Nos primeiros três dias não fazemos muito mais do que comer e dormir. A Lisete vinha de um período muito intenso de trabalho juntamente com os preparativos para a mudança completa de vida, de engenheira em Botucatu para viver a vida de nômade mundo afora. Eu tinha guiado cinco grupos em seguida no Mustagata – China, Elbrus – Rússia, Kilimanjaro – Tanzânia, Dolpo no oeste do Nepal e finalmente o trek ao redor do Manaslu também no Nepal. Além disso, chegar nesta pequena praia da costa oeste da Tailândia tinha sido também bastante trabalhoso com um vôo de Katmandu a Bangkok, outro de lá a Krabi e de lá um barco a Tom Sai. Ambos precisávamos de um período de descanso e esta pequena praia tinha tudo o que queríamos. Um simples, porém charmoso bungalow com vista para os majestosos penhascos de calcário que fazem deste lugar uma das mecas mundiais de escalada em rocha, pequenos restaurantes na praia para nos deliciarmos com a saborosa comida tailandesa e para a noite tomar uma cerveja gelada ouvindo as ondas do mar e gente de todo o mundo buscando o mesmo que nós, de nossa "tribo". Mas, as rochas tiveram de esperar até que estivéssemos prontos para elas.
Eu nunca fui um escalador de rocha. Brinquei um pouco no Brasil, mas sempre foram as altas montanhas que me atraíram como um imã. Neve, gelo e frio acabaram sendo o que, sempre que tive oportunidade, me chamaram. Mas, sentia que para tornar-me um melhor escalador tinha de praticar este outro lado do esporte. A oportunidade veio agora com a Lisete que por muitos anos vem escalando rocha tendo chegado até a ter um muro de escalada em Botucatu. E com isso decidimos passar nossas férias em Tom Sai.
Esta região da Tailândia ao redor de Krabi foi descoberta por escaladores de rocha do mundo todo ao redor dos anos 80 e rapidamente tornou-se conhecida por suas centenas de vias, bonitas praias e vida barata, uma combinação irresistível!
Nossos dias acabaram seguindo uma rotina não planejada, espontânea, muito gostosa. Acordávamos às 9 da manhã, mas só realmente conseguíamos sair da cama ao redor das 11. Tomávamos café da manhã em um pequeno restaurante próximo da praia, a Lisete comendo café com leite gelado, torradas e salada de frutas e eu um delicioso Pat Tai, um prato típico tailandês com macarrão, bambu sprouts, amendoim moído e graúdos camarões e um lassi de banana ou manga. Depois disso pegávamos nosso equipo de escalada e íamos a alguma das paredes. Como eu era iniciante e a Liste estava um pouco enferrujada começamos escalando vias mais fáceis para adquirir confiança, mas conforme os dias foram passando fomos nos atrevendo um pouco mais e buscando desafios mais interessantes. Depois de escalar por algumas horas íamos para a praia ver os "hot shots" escalarem os penhascos em grandes negativos, tetos e paredes impossíveis. Por mais de uma vez senti uma nostalgia por não ter me iniciado neste esporte mais cedo para quem sabe tentar algo como o que via esses jovens fazerem. A habilidade em qualquer esporte sempre me atrai e a escalada em rocha é uma das atividades esportivas com uma beleza plástica imensa. Bem feita é quase uma dança onde a seqüência de movimentos é feita (aparentemente) sem esforço algum. Técnica e forca se unem de maneira maravilhosa.
Para a noite tínhamos peixe grelhado ou um dos deliciosos embora picantes curries de peixe ou camarão com leite de coco, uma cerveja gelada e boa música. Nada mal para férias... |