O jornal “The Hamalayan Times” (parceiro do EXTREMOS) informou que o Departamento de Turismo do governo do Nepal está preparando um novo projeto de alteração do Regulamento de Expedições de Montanha da lei de Turismo que inclui várias novidades importantes para este setor no país.
A mudança mais importante seria que todo alpinista que for escalar uma montanha de 8.000 metros no Nepal, deverá ter em seu curriculum a experiência em uma montanha acima de 7.000 metros. Além de proibir escaladas em solitário e o veto para pessoas acima de 75 anos nas montanhas acima de 8.000 metros.
Obs: Uma das maiores façanhas de Reinhold Messner foi a sua escalada em solitário e sem o uso de oxigênio suplementar em 1980 no Everest.
Todas as montanhas acima de 7.000 metros estão no Himalaia e no seu vizinho Karakoran. A montanha mais alta fora dessa região é o Aconcágua com seus 6.962 metros. Então quem estivesse com o seu projeto dos 7 Cumes, seria barrado com essa nova emenda.
Antes de entrar em mais detalhes sobre qual importância destas mudanças e o que realmente elas afetariam, o EXTREMOS fez contato com uma fonte que trabalha exatamente no Departamento de Turismo do governo do Nepal, e perguntamos:
– Sobre as novas mudanças para escaladas em montanhas acima de 8.000 metros que foram divulgadas pelo jornal "The Himalayan Times”, essa emenda realmente está sendo discutida, acha que será votada e implementada?
– Isso não está em processo! E não será implementado!
respondeu taxativo a nossa fonte diretamente de Katmandu
O que mudaria?
Entre todas as montanhas de 8.000 metros que estão no Nepal: Everest, Lhotse, Makalu, Cho Oyu, Dhaulagiri, Manaslu e Annapurna, apenas o Everest sofre de superlotação, tendo uma média de 550 cumes e praticamente 15% de desistentes a cada temporada. Mesmo nestas temporadas de superlotação do Everest, se fosse possível dividir a quantidade de alpinistas que tentariam cume a cada dia com uma boa janela (e acreditem, os donos das agencias até tentam fazer isso), apenas isso já evitaria as filas. Mas, lógico, como cada um tem o seu ritmo, seu cronograma, o seu tempo na montanha e somado a isso o medo que o outro dia desta janela não seja tão bom, ocasiona o que aconteceu no dia 19 de maio de 2016, quando 202 pessoas (alpinistas e sherpas) chegaram ao cume do Everest no mesmo dia.
Se essa nova emenda fosse implementada afetaria a escalada nas 7 montanhas acima de 8.000 metros do Nepal, e com certeza haveria pelo menos 85% de desistência/proibição por falta de curriculum destes escaladores. É exatamente nas montanhas acima de 8.000 metros que o valor do permit, a taxa que o governo cobra, é mais alta. No Everest o permit por pessoa custa U$ 11.000,00. É exatamente de onde se vem a maior parte da receita do turismo no Nepal, junto com o trekking e outras atividades em todo o país. E você acredita que o governo quer barrar isso?
A curto prazo, a receita com certeza cairia. Mas talvez a longo prazo poderia ser uma proposta viável, pois forçaria o alpinista a escalar mais uma montanha no país, a de 7.000 metros, antes de tentar uma de 8.000 metros.
Mas o que realmente acabaria acontecendo, e isso é uma opinião minha, é que praticamente pouca coisa mudaria. Pois os aproximadamente 300 alpinistas que em todas as primaveras se estabelecem no Campo Base do Everest, mais os 400 sherpas, ao invés de fazerem a tradicional aclimatação ao Campo 1, 2 e 3, isso passaria da ser feito na montanha que começa exatamente os estão as suas barracas no Cmapo Base, o Pumori, de 7.161 metros de altitude e que apesar de um certo perigo com avalanches, é considerada de escalada fácil.
Então na mesma temporada o alpinista poderia escalar o Pumori, obtendo assim a sua autorização e de bonus a sua aclimatação para fazer o ataque ao cume do Everest. Ou ainda se for preciso, um último ciclo de aclimatação até o Campo 3 (7.200 metros) do Everest antes do ataque ao cume.
Na minha opinião, que também corrobora com a opinião do experiente alpinista americano, Conrad Anker, deveria sim existir uma limitação de permits para o Everest, e seria de 500 permits por temporada, contando alpinistas e sherpas. Isso já seria um bom começo.
Diferença entre 7 Cumes e as 7 montanhas mais altas do mundo
Apenas recordando, o projeto 7 Cumes são as montanhas mais altas de cada continente. O que é bem diferente das 7 montanhas mais altas do mundo, veja o quadro abaixoe compare as suas altitudes. É outro mundo!
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O PROJETO SETE CUMES |
1º - Everest (8848m) - Nepal e China | Ásia |
2º - Aconcágua (6962m) - Argentina | Am. do Sul |
3º - Denali (6194m) - Alasca | América do Norte |
4º - Kilimanjaro (5891 m) - Tanzânia | África |
5º - Elbrus (5642 m), Rússia | Europa |
6º - Vinson (4892 m), Antártica |
7º - Carstensz (4884 m), Papua | Oceania |
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AS SETE MONTANHAS MAIS ALTAS DO MUNDO |
1º - Everest (8848 m) - Nepal / China |
2º - K2 (8611 m) - Paquistão / China |
3º - Kangchenjunga (8586 m) - Índia / Nepal |
4º - Lhotse (8516 m) - Nepal / China |
5º - Makalu (8463 m) - Nepal / China |
6º - Cho Oyu (8188 m) - China / Nepal |
7º - Dhaulagiri (8167 m) - Nepal |
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Elias Luiz
editor-chefe do Extremos
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