Um dia o amigo e colunista do Extremos, Antônio Calvo perguntou se eu já tinha visto o Green Flash e se eu lembrava da citação deste fenômeno no livro do Amyr Klink:
Desde criança eu sempre carreguei um desejo muito difícil de realizar, sobretudo no Brasil, que tem a costa voltada para o nascente. Sempre que era possível , eu perseguia o pôr do sol no mar. Atento, até a bola de luz amarelo-avermelhada ir se fundindo no horizonte, à procura de um fenômeno muito raro, que quase todos os povos navegadores do passado já mencionaram: o green flash ou rayon vert. Um raio, ou explosão de luz que acontece em condições muito especiais, no exato instante em que a última lasca do sol desaparece no horizonte.
Com um rápido curativo na ponta do dedo, calcei com cuidado um tênis e corri para o enorme arco que havia atrás do Paratii, onde ficava a antena do radar e um pequeno posto que usava para observar o mar ou fazer astronomia encaixado no alto. Cumpria o mesmo ritual de sempre, meio sem esperança de um dia ver qualquer coisa – “dezenove horas, cinqüenta e cinco minutos e trinta segundos...quarenta segundos...cinqüenta...lá se vai o sol...ade...”.E escapou um grito súbito: “Eu vi! Eu vi! Eu vi! Miserável, eu vi!”. Tanto tempo e, enfim, eu vi o raio verde. Uma fração de segundo que valeu toda a viagem.
Amyr Klink. Paratii – entre dois pólos. São Paulo, Companhia das Letras, 1992.
Ilha de Páscoa, dia 30 de setembro de 2015. Só isso já resumia um dos grandes sonhos que sempre tive, conhecer essa lendária ilha perdida no meio do Pacífico. Estava em um coquetel na varanda do Restaurant Mahia celebrando a nossa chegada. Éramos um grupo de 11 pessoas: dois brasileiros, um alemão, três americanos, um casal com o filho de 3 anos da Nova Zelândia, e um casal de Madagascar... caramba, não é todo dia que você conhece alguém de Madagascar.
Que prazer imenso!
Todos nós éramos ou operadores de turismo de aventura ou jornalistas e editores do segmento outdoor, estávamos alí a convite do Ministério do Turismo do Chile para passar uma semana confraternizando e conhecendo essa maravilhosa Ilha antes de embarcarmos de volta para o continente onde aconteceria a ATWS 2015 em Puerto Varas, Chile.
Nosso grupo brindando o momento. Foto: Elias Luiz
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Na varanda do Restaurante Mahia. Foto: Elias Luiz |
A hora do show!!! Foto: Elias Luiz |
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Sonhos sempre demoram a ser realizados, e acho que assim é mais gostoso, e o melhor é quando um sonho puxa outros, como aconteceu aqui.
Em meio ao um brinde de champagne que foi programado para ser servido exatamente no pôr do sol, e que fez a alegria de todos, eu aproveitava para fazer algumas fotos deste momento de confraternização. As pessoas na frente brindando e o sol banhando de dourado o belo fim de tarde. Estava usando uma lente grande angular, queria que o mundo coubesse todo em uma única chapa.
Foi então que avancei entre as pessoas e comecei a fotografar o pôr do sol, e neste momento lembrei da frase do Antônio Calvo: Você já viu o Green Flash?
– Caramba, é isso... é esse o momento... pensei em voz alta, troquei a minha lente grande angular de 10mm por uma teleobjetiva de 400mm. Precisava de foco!
Para quem está acostumado com o sol nascendo ou se pondo no horizonte, sabe que esse é um momento insano e maravilhoso... um momento que você compreende como nosso relógio e o tempo voa. Basta apenas alguns minutos para o sol desaparecer.
Fiz vários enquadramentos, muitos cliques e quanto mais zoom eu dava no sol, mais a luz estourava e ia aos poucos regulando. Não tinha certeza se a fotometria estava correta, para o pôr do sol sim, mas para o que eu queria, não tinha certeza.
O tempo voava, uma fina camada de nuvens bem no horizonte parecia que iria estragar tudo. Sempre gostei de nuvens em minhas fotos de céu, pois acho que dramatiza um pouco a cena, mas aqui o drama era outro. 19:36 e só restava metade do sol no horizonte em meio as nuvens e...
– Eu vi! Eu vi! É o Green Flash... eu gritava enquanto disparava vários cliques e em poucos segundos tudo sumiu.
Segundo frame com o Green Flash, ele já está um pouco maior. Foto: Elias Luiz |
Quarto frame com o Green Flash e o sol sumindo entre as nuvens. Foto: Elias Luiz |
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Passada a euforia fui checar as fotos e pelo monitor da máquina, mas não consegui ver nada do Green Flash... achei que deveria ter colocado um ou dois pontos a menos na fotometria para poder captar o Green Flash, pois ele aparece bem na borda do sol onde tem muita luz. Mas para mim não importava tanto, pelo menos eu tinha visto.
Somente hoje, quase 9 meses depois, que fui checar as fotos do Green Flash em meu monitor de 27" e para minha supresa ele aparece em 5 fotos que fiz antes do sol sumir entre o horizonte e as nuvens.
Obrigado ao amigo Antônio Calvo por me informar sobre o Green Flash, ele também já viu esse fenômeno por duas vezes.
Fim de tarde em frente ao restaurante Mahia e a beleza do Oceano Pacífico e os paredões da ilha. Foto: Elias Luiz
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O Ahu Tongariki é a maior das plataformas existentes, com 200 metros de comprimento e 15 moais. Foto: Elias Luiz |
Depois de vários cliques consegui um autoretrato com um Moai ao fundo. Foto: Elias Luiz |
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– E agora Antônio Calvo, posso fazer parte do clube do Green Flash?
Elias Luiz
editor-chefe do Extremos
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