Sem cume, mas com boas histórias dos Alpes
da redação, Manoel Morgado
4 de julho de 2012 - 16:00
 
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    Escalando o Mont Blanc Foto: Manoel Morgado
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    Escalando o Mont Blanc du Tacul" Foto: Lisete Florenzano
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    Chegando no Col" Foto: Manoel Morgado
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    Chegando no Col" Foto: Manoel Morgado
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    Chegando no Col" Foto: Manoel Morgado
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    Escalando" Foto: Manoel Morgado
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    Chegando no Col" Foto: Manoel Morgado
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    Cume do Mont Blanc du Tacul com Gilson" Foto: Lisete Florenzano
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    Cume do Mont Blanc du Tacul com Victor e Gilson" Foto: Manoel Morgado
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    Agulle di Midi" Foto: Manoel Morgado
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    Entrada do Refugio" Foto: Manoel Morgado
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    Agulle di Midi no amanhecer" Foto: Manoel Morgado
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    Milton e Lisete no col" Foto: Manoel Morgado
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    Visual dos Alpes" Foto: Manoel Morgado
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Escalando o Mont Blanc Foto: Manoel Morgado

 

Saímos do hotel as 13 horas com uma chuvinha desanimadora e o céu completamente encoberto. A previsão nos dizia que o tempo estaria assim hoje, mas que melhoraria à noite e no dia seguinte estaria com bom tempo, mas com ventos de 30 km/hora na montanha o que nos permitiria escalar, mas com temperaturas baixas.

Tomamos o teleférico para a fantástica Aguille du Midi que fica em frente ao Mont Blanc a 3800 metros, uma das mais incríveis obras de engenharia dos Alpes, e, ao invés das multidões que normalmente fazem filas estávamos apenas nós e mais alguns loucos montanhistas que se arriscavam com um tempo tão pouco promissor. Após alguns metros de subida já estávamos no meio das nuvens e ao invés da vista fabulosa que os postais propagandeavam, tínhamos apenas branco ao nosso redor.

Descemos do teleférico e entramos em um túnel de gelo que nos levaria à tormenta. Nos paramentamos com cadeirinha, crampons, botas duplas, cordas e toda a parafernália de montanha e fizemos a curta, apenas 40 minutos, desescalada de 200 metros até o abrigo de montanha Cosmics a 3600 metros. Apesar de muito curta nossa escalada do dia foi bastante tensa. Um vento forte soprava levando neve em nosso rosto. O caminho era uma estreita crista de não mais de 40 cm com uma queda de 1000 metros de um lado e 200 de outro, ambas seguramente fatais. Não que desse para ver tão longe com o white out que estava...

Para nossa surpresa, o abrigo estava praticamente cheio. Montanhistas são uma tribo corajosa...ou talvez tola...

Colocamos todo nosso equipamento para secar na saleta de fora e entramos para o conforto desse maravilhoso abrigo francês com beliches impecáveis, sala de jantar com comida farta e saborosa e para quem quisesse até cerveja e vinhos. Como já estávamos em uma altitude razoável, deixamos as bebidas alcoólicas para Chamonix. Fomos deitar cedo, as 20 horas para uma noite curta. O despertar era para a meia noite e meia quando iríamos avaliar se daria ou não para escalar. Antes de irmos dormir olhei para a janela e a nevasca tinha parado e apesar de ainda estar encoberto dava para começar a acreditar que a previsão de tempo podia estar correta.

Depois de uma noite curta e mal dormida, antes de cada cume ainda tenho aquele friozinho na barriga que me impede dormir tranquilamente, levantei e sai do abrigo para encontrar uma noite linda com lua cheia, sem vento e milhões de estrelas. Mal podia acreditar. Mais uma vez teria um dia de cume maravilhoso como costuma acontecer comigo. Tomamos um rápido café da manhã e as 2 da madrugada começamos nossa escalada.

Em Chamonix nos dias que antecederam nossa escalada, depois de muitas conversas vendo os prós e contras de cada via, nos decidimos por fazer a chamada via dos Três Mont Blancs, assim chamada por atravessar a encosta de duas montanhas: a Mont Blanc du Tacul e Mt Maldit, antes de subir a encosta final do Mt Blanc. Esta via é bem mais longa, um pouco mais técnica e menos tentada do que a via normal.

Nosso dia começou com uma descida de ao redor de 200 metros verticais pelo glaciar o que foi muito melhor do que como costuma ser onde mal você acorda e já está subindo uma encosta íngreme. Apesar do abrigo quase cheio, muitas das pessoas que estavam lá tinham planos diferentes dos nossos e junto conosco rumo ao Mt Blanc estavam apenas outras 15 pessoas. A chuva dos últimos dias em Chamonix se traduzia em 50 a 60 cm de neve fresca na montanha e com isso nosso ritmo desde a subida foi extremamente lento com os grupos se revezando no duro trabalho de abrir o caminho na neve fofa. A lua iluminava as montanhas e a cada pequena parada de descanso nos maravilhávamos com a paisagem que com o passar das horas ia ficando cada vez mais espetacular. As 5 da manhã começamos a subir a encosta do Mt Blanc du Tacul e a encosta tinha muito mais neve do que gostaríamos e chegamos a parar para conversar se seria sensível continuar por causa do risco de avalanche. Resolvemos continuar, mas reavaliar mais acima. Já estávamos a 4000 metros, mas ainda tínhamos muitas horas pela frente.

As 6 da manhã chegamos em um colo de onde tivemos a vista da próxima encosta, a do Mt Maldit. O que vimos foi desanimador. A encosta era bastante inclinada com um trecho de 55 graus para atingir o próximo colo. Mas, isso já sabíamos. O que nos surpreendeu foi o estado desta encosta. Com a nevasca dos últimos dias uma grande quantidade de neve fresca estava pendurada pedindo para cair. Com tristeza no coração decidimos que o risco de avalanches era muito grande e que não valia a pena. Também, este era apenas um terço do caminho e por causa da neve fresca nosso progresso tinha sido muito lento. Se seguíssemos, com certeza voltaríamos à noite. Decidimos abortar a tentativa do Mt Blanc e escalar o Mt Blanc du Tacul, ao redor de 200 metros acima de nós. Seguimos por uma crista afilada que levava a uma escalada pequena, mas desafiadora de neve e rocha e as 7 da manhã estávamos no cume com uma vista maravilhosa que se estendia até o Matterhorn na Suíça. De lá, podíamos ver o quanto ainda teríamos de escalar para chegar ao Mt Blanc. Apesar da tristeza vimos que tínhamos tomado a decisão acertada.

Na descida, com o forte sol da linda manhã, a neve rapidamente estava derretendo e a longa descida que teria sido muito fácil nos custou um grande esforço e chegamos de volta ao teleférico bastante cansados após 10 horas de escalada.

Comemoramos nossas aventuras pelos Alpes com uma deliciosa cerveja belga gelada no nosso restaurante predileto. Amanhã, o Dudu e o Gilson voltam para casa, o Milton ainda fica mais uma semana por aqui e quem sabe tentará o cume novamente e o Guto, a Lisete e eu seguimos para a Mongólia para um lindo trek de 9 dias e a escalada da montanha mais alta daquele país, o Khuiten que eu, a Lisete, o Resende e o Dudu escalamos no ano passado.

Apesar de não termos conseguido nosso objetivo principal, foram deliciosos 16 dias nos Alpes com gostosas escaladas, lindas paisagens, ótima companhia e muitas histórias. O que mais poderia pedir?