Este ano, o último dia do Trento Film Festival na Itália, ( que aconteceu neste último domingo, 10 de maio) incluiu a conferência "Quo Climbis?”, organizada com a colaboração de Reinhold Messner na sede do Messner Mountain Museum, em Castel Firmiano na região das Dolomites, contou com a participação dos alpinistas Simone Moro (também piloto de helicóptero e da Associaçao Kokos Onlus), Hervé Barmasse, Emilio Previtali e Marco Berti. Estavam presentes também Mario Corradini da Ciao Namaste com projetos humanitários pelo Nepal, Lindsay Griffin, presidente da The Alpine Club da Inglaterra, os franceses Anselme Baud do Nepal Mountaineering Instructors, e o presidente do Groupe de Haute Montagne, Christian Trommsdorff.
O direito de ir, o dever de ajudar!
A quarta edição do fórum foi intitulado "O direito de ir, o dever de ajudar." Construindo uma ponte entre a liberdade individual dos escaladores e suas responsabilidades com a sociedade dos territórios que frequentam. Um tema muito falado nos últimos meses, e após o trágico terremoto que devastou o Nepal, adquiriu um significado ainda maior, não só para os montanhistas e amantes da montanha, mas para todas as pessoas.
Afinal as montanhas não são paredes que se dividem, mas dobradiças que unem as pessoas. E em um momento de profunda dor, nos lembramos das experiências e emoções naquelas incríveis montanhas, mas sobretudo dos rostos das pessoas que conhecemos, dos momentos que passamos juntos, dos olhares e da conexão.
Foi muito falado que nós montanhistas temos recebido muito do Nepal, agora temos que fazer algo ainda de “mais tangível” para o pais, e principalmente, não esquecê-lo quando essa onda emocional passar. As devastações externas e internas continuarão por muito tempo.
É indispensável para os montanhistas a liberdade de ir onde eles querem, sob responsabilidade exclusiva, a conferência foi uma oportunidade para oferecer pistas de reflexão sobre o fato de que as montanhas não são apenas rocha e gelo, mas também a natureza resistente, na qual todos os dias aqueles que vivem por elas enfrentam. Pessoas que não têm sonhos de aventura, conquista pessoal, mas que para melhorar a sua situação, e com toda dedicação e motivação ajudam os escaladores a vivê-las, como fazem os Sherpas. Seguindo o exemplo do Edmund Hillary, muitos escaladores sentem a responsabilidade de ajudá-los a ter uma vida melhor e com melhores perspectivas, com ajuda humanitária, trabalhos voluntários, construindo escolas e hospitais nas áreas mais remotas. E agora, após o terremoto é hora de agir mais e ajudar todo o Nepal a se reerguer. Acontece que muitos dos lugares afetados, em vales isolados, tem o acesso muito restrito o que dificulta a chegada de ajuda. Em muitas áreas que foram destruídas pelo terremoto nas encostas das montanhas, que tiveram enormes problemas com a produção agrícola, estradas, e tantos lugares onde é possível se mover apenas a pé.
Simone Moro, que, como sabem há alguns anos lançou o serviço de resgate no Nepal com seu helicóptero (da Fishtail Air), explicou que uma das coisas mais úteis nesta fase seria a utilização dos poucos helicópteros privados (atualmente apenas dez) disponíveis para trazer ajudar de uma maneira controlada em muitas áreas remotas e atingidas, evitando a corrupção e ineficiências generalizada, pela falta de atenção do governo nepalês para essas áreas.
Um outro tema abordado na área de responsabilidade dos escaladores foi sobre a preparação técnica e a segurança dos Sherpas e guias locais. O Anselme Baud explicou como as agências internacionais que organizam expedições comerciais ao Everest, não garantem e nem promovem o treinamento de seus guias. Preferem contratar Sherpas com poucos direitos. Por isso estão trabalhando algumas organizações criadas com o compromisso de alpinistas ocidentais.
Messner foi claro sobre este aspecto da responsabilidade: primeiro, neste caso, são os organizadores, em segundo lugar de acordo com ele, devem proibir expedições comerciais ao Everest, porque no final quem investe para ganho (agências internacionais) assume a responsabilidade da vida e da segurança dos Sherpas. Messner reiterou sobre a grande diferença entre o turismo e montanhismo. Marco Berti propôs a criação de um grupo de trabalho de alpinistas para discutir as próximas ações concretas a serem colocadas em prática imediatamente, e para construir uma equipe pronta para essas situações de emergência.
"Criamos um grupo de trabalho, com uma idéia clara de que queremos ajudar. Nós queremos oferecer às pessoas desses territórios, e que propõem a sua ideia de desenvolvimento, para ajudá-los a alcançar a reconstrução. Devemos ouvi-las, compreendê-las."_ disse Franco Perlotto, o especialista em cooperação para o desenvolvimento, deixou claro que precisamos também de uma dimensão política a nível internacional
O fórum foi uma oportunidade para iniciar um confronto que poderia levar a um novo papel do montanhismo, passando do individualismo à ação coletiva.
O direito de ir, o dever de ajudar!
_ Roberta Abdanur |