El Huascarán Sur
A montanha mais alta do Peru. Conhecida por suas avalanches, a última maior causou uma morte em junho desse ano. Mesmo com os alertas, enfrentaríamos a montanha pela rota do Escudo e em um cronograma ambicioso de 4 dias.
A rota normal nao é técnica, mas a travessia do acampamento 1 para o 2 é toda uma zona de avalanches. A rota do Escudo passa por um trecho mais curto de risco de avalanches, em contrapartida tem que superar uma parede com mais de 600 metros em forma de triângulo. O desnível é descomunal de quase 3800 metros no total raz, montanha, India, a ser superado em poucos dias.
Tentamos controlar o peso da mochila, como se isso fosse possível. Depois de uma van, táxi e burros carregando o peso até o acampamento base, carregar a mochila nas costas foi um martírio.
Carregava uma corda, meu parceiro de escalada, o francês Yann, carregava outra além de outros equipamentos como parafusos e estacas de gelo. Anze e o outro esloveno iriam solo.
Escondemos nossas botas e as papetes do esloveno que usamos para subir da vila de Musho para o acampamento base. A subida para o acampamento morena foi dura com as botas de plástico pelas rochas escorregadias, mas às duas horas da tarde já estávamos no Refúgio. Mario, um rapaz quieto e ambiçoes gastronômicas, tomava conta do lugar. Descansamos a tarde inteira, sob um sol relaxante a 4670 metros de altitude.
Dormimos cedo para acordar cedo, de madrugada. Levantamos as duas horas da manha e saímos um pouco depois. Trocamos o dia pela noite para diminuir os riscos de avalanche. Yann já estava preocupado e nao parava de comentar como estava "quente". Realmente, até eu, friorenta de carteirinha, senti que nao estava tao frio como geralmente é na madrugada. Talvez seja pelo fato que a rota fica voltada para a face do enorme vale, o mesmo que situa Huaraz, Caraz e Yungay. Era lua cheia, nem precisávamos das lanternas. Os dois eslovenos iam aumentando a distância, Yann de tempos em tempos me esperava. Eslovenos sao famosos montanhistas, Anze já tinha escalado o Artensonraju e Chopicalqui solo. O outro esloveno tinha mais experiência ainda. Pouco depois de uma hora seguindo os totens, Yann começou a sentir dor de barriga literalmente.
Ainda tentamos subir por mais uns minutos, mas foi o fim. Sem argumentos, voltamos para o Refúgio. Os eslovenos desapareceram na imensidao das rochas.
Acordei tarde com um falatório. Um cliente e um ajudante voltaram entre a caminhada do acampamento 1 e 2. O cliente estava exausto, dormiria no acampamento base. O ajudante voltaria para o acampamento 2 na madrugada.
A descida além de monótona agora teve um sabor de derrota...
Chopicalqui
Ainda me recuperava da tentativa do Huascarán quando consultei a previsao do tempo. Teria dois dias de tempo bom e em seguida, esperado porém um pouco mais cedo que o previsto, iria ocorrer: chuvas.
Sozinha, resolvi arriscar. Parti para o Chopicalqui, montanha de 6354 metros de altitude.
Peguei o ônibus que faz o trajeto Huaraz-Yanama, desceria em umas das curvas do começo do zigue e zague da estrada de subida.
O ônibus fez uma parada onde servem o prato típico da regiao: picante de cuy. Dizem que é muito gostoso, nao tive o prazer (coragem) de experimentar...
O motorista me deixou onde na entrada da trilha e comecei a caminhar em direçao ao fundo do vale. Após uma meia hora cruzo com o acampamento base onde havia um grupo que começava a se mobilizar.
A subida para o acampamento morena leva umas quatro horas, caminha por uma crista, atravessa-se os blocos de rocha e sobe morro acima. Esse trecho é tranquilo, o grave vem depois.
Para o acampamento superior há algumas pontes de dar medo. As gretas estao abrindo, às vezes é necessário encontrar um a outra opçao pois o caminho original nao é mais possível atravessar.
No dia do ataque ao cume segui pela madrugada até visualizar em uma pirâmide toda entrecortada por gretas imensas. Achei arriscado continuar sem segurança e assim retornei perto dos 6000 metros de altitude.
No começo senti frustraçao de nao ter alcançado o cume de duas lindas escaladas. Depois percebi que nada é em vao. Ganhei lindas vistas e muitas fotografias para a memória, a minha e da câmera.
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