Todos nós já ouvimos sobre o aquecimento global. Creio também que já sentimos aqui no Brasil as mudanças no clima. Praticamente não tem mais inverno no Estado de São Paulo (no sul ainda existe aquele friozinho...) e o resto do ano sofremos com as altas temperaturas.
Mas com essas andanças pelo mundo, pude perceber mais a amplitude desse aquecimento. Os lugares que antes tinham as estações bem definidas agora já não tem. Sim, ainda se pode imaginar como vai ser o tempo, mas não se pode mais garantir nada.
Este é um texto para contar a vocês o que está acontecendo um pouco mais além do nosso calor tropical.
ANDANDO POR AI...
Minha agenda é bastante cheia e em geral estou em um país diferente a cada mês. E em cada lugar que vamos tenho o mesmo comentário: o tempo está ficando maluco!
No ano passado, fiz dois trekking ao acampamento base do Everest, em março e abril. Nessa época do ano no Nepal temos a primavera. Era de se esperar uma temperatura super agradável e sem chuvas. Mas, para minha surpresa, tivemos de tudo: chuva, nevasca, dias muito frios e um pouco de sol.
No Marrocos foi ainda mais surpreendente. Eu estava no refúgio que fica aos pés do Mt. Tubkal, a mais de 3.000 m de altitude, onde choveu a noite toda. Os guias locais estavam totalmente perdidos, sem saber exatamente que atitude tomar: subir ao cume ou não? A perplexidade deles era justificada... não chove naquela região e nem naquela altitude. Pode haver nevasca, mas não aquele pé-d’agua que testemunhei! No fim, a chuva parou e decidimos subir pra ver se as condições estavam boas. E estavam! Assim, chegamos ao cume. Sem visual nenhum, pois as nuvens estavam muito baixas, mas valeu a escalada de qualquer maneira.
Bom, Kilimanjaro nem se fala... o que resta das suas geleiras é bem pouco. É sempre impressionante ver fotos de 10 anos atrás, com seu cume todo branco. Hoje em dia, tem-se apenas algumas poucas áreas de gelo.
Nos EUA estive na costa oeste, de outubro até dezembro. Eu havia planejado fazer um pouco de escalada em gelo e escalar alguma montanha, enquanto o Manoel estava na Antártica. E, qual não foi minha surpresa quando tive que adiar os planos de ice climb... por falta de gelo! As cascatas que, geralmente, se congelavam a partir de novembro estavam com suas águas correndo. O jeito foi fazer um pouco mais de escalada em rocha. O gelo foi aparecer quase dez dias depois. E, devido à falta de neve, não deu pra escalar a montanha que havia planejado.
No Chile e na Argentina aconteceu a mesma coisa... em janeiro, muito calor na Patagônia, um calor que parecia que eu estava no Brasil. Sem chuva e sem vento – totalmente fora dos padrões patagônicos.
Eu e o Manoel fomos tentar escalar o Cerro Castillo. Devido à falta de neve, a aproximação foi muito cansativa e demorada, pois tivemos que andar um longo trecho em pedras soltas. Mais acima, já sobre a parte com neve, esta era tão superficial que não dava para colocar estacas de neve para fazer uma travessia (que era um pouco mais exposta).
No Osorno aconteceu o mesmo. Inclusive, devido ao perigo de pedras soltas rolando morro abaixo, a escalada estava proibida pelas autoridades do Parque Nacional. A história se repetiu no Lanin...
Essa é uma triste realidade, diante da qual me sinto com as mão totalmente amarradas. O que fazer pra melhorar essa situação? Teria que haver uma mudança de atitude, de paradigma... as pessoas teriam que levar essa questão do aquecimento global mais a sério para que houvesse algo realmente efetivo. Mas, como grande parte das pessoas vivem nas cidades, a observação e os reflexos desse fenômeno passam quase desapercebidos. Os efeitos são sentidos, mas ficam nos comentários “nossa, que calor!” “está cada vez pior” “o calor está insuportável” etc etc etc.
No fundo, todos sabemos o que devemos fazer para colaborar com o meio ambiente. Mas creio que falta ainda assimilar essas questões de maneira realista, madura e, mesmo que tenhamos que sair da nossa zona de conforto, colocá-las em prática. |