É interessante como quase que diariamente combatemos a preguiça. A preguiça de mudar os rumos da nossa vida, a preguiça de uma corrida matinal, de ler um livro e até mesmo no que mais gostamos temos preguiça, que é o de encarar uma nova viagem ou expedição.
As vezes ponderamos entre uma expedição que não seja tão perigosa, longa ou que não exija muito da parte física. Mas depois de praticamente 10 anos postergando ou planejando o meu trekking ao Acampamento Base do Everest, acabei escolhendo a opção de um trekking mais longo que o habitual.
Passei 18 dias entre as montanhas sem ver um carro, uma moto, uma bicicleta ou algo similar que tivesse rodas ou motor. As vezes avistávamos um ou outro helicóptero que estava indo resgatar algum aventureiro.
Nos 18 dias de trekking, 13 dias consecutivos foram sem banho, 10 dias acima de 4.000 metros e 5 dias acima de 5.000 metros de altitude. Justamente no dia mais difícil e puxado amanheceu com uma nevasca, que quase nos obrigou a cancelarmos a travessia do Chola Pass, não por preguiça, mas por segurança. Mesmo assim resolvemos arriscar, foram 10 horas de caminhada, na maior parte do tempo acima de 5.000m, até atingirmos o Chola Pass com 5.250m, onde descansamos por apenas 10 minutos e depois enfrentamos a descida mais perigosa da viagem. Foi sem dúvida o dia mais cansativo, mais perigoso, a caminhada mais longa… mas apesar disso tudo, para mim também foi o dia mais prazeroso e mais bonito… um daqueles dias que ficará marcado para sempre em nossas vidas e que será um norte de inspiração e de boas energias.
Elias Luiz durante a travessia. Foto: Jus Prado
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O último lance para chegar ao Chola Pass. Foto: Elias Luiz |
A descida do outro lado do Chola Pass. Foto: Elias Luiz |
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É bem antagônico isso, nós temos preguiça exatamente do que vai ser algo motivador em nossas vidas.
E isso é recorrente, pois foi assim no dia mais difícil no Tour du Mont Blanc, na travessia na Islândia e na Patagônia, todos esses dias ficaram marcados em minha memória como sendo o melhor momento em cada viagem.
Será que gostamos de sofrer ou essa é uma forma de valorizarmos o que foi mais desafiador para nós?
Elias Luiz
editor-chefe do Extremos
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