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As Ilhas Virgens Espanholas ficam localizadas a leste de Porto Rico e têm como ilhas principais Viéques e Cúlebra, as duas únicas ilhas habitadas da região. As outras dezenas de ilhotas que formam o arquipélago não são habitadas e algumas destas só são visíveis durante a maré baixa. Em Janeiro de 2013 tive o prazer de passar sete dias explorando algumas destas ilhas e o vídeo que segue é apenas um resumo da aventura.
Inicialmente alugamos um veleiro Catamaran de 42 pés, no porto de Saint Thomas, capital das Ilhas Virgens Americanas e de lá começamos nossa aventura. Tentamos fazer esse aluguel em duas outras companhias, mas eles rejeitaram nossa proposta, alegando que o risco de levar o barco até os picos de surf e kitesurf que pretendíamos visitar era muito grande.
Como surgiu a idéia da aventura?
Tim Geisler me contatou pela primeira vez pelo Youtube, pois conheceu um de meus vídeos e desde então nos tornamos "amigos" de Youtube. Por dois anos compartilhamos vídeos e histórias pelo Youtube, mas nunca nos conhecemos pessoalmente. Planejamos duas viagens similares nesses dois anos, porém estas nunca saíram do papel, enfim, mas dessa vez deu certo. Montamos uma tripulação de seis caras fanáticos pelo mar e seguimos adiante.
A tripulação
No nosso grupo de seis não havia passageiros, uma vez que todos tinham uma função no veleiro e juntos conseguimos levar o catamaram por sete dias sem imprevistos, mas, claro, seguindo as instruções do Tim, que entre nós, era o velejador mais experiente. Em segundo lugar o velho Al, que tinha experiência em mecânica náutica e navegação. A minha função era ajudar com as cordas e a vela principal, lavar pratos, pescar e fazer as fotos e vídeos da jornada. No mais, todos os seis tínhamos uma paixão enorme pelo mar e estávamos alí em busca de aventura, surf e kitesurf.
Um pouco da história do lugar
Essas ilhas serviram durante muito tempo como base militar dos EUA. Jogos militares eram comuns nesse paraíso tropical, inclusíve o bombardeamento de várias ilhas e corais. Finalmente, em 2003, depois de muito protesto, o governo de Porto Rico conseguiu que os EUA deixassem o lugar. Por conta disso, a região hoje é bastante selvagem e rica em biodiversidade. Praticamente, o arquipélago todo se tornou um parque ambiental, uma vez que alí não é possível encontrar hotéis de luxo, cassinos e grandes marinas para navios cruzeiros. O lugar é mesmo isolado e com exceção das ilhas de Viéques e Cúlebra, não existe estrutura alguma nas demais ilhotas. Você tem que chegar com seu barquinho em águas razas, jogar âncora, depois ou nadar para a praia ou ir de bote inflável.
A ilha de Culebrita
A minha favorita. Ancoramos ali duas noites, numa enseada chamada Tortugas, nome bem propício, pois havia tartarugas marinhas por toda parte. Elas rodeavam nosso barco, curiosas e levantavam suas cabeças para fora d’àgua a fim de olhar o que estava acontecendo no convés. Em Culebrita não há residentes humanos. O único indício de atividade humana era um velho farol situado no topo de uma colina. Este é o farol mais antigo e em funcionamento de todo o Caribe, segundo a nossa carta náutica. Um dia fizemos um trekking pela colina e conseguimos subir no farol, quando constatamos que este funcionava por meio de painéis solares. A vista lá de cima do farol é magnífica.
Os únicos residentes de Culebrita eram bodes selvagens, com certeza deixados na ilha por quem quer que seja que construiu ou controlava o farol nos tempos antígos. Os bodes nos despertavam pela manhã. Ali, ancorado na bahia Tortugas, podíamos escutar a berradeira que começava minutos antes do sol sair, comandado pelo menor bode do grupo que mais sem assemelhava a um cachorro da raça paulistinha, todo negro, exceto suas patinhas brancas, parecia estar usando meias esportivas. Ele corria de um lado ao outro pela praia, subia e descia das pedras com uma agilidade incrível e berrava, berrava tanto que ele era o nosso despertador nos dias que passamos ancorados no lugar. Seus companheiros, mais tímidos, não davam suas caras na praia e ficavam escondidos na vegetação, apenas respondendo com mais berradeiras. Era um ritual curioso de assistir, durava nada mais que quinze minutos, acontecia logo após saírem os primeiros raios do sol e, depois, o silêncio total. Poderíamos ajustar nossos relógios pelos bodes de tão pontual que eram. Assim como poderíamos ajustá-los pelo farol da colina, que em todo o entardecer, sempre acendia na hora exata.
A grande barracuda
Ela deveria ter mais de dois metros e foi nossa companheira desde o primeiro dia que ancoramos em Tortugas, até quando partimos. Ela ficava paradinha ali, mais ou menos a um metro de profundidade, à sombra do nosso barco. Parecia um fantasma, estática e flutuante. Desde a primeira noite que chegamos, ela foi atraída para debaixo no nosso barco. Todas as noites, depois do jantar, eu levava a pilha de pratos para parte de trás do barco e alí sentado na escadinha, com os pés dentro da água morna do caribe, limpava os pratos. (sem sabão, é claro). Tinha sempre na cabeça uma lanterna, tipo a de mineiro, e me fascinava ver os peixes multicoloridos que se juntavam alí para comer os restos de comida. Mal sabia que logo além do foco da minha lanterna, não tão longe dos meus dedos do pé, podia estar aquele peixe enorme observando tudo. Foi na primeira manhã que eu a notei. Eu estava pescando iscas sentado na mesma escada de onde limpava os pratos. Pescava peixes pequenos, de mais ou menos um palmo de tamanho, que utilizava de iscas para pescar em águas mais profundas. Logo o primeiro que fisguei, justo antes de subí-lo ao barco, veio a barracuda e me roubou o peixe. Levou por inteiro, com parte da minha linha e tudo. Pegou o meu peixe e retornou para seu lugar à sombra do barco. Olhava-me com aqueles olhos grandes e amarelos e eu podia ver entre os seus dentes expostos, apenas os restos do seu lanche. Fiquei chocado com a rapidez e a ousadia da tal barracuda, porém, após colocar um novo anzol, retornei a pescar. Pensei que pudesse ser mais esperto e mais rápido que ela. Pensei que pudesse subir o meu peixe ao barco antes de perdê-lo para a barracuda. Estava errado. Essa cena se repetiu duas vezes mais. Agora, a tal barracuda parecia estar sorrindo pra mim, ou seria que estava rindo da minha cara? Juro que seus dentes deveriam ter uns dois centímetros de comprimento. Furioso, larguei o meu carretel e fui correndo buscar o arpão que tinha guardado na capa da minha prancha. O arpão tinha 3 ligas de borracha. Armei-o com a potência máxima (com as 3 ligas juntas) e já estava pensando que comeria Taquitos de Barracuda para o almoço, posicionei-me, mirei, prendi a respiração e ao final, resolvi não puxar o gatilho. Achei que não valia a pena comer taquitos de barracuda para o almoço, afinal das contas, ali era a sua casa e era eu quem a incomodava.
Mais um sonho concretizado
Os sete dias passados explorando aquela região vão ficar pra sempre na memória. As longas horas olhando pro mar aberto, sentado na proa, refletindo sobre a vida enquanto cruzávamos de uma ilha pra outra. As conversas com os companheiros de aventura que todas as noites, depois do jantar, se juntavam a compartilhar cada estória curiosa. O encontro com alguns nativos da ilha, que sempre nos recebiam com um sorriso enorme, felizes da vida, apesar de não possuírem a metade das mordomias que nós temos, como por exemplo, água encanada, telefone, etc..
Há algo de muito especial em poder viver uma aventura dessas, tudo enriquece, desde a logística de assegurar o barco, licenças, vistos, seguros, carregar o barco com suprimentos, planejar rota......até claro, poder fazer kitesurf num lugar paradisíaco, ver um pôr do sol de uma praia onde poucos já pisaram, ver golfilnhos brincando na marola do barco, entre muitas outras coisas mais.
Vou ficando por aqui. Há muito mais a compartilhar, porém ja escrevi bastante. Deixo-os vendo um videozinho que mostra um resumo da aventura.
Um grande abraço e até a próxima aventura.
Thiago Bahia |