+  BLOG DA EMILIA TAKAHASHI
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O Frio, o Vento, a Nevasca e mais duas montanhas
 
 
 

Planejava escalar o Ishinca, acordei as 2 horas da manhã, abri os zíperes da barraca e não gostei nada do que vi. As montanhas estavam com nuvens no meio da noite o que não era bom sinal.

 
 

Normalmente, na temporada, a noite permanece limpa, cheia de estrelas ou iluminada pelo luar com o eterno frio intenso de altitude. Durante o dia, as nuvens começam a aparecer na metade da manhã e desaparecem no final da tarde, isso quando elas insistem em aparecer.

Voltei a dormir.

Acordei pela manhã e uma sueca me disse que poderia subir o Urus durante o dia. Coloquei as botas, peguei o kit ataque com comida e água, e parti.

A Quebrada Ishinca abriga o acampamento base para montanhas como Urus e Ishinca que podem ser feitas em um dia e Tocllaraju e Ranrapalca com um nível de dificuldade superior.

Quebradas são vales, utilizados para a aproximação das rotas de escaladas ou para caminhadas como Quebrada Santa Cruz, vale da famosa caminhada homônima.


Urus Leste 5420m

A subida é bem íngreme por uma aresta da montanha. Após uma hora, alcancei dois eslovenos: Miha e Anze. Eles faziam a ascensão ao Urus para aclimatação, como muitos. Eu, porque era melhor do que não fazer nada...

Subimos por mais algumas horas para finalmente alcançarmos um misto de neve e rochas.
Colocamos os crampons e os trechos foram se intercalando: neve - rocha - neve, até alcançar a fase final de pura rocha.

Cinco horas de subida do acampamento base (seis para os eslovenos), chegamos ao cume com o tempo totalmente encoberto.

 

Tocllaraju 6032m

Conheci um ucraniano, Serguei ou Sergio para as línguas latinas, e resolvi amenizar as despesas dele com o guia que havia contratado para escalar o Tocllaraju.
A montanha é linda, piramidal com uma cornisa enorme em seu cume.

Arrumei a mochila para dois dias e partimos tranquilamente as dez horas da manhã.

A subida começa beirando o rio que desce da glaciar do Tocllaraju, depois a trilha vira para a esquerda por um zigue e zague morena acima. Quanto mais subimos, maiores as pedras se tornam e o equilíbrio usando as botas rígidas de plástico é fundamental.
Caminhamos por três horas e meia desde o acampamento base para chegar no acampamento morena.

Sergio preferiu acampar ali mesmo, o que acabou sendo uma boa decisão. Um grupo continuou a caminhada em direção a um acampamento superior distante a menos de uma hora glaciar acima.
Descansamos, comemos, tiramos fotos e finalizamos a mamata com um delicioso chá marroquino que Sergio tinha trazido na bagagem.

Eu, com receio da montanha e por acampar um pouco mais baixo, sugeri para sairmos um pouco mais cedo, a 1 hora da manhã. Não era mais uma escalada básica, o Tocllaraju tem um nível de dificuldade classificado como D, devido a sua pirâmide final.

Começamos a escalada por rampas cuja inclinação fica em torno dos 40 graus. Cruzamos e saltamos gretas sem enxergar o perigo que passávamos. No meio do caminho há uma parede de uns cinco metros com inclinação de 70 graus, para alcancá-la passei um sufoco... A fissura abaixo sem fim deixa qualquer um tenso. Essa hora, meus dedos congelaram e na volta de circulação do sangue, chorei de dor.
As subidas foram intermináveis, parando apenas para recuperar a respiração. De repente... um estrondo! Avalanche! Parece que ocorreu um pouco mais atrás, não dava para saber ao certo com a escuridão. Um pouco mais acima... De novo! Dessa vez ao nosso lado, com certeza!
Chegamos na pirâmide final amanhecendo. Com inclinação em torno dos 50-60 graus foram uns vinte metros escalando com meu piolet de marcha.

Chegamos ao cume com vista limpa para os nevados Copa, Huascaran, Chopicalqui entre outros. O vento e o frio não deixou que ficássemos muito tempo apesar de sermos os únicos que chegaram ali naquele dia.

Na descida, a tormenta. Um vento tão forte que me derrubou duas vezes durante a caminhada de volta! Chamuscando de neve nossos míseros corpos, congelando os ossos, descemos a montanha nessa nevasca intermitente.

Agradeci ao chegar no acampamento morena, apesar do meu nariz congestionar totalmente. Parecia que estava em um sistema de descongelamento. Voltamos para o acampamento base e no dia seguinte para Huaraz, onde passei os dias me recuperando do episódio.

 
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Montanhista
 
Sempre foi aventureira e já escalou diversas montanhas no Brasil e realizou diversas trips pela América do Sul.

Já escalou as duas das 7 montanhas mais altas de cada continente, conhecido como "Projeto Sete Cumes".

Em 2009 foi demitida, mas não se deu por vencida e colocou a mochila nas costas para realizar esta que até então é a sua maior aventura. Nesta aventura passou pelo Nepal, Tibet, Vietnã, Laos, Indonésia, África do Sul, Malaui, Namíbia e Tanzânia.

Em outubro de 2009 foi a primeira mulher brasileira a escalar o Ama Dablam (a jóia do mundo), uma das montanhas mais bonitas da Cordilheira do Himalaia.
 
 
 

2010
Kilimanjaro (Tanzânia) com 5.891 metros

2009
Ama Dablam (Nepal) com 6.812 metros

2008
Aconcágua (Argentina) com 6.962 metros