+  BLOG DO WALDEMAR NICLEVICZ  
 
Na base do Salto Angel
 
 
 

Estimados Amigos,

Continuo o relato da Expedição Salto Angel, se você ainda não sabe o quanto maravilhosa foi essa nossa experiência, clique neste link para se interar.

 
O Salto Angel visto das margens do rio Churun, de Isla Raton.
Foto: niclevicz.com.br
 

Ainda estamos extasiados pela experiência que passamos, algo muito difícil para alguém que não é escalador imaginar, assim gostaria de citar apenas um exemplo.

Semana passada nos reunimos mais uma vez para dar uma olhada nas fotos e filmes, e um dos membros da equipe (sem citar nome em respeito a esse fera das rochas) - e isso depois de mais de um mês que já voltamos ao Brasil - disse que ainda acorda no meio da noite assustado, com o pijama pingando de suor, ao relembrar em sonho as situações extremas que passamos em lances absolutamente expostos, onde uma queda poderia ser fatal.

Na parede de 1.100 metros de altura de onde se precipita o Salto Angel, vivemos dezessete dias com a ansiedade pulsando em nossos corações, quer seja observando o amigo que estava na ponta da corda, levando horas para progredir apenas uma dezena de metros, quando o tempo parecia parar. Ou quando estávamos com a responsabilidade de guiar, quando então o tempo passava rápido, consumindo nossas forças, deixando a boca seca, enquanto o imenso vazio abaixo sugava o restante da nossa energia potencializando o estresse da escalada.

O rapel de volta para o acampamento, muitas vezes já de noite, era um alívio. Mesmo assim era difícil dormir, pois a tensão da escalada continuava rondando os nossos sonhos. Pior ainda para quem já sabia que no dia seguinte teria que assumir a ponta da corda, seguindo o revezamento que havíamos combinado. Comprometimento total!

Como havia prometido, sigo mostrando as fotos na sequencia do desenrolar de toda a viagem. Na atualização passada mostrei nossa etapa de navegação nos rios. Nessa atualização algumas fotos de nossa chegada na base do Salto Angel.

Nossa viagem de barco terminou em Isla Raton, acampamento que fica as margens do rio Churum, de onde já é possível avistar o Salto Angel, e onde tem vários acampamentos que recebem turistas diariamente, vindos de canoa desde Canaima. Os turistas dormem nesses acampamentos, na verdade barracões com telhado de zinco onde penduram suas redes, no dia seguinte vão até um mirante para contemplar o Salto Angel e voltam para Canaima. Quando os rios estavam navegáveis (com bastante água) escutávamos lá do Salto Angel o barulho dos motores das canoas.

Bem, de Isla Raton (600 metros de altitude) até o Mirante Jaime, levávamos cerca de 40 minutos caminhando, depois pegávamos uma trilha menor por mais uma meia hora para chegar até a Cova dos Espanhóis (900 metros de altitude), uma pequena gruta que serve de acampamento-base para quem escala a abóboda do Salto Angel.

A floresta é do tipo equatorial amazônica, com árvores retilíneas e bem altas, beirando os 20 metros. O solo é bem arenoso e de pouca profundidade, assim as raízes se espalham pelo chão procurando sustentação e alimento. É uma floresta bonita, mas não tanto como a nossa Floresta Atlântica, onde a variedade de espécies vegetais e animais é notavelmente maior.

Na próxima atualização vou trazer mais fotos e detalhes da escalada propriamente dita do Salto Angel.

 
O Chiquinho (de pé), o Ed, o Sérginho (com o croqui na mão) e o Val, analisando a rota de escalada do Salto Angel, desde a Cova dos Espanhóis.
Foto: niclevicz.com.br
 
A grande abóboda do Salto Angel e sua parede de 1.100m de altura, vista desde a Cova dos Espanhóis. Em vermelho, o traço aproximado da rota que percorremos. Em dias secos as águas da cachoeira mal chegavam até a base, já em dias de muita chuva observávamos que as águas da cachoeira chegavam facilmente até a Cova. Nos disseram que nos meses de julho e agosto, pico das chuvas, mal se consegue ficar de pé na Cova dos Espanhóis, pois as águas do Salto Angel chegam com força até lá.
Foto: niclevicz.com.br
 
Desde a Cova dos Espanhóis, olhando para o lado oposto do Salto Angel, o visual que nos envolvia.
Foto: niclevicz.com.br
 

Grande abraço,

Waldemar Niclevicz

 
 
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Alpinista
 
Com 18 anos eu me mudei para a região de Itatiaia, onde morei por três anos. Foi lá que vim a aprender a usar o equipamento técnico, como cordas e mosquetões.

Nesta mesma época, 1985, eu realizei minha primeira grande aventura: uma viagem através da Bolívia e Peru, com o desejo de fazer o Caminho Inca a Machu Picchu. Foi uma viagem decisiva para a minha vida, respirei pela primeira vez o ar rarefeito das altas montanhas, pisei pela primeira vez na neve, apaixonei-me pela cultura e pelo povo andino. Não parei mais de viajar.

Obstinação, paixão e disciplina são as palavras que melhor definem Waldemar Niclevicz, o primeiro brasileiro a escalar o Everest, o K2 e os Sete Cumes do Mundo (a maior montanha de cada um dos continentes).

Também já escalou a Trango Tower (a maior torre de granito do mundo), O El Capitan e o Half Dome, além de 6 das 14 montanhas do planeta com mais de 8 mil metros: o Everest (8.848m), o K2 (8.611m), o Cho Oyo (8.201m), o Shisha Pangma (8.046m), o Gasherbrum (8.035m) e o Lhotse (8.501m).

 
 
 

2000
K2 (Paquistão) com 8.611 metros

1997
Carstensz (Nova Guiné) com 4.884 metros

1997
Mc Kynley (Alasca) com 6.194 metros

1996
Vinson (Antártica) com 4.897 metros

1996
Kilimanjaro (Tânzania) com 5.895 metros

1996
Elbrus (Rússia/Geórgia) com 5.642 metros

1995
Everest (Tibet / China) com 8.848 metros

1988
Aconcágua (Argentina) com 6.962 metros