Os aprendizados da montanha
da redação, Texto e fotos: Tainah Fonseca
12 de dezembro de 2012 - 8:00
 
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  • Foto: Tainah Fonseca
    Eu e o Carlos Santalena Foto: Tainah Fonseca
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    Escalando o Elbrus " Foto: Tainah Fonseca
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    Tainah Fonseca" Foto: Tainah Fonseca
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    A decis�o de retornar,Tainah, Marcos e um companheiro" Foto: Tainah Fonseca
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Eu e o Carlos Santalena Foto: Tainah Fonseca

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Depois de algum tempo imaginando e mandando todas as energias possíveis, a viagem ao Mt. Elbrus aconteceu!

Saímos de São Paulo ansiosos pela escalada da maior montanha da Europa, tão linda quanto gelada. Paramos na Holanda por alguns dias para tranquilizar nossas mentes da correria do dia-a-dia, e para enfim iniciarmos uma nova expedição totalmente entregues a ela.

Após esses dias, embarcamos à Moscou, cidade com grandes contrastes do pós-comunismo e dona de muitos Patrimônios da Humanidade. Andamos horas pela Praça Vermelha, totalmente atraídos pela beleza do lugar. A Catedral de São Basílio com suas cúpulas coloridas parece ter saído de um conto de fadas. A história conta que o czar ordenou que cegassem o arquiteto responsável pela construção da catedral, para que nunca houvesse algo comparável.

Na Praça, bem em frente a um dos maiores e mais ricos shoppings que já conheci, símbolo do capitalismo, está o corpo de Lênin embalsamado. Para mim, o maior contraste até então!

Ao final de todo conhecimento, já estávamos sedentos por montanha.
Embarcamos com destino à Mineralnye Vody e fomos até Terskol em uma longa viagem, na fronteira da Rússia com a Geórgia, de onde se iniciou a expedição.
Nos acomodamos em uma pousada nos pés da montanha em meio a belíssimos pinheiros, e lá ficamos, para que no dia seguinte fizéssemos uma aclimatação chegando ao topo do Mt. Cheget, a 3600m.

A vista do Mt. Elbrus era deslumbrante e de longe podíamos perceber que no topo da montanha o tempo não era dos melhores. Logo pensei em minha amiga Ayesha, que no momento atacava o cume.
Última noite de preparação dos equipamentos e de nós mesmos! A hidratação para o nosso corpo e o controle para nossa mente são indispensáveis.

O dia amanheceu bonito, e então, começamos a subida. No Mt. Elbrus, uma parte do trajeto até a base é feita por ski-lifts, o que ajuda no transporte dos alimentos, mas atrapalha na aclimatação. E particularmente, acho que deveríamos todos subir caminhando.

Chegando próximo aos 3700m, onde se localizam os Barrel Huts, já pudemos notar a grande diferença no clima. O frio, a névoa e o vento tomaram conta de todo cenário que se tornava cada vez mais interessante.
Logo que descemos dos ski-lifts encontramos um grupo de brasileiros que nos comunicaram que o dia no cume havia sido muito difícil.

Com esperança de que o tempo mudasse, fomos aos alojamentos nos organizar para mais uma aclimatação, onde subiríamos 1000m pelo trajeto que faríamos para o cume. Para nossa surpresa, o tempo estava ótimo! O céu abriu e deu espaço ao azul, depois ao laranja, ao rosa, roxo...até que o sol caísse por completo.

A caminhada foi linda e já víamos muitas montanhas altas abaixo de nós. No entanto, como neste dia fomos de 2200m à 4800m na aclimatação, senti o tal mal de altitude pela primeira vez.
Terminei a subida me sentindo muito cansada e um pouco enjoada. Mas em todo trajeto, acompanhada pelo Carlos, fiquei tranquila quando ele dizia ser natural tudo que eu estava sentido. Assim, descemos junto a Marcos e Fábio, nossos amigos e companheiros da expedição, em meio a um lindo cenário de montanhas nevadas.

A noite não foi como imaginei e fiquei com mal estar até pegar no sono. Ao acordar, tivemos o dia inteiro para descansar, para no outro, atacar o cume. Segui me hidratando muito para que eu estivesse 100%.
Durante este dia conversei bastante com meus parceiros, que me deixaram mais segura. Eles diziam que tinham certeza que eu chegaria ao cume. Tomei forças, e mesmo assustada, decidi que daria tudo certo.

Dia 09/08/2012 às 03h00 saímos para o ataque. Nevou bastante durante o final da tarde anterior até o começo da noite, e quando acordamos o chão estava coberto pela neve.
Ainda assustada por perceber que eu não me sentia tão bem, entrei no carro de neve que nos levou até 4700m.

O céu estava maravilhosamente estrelado e pude apreciar o mais belo visual que já vi. Mas, após descermos do Snowcat, me deparei com a neve muito fofa e logo tive que encontrar uma solução: caminhar pisando nas pegadas já feitas!
O dia amanheceu e o tempo continuou perfeito, totalmente aberto e com no máximo 5km/h de vento. No entanto, após algumas horas, já me sentia muito enjoada novamente e tive que sentar por um instante. Respirei fundo, e bem baixinho cantei um mantra, que me deixou mais tranquila. Levantei e continuei a caminhar sobre a neve que fazia meus pés sumirem a cada passo.

Um tempo depois tive que parar novamente pelo enjoo, pois já estava passando mal, e neste momento já percebia a preocupação do Carlos em me ver daquela forma. Decidi então que teria apenas mais uma chance de continuar, pois eu já estava chegando à minha exaustão.
A 5440m, pela terceira vez, sentei e vi que era minha hora de voltar. Já não aguentava mais dar um passo sem que tudo rodasse. Olhei para frente e lá estava o cume, a 200m de mim. Em meio a algumas lágrimas incontroláveis, resolvi que eu não passaria do meu limite. Tudo já estava tão lindo, não havia motivos para arriscar.

Então, comecei a longa descida de volta aos 3800m, no momento um pouco triste, mas bem.
Após algumas horas, olhei para trás e vi o Carlos andando depressa em minha direção. Quando me alcançou, me deu o abraço mais apertado e sincero. Pude sentir que todo alívio de me encontrar tomou lugar de sua preocupação.

Com outro ânimo, feliz por saber que há muitas coisas lindas de viver, continuei a descida em sua companhia e finalizamos nossa expedição, onde ele e nossos dois amigos, tiveram sucesso no cume!
Desta vez tive a certeza do que sempre achei, nós que tanto gostamos e cuidamos das montanhas, somos dignos de grandezas maiores do que um cume. Não há problemas se não chegarmos ao topo, basta sentir o que a montanha tem a nos mostrar, e o modo interessante como nosso corpo reage ao diferente.

Como diz um amigo: “Às vezes é necessário retroceder para se poder avançar!”

Até a próxima.
Namastê!