomitas, e comprovamos isso logo em nossa primeira escalada, assim que terminamos os rapéis, começamos a voltar até o refúgio pela famosa Ferrata delle Bochette (ferrata = via equipada com degraus e cabos de aço), e caiu a maior chuva.

Tivemos ainda alguns escorregões ao cruzar grandes manchas de neve, e só chegamos ao refúgio à noite, pouco depois das 20 horas. Jantamos, pegamos as mochilas e caminhamos hora e meia ladeira abaixo até o nosso carro, só fomos descansar depois de duas horas de viagem, quando chegamos ao hotel em Trento, ponto de encontro marcado com nosso amigo Andriguetto que nos acompanhou na travessia “Le Cinque Dita”, no Sasso Lungo, assunto da próxima atualização.

Grande abraço,

Waldemar Niclevicz