As muitas montanhas da vida
da redação, Texto: Lisete Florenzano
19 de maio de 2013 - 21:14
 
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    Ataque cume do Mont Blanc Foto: Divulga��o
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    As cordas fixas no Cho Oyu " Foto: Divulga��o
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    A rota de escalada do Cho Oyu " Foto: Divulga��o
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    No cume do Khuiten na Mong�lia " Foto: Divulga��o
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    No cume do Kilimanjaro " Foto: Divulga��o
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    No ataque ao cume do Elbrus " Foto: Divulga��o
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    Na Patag�nia " Foto: Divulga��o
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No ataque cume do Mont Blanc Foto: Divulgação

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Às vezes somos inundados por informações que se transformam em emoções.

Neste contexto, me preparo física e emocionalmente para um grande desafio em minha vida, escalar uma montanha com mais de 8.000m de altitude, o Cho Oyu. Essas montanhas, chamadas de “eighthounsanders”, se encontram todas no Himalaya e existem apenas 14. O mais alto e famoso, claro, Mt Everest com seus 8.850m. O Cho Oyu é o sexto pico mais alto do mundo, com 8.201m. É considerado o menos complicado tecnicamente e muitos montanhistas usam essa montanha para “debutar” no mundo dos 8.000m.

Claro que a primeira coisa em que pensamos é no preparo físico. São horas, todos os dias, dedicadas a por o corpo em sua melhor forma física. Isso exige muita, muita força de vontade, disciplina, esforço e até criatividade... “como posso fortalecer aquele músculo do antebraço que vou usar na parte técnica? Aaaaahhh, vou fazer barra usando duas cordas na vertical!”.

O lado emocional da escalada é muito menos abordado, mas acho que é tão importante quanto. Claro que todo montanhista que vai para uma escalada de uma montanha de 8.000m sabe o que está fazendo e sabe que existe um risco de vida envolvido. Mas sempre parece que essa realidade fica longe, a quilômetros de distância. De fato, quando me inscrevi na expedição, vi as fotos da escalada e vídeos na internet, achei tudo maravilhoso e me visualizei no cume, num dia perfeito de sol. Já fiquei naquela ansiedade do tipo “putz, é só em agosto!”.

Então, a realidade começou a aparecer, quando recebi os muitos formulários para preencher. Formulários médicos, contatos de familiares para serem avisados caso aconteça algo, seguro, contrato de risco... Mas o mais punk foi, sem dúvida, o “body disposal form”, onde vc tem que preencher o que quer que seja feito com seu corpo no caso da morte na escalada. Incrível o choque que isso provoca... ter que pensar, seriamente, na morte.

O budismo e outras filosofias orientais já deixam muito claro o conceito de Impermanência, isto é, nada é permanente. Nossa vida está dentro desse pacote. Mas principalmente nós, ocidentais, parece que nem pensamos a respeito... vivemos nossos dias como se fôssemos viver ad eternum... Na verdade, sabemos que não é bem assim.

Comecei a pensar seriamente sobre o assunto, da Impermanência. A conclusão é até simples: viver da melhor maneira possível o momento, a vida. Nem que, para chegar a isso, seja preciso alguma mudança que seja dolorosa, mas o turbilhão provocado por ela vai passar e será para melhor. Como tomar consciência desse fato já mudou algumas atitudes em minha vida! Coisinhas simples, como passar o Dia das Mães com minha mãe, irmã (acabou de ser mamãe tb!) e cunhado em São Paulo, dar mais atenção aos amigos, perdoar uns tantos outros, enfim... muitas coisas e atitudes bacanas, já que na realidade hoje posso simplesmente atravessar a rua e um doido não me respeitar. Nem é preciso falar do Cho Oyu...

Todas essas reflexões podem levar a atitudes positivas, como citei, ou negativas – ficar com medo de tudo e parar no tempo. Mas se a gente não sair e viver, de que vale tudo isso?

Esta semana tive duas notícias e cada uma me emocionou de maneiras diferentes. A primeira, maravilhosa, de que a Karina Oliani chegou ao cume do Mt Everest e voltou em segurança. Foi um sonho que ela teve, conseguiu transformar em realidade, fazendo o melhor que pode em cada situação. Isso é bacana demais... Senti aquele uhuuuuu no peito e isso me pilhou ainda mais para seguir em meus treinos para o Cho Oyu. Só pensava “nossa, daqui a pouco sou eu”! A outra não tão boa, que o montanhista Parofes que, apesar de não conhecer pessoalmente (apenas virtualmente) e por quem tenho a maior simpatia, está com leucemia. Sempre acho incrível o poder que o ser humano tem de lutar nas adversidades, com garra, determinação. Me fez novamente pensar na vida, na Impermanência de tudo e como nossa atitude poder ser determinante. Troquei alguns e-mails, ele me escrevendo do hospital (é mole?) e mantendo a mesma atitude positiva.

Sim, a vida é curta... O ponto é que não sabemos o quanto ela vai durar. Assim, vamos viver! Repensar a vida, ver o que é um peso e o que nos traz satisfação. O que for um peso, pensar em como solucionar o problema... sem arrumar bilhões de desculpas que travem qualquer iniciativa. Outra coisa, sabe aquela estória do amor incondicional (que muita gente acha breguinha e que é coisa de livro de auto-ajuda)? Isso é real, e devemos usar com tudo e todos... desde a natureza, seu vizinho e vc mesmo. Fazer pequenos gestos sem esperar nada em troca (o que no yoga chamamos de “ação desapegada da ação”, isto é, sem esperar por resultados diretos a vc) tb fazem parte... Doar brinquedos, roupas, sangue, órgãos, medula. Penso no amigo Parofes e tantas outras pessoas que podem ser ajudadas a partir de um gesto desses...

Por isso, saia do computador e vá passear! Faça o que quer que vc realmente goste, agora, pra sentir esse gostinho. Como disse esse meu amigo montanhista, fique menos no facebook e mais na montanha!

Para fechar com chave de ouro minhas elocubrações mentais, recebi de uma amiga-irmã desta vida este vídeo, que me fez pensar em mais uma coisinha, tb já sabida dos orientais (é, os caras são bons...): todo o Universo está emaranhado, como numa rede. Todos os pontos estão conectados, nós criamos essas conexões. Mas estão equilíbrio. E basta uma pena que seja, para que essas conexões se desfaçam. http://www.facebook.com/photo.php?v=498138383587025

Sonhe! São os sonhos e sua concretização que nos dão alegria de viver.

Grande abraço a todos!