Médica, apresentadora e aventureira
 
 
+  BLOG DA KARINA OLIANI    
A cereja do bolo
 
 
Publicado em 06/03/2011 - 09h03 - texto de: Roberta Recoder
 
 
Empresas que apoiaram a minha expedição ao Aconcágua:
• The North Face
• Liofoods
• GU gel e isotônico - Mr Tuff
 
 
 

Desde sempre o montanhismo chama a atenção como um estilo de vida. A adoração do homem pela montanha se remete aos princípios de toda forma de civilização . As montanhas sempre tiveram ares místicos , por estarem especialmente próximas ao céu. Assim fica fácil entender por que todos povos tiveram sua montanha sagrada: Olimpo na Grécia, Meru na Índia, Sinaí na Palestina, Atlas em Marrocos e Himalayas!

É realmente difícil não se impressionar com a imponência das altas montanhas. E se as consideramos belas em fotos, pessoalmente são ainda mais exuberantes.
Tive o prazer de conhecer uma montanha em especial: Aconcagua que, situada na cordilhera dos Andes, se destaca por ser a maior montanha das Américas!

Foi minha primeira vez em alta montanha, o máximo que havia alcançado havia sido os 4.000 mentros do Mont Blanc, e pensar em 6.962 metros poderia ser assustador, se não fosse a companhia de uma parceira de escalada experiente o suficiente para acalmar qualquer impressão negativa que uma montanha desse porte pode gerar!

A Karina Oliani atuou como médica durante três meses no Everest, e lá aprendeu muito sobre a vida na montanha, as dificuldades e a paz que pode-se alcançar nesse ambiente tão inóspito. Nosso próximo desafio seria alcançar o cume do Aconcagua, para mais uma etapa de seu projeto pessoal que promete dar o que falar: conquistar as 7 maiores montanhas do mundo!

Nossa viagem estava programada para acontecer em 18 dias. A principio parece tempo de sobra, mas um dos preceitos mais importantes para esse tipo de aventura está justamente no seu tempo de permanência na montanha, pois é preciso ter paciência para escalar, e poder aclimatar-se bastante.

Tivemos o auxilio de um grande montanhista, o Willie Benegas, que junto ao seu irmão gêmeo, Damian , atuam como guias do Aconcagua há mais de 20 anos!

Dicas como o tipo de roupa apropriada, um roteiro de escalada, equipamento certos são essenciais para o sucesso de uma expedição. E claro , o guia certo faz toda a diferença, e nesse quesito tivemos sorte, o Willie nos indicou o Quique, guia experiente e super paciente, que deixou o ar da aventura ainda mais positivo.

Começamos com a parte de logística básica: comprar a permissão de ingresso ao Parque do Aconcagua. Tal permissão varia conforme o tipo de trekking que pretende fazer e cobra eventuais resgates emergenciais.

Com nossa permissão em mãos o primeiro passo foi um trekking de 4 horas até Confluenzia, o primeiro acampamento do parque, seguindo pela rota normal de ascensão.

Em Confluenzia dorme-se uma noite para darmos inicio ao processo de aclimatação. No dia seguinte fizemos um lindo trekking até El mirador , para tomar ainda mais contato com a diferença de altitude.

É durante esses pequenos passeios que você começa a se deparar com a magnitude da beleza das montanhas, cada detalhe, pequenos pedaços cobertos de neve, luz incidente deixam o cenário impressionante.

Depois dessa primeira etapa seguimos para o Acampamento base do Aconcagua, a famosa Plaza de Mulas, localizada a 4.300 metros. Aqui o trekking é bem mais largo, e as partes de ascensão começam a pesar um pouco no fim de suas quase 8 horas de caminhada intensa.

A Plaza de Mulas é inacreditável, uma verdadeira mini cidade em meio a vales, e bem colada à parte Oeste da parede do Aconcagua. Denomina-se assim pois é ali a última parada das mulas que trazem toda a carga mais pesada dos equipamentos dos montanhistas.

Ali iniciamos mais uma etapa do processo de aclimatação: dormir, beber bastante água e portear parte dos alimentos até o acampamento 1.

As palavras mais predominantes em qualquer alta montanha são realmente estas: hidratar-se e aclimatar-se. Os especialistas e guias batem insistentemente nessas teclas, pois isso pode definir seu sucesso ou não na expedição.

Então lá estávamos nós com nossas sopinhas e chás a tiracolo!

O dia que você permanece na Plaza de Mulas observa com mais atenção a rotina daquele pequeno vilarejo. Ali estão pessoas que instalam-se a trabalho no local por mais de 3 meses, e é interessante perceber suas relações com o ambiente. São cozinheiras, chefes de acampamento e porteadores , todos dividindo aquela espaço com a mesma energia e alegria do primeiro dia de inicio de temporada. Essa é a força da montanha, é energizante!

O dia de subida oficial amanheceu lindo, e relativamente quente em comparação às noites de quase -25ºC que chegamos a pegar no acampamento base, situação um tanto atípica para eles nesse período.
Uma das grandes dificuldades do Aconcagua , alias, é justamente essa instabilidade climática, um dia pode amanhecer super aberto e pela tarde cair toda neve do mundo e vice-versa. Nenhuma previsão é certeira e esse acaba sendo o maior obstáculo da montanha.

Seguimos para o Acampamento 1, ou mais conhecido como Canadá, relativamente bem. E lá você começa a sentir mais os efeitos de altitude, a cabeça dói um pouco e alguma sensação de náusea pode ser normal.

A partir dai o processo fica mais interessante, pois é onde emergimos efetivamente no ambiente inóspito do montanhismo: armamos nossa barraca, temos que pegar neve para derreter e cozinhar. É ai que a paz começa efetivamente a se estabelecer!

Com o passar dos dias e altitude que ganhamos, o frio fica cada vez mais intenso, mas somos agraciados por pores-do-sol de cinema. Cores e luzes nunca antes vistas.

De Nido de Condores, o acampamento 2, adiante, a paisagem fica ainda mais paradisíaca, o ar mais rarefeito, e as passadas ainda mais lentas. Vimos a importância do trabalho paciente. É uma atividade totalmente adversa à imediatez. Você pode pegar o atleta que dá os tiros mais rápidos na corrida, que seu desempenho não será tão bom se o mesmo não passar por um forte processo de aclimatação.

Nosso esforço físico mais uma vez é compensado por uma vista impressionante do acampamento, já que estávamos instalados um pouco mais acima das demais barracas.

Depois de mais um dia partimos para a penúltima etapa em busca do topo: o acampamento 3 ou curiosamente chamado de Cólera. Lendas divergentes explicam esse significado, como a de um casal que brigou naquele lugar e ao se separarem ela teve um episódio de cólera.

Mais uma subida relativamente curta, 4 horas de escalada e chegávamos as nossas tendas localizadas a quase 6.000m . O tempo piorou e nossas ¨casinhas¨ acabaram cobertas de neve até a metade.

Até esse período nosso trio de escalada composto pela Karina, o guia Quique e eu estávamos bem, mais a noite, que antecedia ao dia de cume , eu comecei mais uma vez a sentir os efeitos da altitude extrema. Dores de cabeça e náusea já não eram amenizadas por Ibuprofenos, e só o descanso poderia me ajudar.

A Karina sentia-se super bem e empolgada para sua conquista ao cume.
Tivemos uma janela de espera pois o tempo fechou. E finalmente no dia 20 de fevereiro de 2011, os elementos estavam perfeitos para a escalada final: sintonia e tempo aberto.

Infelizmente eu não melhorei de minha náusea, e não pude acompanhá-los, naquela que seria a jornada mais dura, mas a Karina continuou com o Quique para representar bem nosso objetivo.

Foi um dia duríssimo que ela mesmo não imaginava que poderia ser. Nos pintavam a rota normal do Aconcagua como sendo apenas um longo trekking, sem partes técnicas, mas divergentemente ela se deparou com partes técnicas, como a da famosa ¨Travessia¨ na qual 1 passo mal dado pode ter resultados desastrosos.

Após 8 exaustivas horas de escalada, nas quais até a cabeça do guia mais aclimatado da montanha doía, eles alcançaram o cume, sendo o ápice da viagem , ou parafraseando a metáfora divertida de nosso guia: alcançar a cereja do bolo!

A Karina Oliani acentuou que é mesmo uma montanha de responsabilidade, e que nem ela mesma acreditava que era tão difícil. Aqui devolvemos todo respeito que ela merece!

Uma montanha do porte do Aconcagua se não levada a sério e com o devido respeito pode tirar a vida de muitas pessoas. Só nessa temporada foram 5 mortes e alguns acidentados. Existe sempre uma força maior por trás, e cabe a nós saber valorizá-la. Entramos na cordilheira pedindo ¨licença¨ à montanha e saímos agradecendo-a.

Não alcancei a cereja do bolo nesse meu primeiro contato com a montanha, mas fiquei tão satisfeita com toda aquela ¨cobertura¨ que me sinto realizada.
Uma experiência para vida, na qual você acaba voltando e valorizando ainda mais os menores detalhes de sua existência.
Agora só resta uma dúvida... Qual será nossa próxima montanha?

 
 
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Médica especializada em medicina e resgate de áreas remotas.
Membro da Wilderness Medical Society.
Responsável pelo projeto "Medicina da Aventura" no Brasil. Membro da Brazilian Adventure Society. Registrada nos EUA como Wilderness Emergency Medical Technician.

Pilota de helicóptero, Instrutora de mergulho e membro Divers Alert Network.
Foi salva-vidas do Surf Life Saving Club de Surfers Paradise, Austrália em 1997 e já realizou diversos cursos na área de resgate aquático e terrestre.

Idiomas: Inglês, francês e espanhol.

Foi bailarina durante 12 anos e Jazz por 7 anos.
Foi modelo da Mega.

Atividades voluntárias: Integrante da equipe do Projeto Piauí 2006 - Projeto fazendo história nos anos de 2005/2006 - Projeto Gaia Social de planejamento familiar em 2006.

Foi apresentadora de programas de aventura no Sportv, TV Jam e TV Record.

Karina é atleta TNT Energy Drink, The North Face e Smith Sunglasses