Adoro esse tipo de foto! Como fotógrafo, acho que toda foto fala, tem que falar! Toda boa foto conta uma história.
A expressão de dor, de desapontamento, de sofrimento e angústia está estampada nos rostos destes alpinistas. No Paquistão, esses bravos alpinistas tentavam chegar ao cume do Nanga Parbat (8.125m). Das montanhas acima dos 8.000 metros, restam apenas o Nanga Parbat e o K2 a serem escaladas no inverno.
Com tempo bom, finalmente partiram do Campo 4 (7.200m) para o ataque ao cume na semana passada. Durante a madrugada seguiram equivocadamente pelo caminho errado. Ao chegarem a 8.000m, às 7h da manhã, perceberam que estavam fora da rota correta e a única opção seria dar meia volta e descer para o Campo Base.
Isso é exploração, faz parte. Você errar a via escalando o Kilimanjaro é uma coisa, você errar explorando algo que ninguém nunca fez, é totalmente diferente. Não é uma escalada turística. São eles mesmos que montam os acampamentos, instalam as cordas de segurança e tudo isso no inverno do Himalaia e sem o uso de cilindros de oxigênio suplementar.
Exploração!
Quando acontece um erro desses, o único sentimento que tenho é: Respeito!
Não consigo jogar pedras.
Acho que a maioria de nós seria contra tirar e ainda mais publicar uma foto dessas depois de uma fracasso. Mas isso é história, faz parte, não se constrói um mundo apenas com sorrisos e vitórias.
É o mesmo que acontece com a história de Shackleton. Quando na Antártica o mar congelou a sua volta, seu barco naufragou e o que lhe restou foram dois pequenos botes e sua equipe. Após um ano de incursões conseguiu chegar com um pequeno grupo a ilha Geórgia do Sul e pedir socorro. Meses depois todos seus tripulantes foram resgatados sãos e salvos.
O mesmo que aconteceu com Scott que acabou morrendo com toda sua equipe de ataque ao polo após ser o segundo grupo a chegar ao Polo Sul. Um dos equívocos foi ter calculado errado a quantidade de calorias que iriam precisar a cada dia. Mas tanto Scott como Shackleton estavam explorando os seus conhecimentos e seus limites, entrando em um mundo que a maioria de nós jamais tocamos. A exploração.
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Scott e equipe em 17 de janeiro de 1912, no Polo Sul, após descobrirem que Amundsen já havia conquistado o polo qause um mês antes. |
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Chris McCandless em frente ao ônibus 142, em Stampede Trail, Alasca, onde mais tarde foi encontrado morto. |
Se olharmos com atenção a foto da equipe de Scott ao chegarem no Polo Sul, conseguimos sentir a dor e a decepção deles ao perceberem que Amundsen já havia estado lá um mês antes.
Talvez seja por isso que também nos afeiçoamos com a história de Chris McCandless que morreu de desnutrição, isolado no Alasca. Mas as exploração dele não era de uma região, mas sim uma exploração psicológica. Estava tentando compreender a real natureza dos seus sentimentos que contrapunham o status quo.
Isso me faz lembrar também o filósofo Henry Thoreau, que resolveu se “isolar” do mundo em uma cabana a beira de um lago por dois anos e refletir sobre o nosso modo de vida. O mundo de perguntas e inquietações que ele explorou nestes dois anos, lá nos idos anos 1850, ecoam como um Norte ainda hoje para todos nós. Se para alguns não é um Norte, é então uma ótima provocação.
Várias pessoas julgam como fracassados pessoas como Shackleton, Scott e Chris McCandless.
Muitos julgam até mesmo a reflexão de Guilherme Cavallari em um momento de sua vida quando resolveu se desfazer de um ícone da aventura (um Land Rover) para ampliar a sua casa. As pessoas relacionam a reflexão, a mudança de ideias ou de ideais, com fraqueza ou como uma derrota. Para muitos, chegar ao cume só é possível através de um único caminho e você nunca deve sair dele, independente do que aconteça.
Eu acima de tudo, prefiro chama-los de exploradores de mundos que nunca tocamos. Mas cada um tem uma visão diferente do mundo e das situações que ele nos expõe ou principalmente as situações que nós nos expomos a ele. Essa é a minha. Qual é a sua? |