Esse é um mundo complexo. Poucas vezes precisei de guia para fazer um trekking, pois na maioria das vezes fazia as trilhas autoguiadas como em Torres del Paine e El Chaltén e aqui no Brasil também, onde na maioria das vezes estava em companhia de amigos que conheciam a região que iríamos caminhar.
No Trekking ao Everest foi diferente e realmente precisei de guia, tínhamos o Carlos Santalena como o guia brasileiro (Grade6) e o Ran como o guia local (Nepal), o Ramesh como assistente de guia e dois porteadores. No final do trekking tudo deu certo, todos nós chegamos ao acampamento base do Everest e na volta em Katmandu nos despedimos e cada um seguiu o seu caminho.
Passado algum tempo e agora recebendo notícias de alguns brasileiros que tentaram fazer este trekking e por vários motivos tiveram que desistir faltando muito pouco para concretizar o seu sonho, é que começo a refletir e entender tudo o que se passou.
Muitas vezes quando realizamos algo com sucesso, não sabemos onde acertamos ou onde poderíamos ter falhado e não damos o devido valor pelo bom resultado.
Olhando para trás percebo como funcionou toda a estrutura, no início tínhamos 4 porteadores e logo na primeira noite o guia brasileiro Santalena percebeu que não era necessário e reduziu pela metade, restando apenas o Batatinha e o Justin Bieber, responsáveis por carregarem as mochilas mais pesadas, para isso Carlos Santalena iria carregar a sua própria mochila. Tínhamos um assistente de guia, que além de carregar mochilas durante a trilha, nas paradas auxiliava o guia Ran e os dois passavam a ser os nossos garçons nos lodges. Ran era quem cuidava das reservas dos lodges em cada parada, para isso sempre estava grudado ao telefone durante a trilha tentando conseguir os melhores lugares para nós, quando era possível. Então o Ran servia como um facilitador nessas questões para o Santalena. Por outro lado, Santalena era responsável pelo bem estar de cada cliente, foi quem organizou e administrou toda expedição, além de cuidar das reservas do hotel em Katmandu, os passeios pela cidade e o vôo entre Lukla e Katmandu que é sempre complicado entre outras coisas. Na trilha além de cuidar de cada cliente, e aguentar as exigências de alguns, era o responsável geral por tudo. Em três ocasiões ele precisou intervir e literalmente cuidar de 3 clientes que passaram mal (diarréia, dor de cabeça e vômitos, esses dois últimos sintomas do mal da montanha), Nessas ocasiões Santalena dividiu o grupo e os que estavam bem seguiram em frente com o guia local e ele ficou cuidando e medicando os enfermos e em todos os casos no dia posterior esses estavam bem e seguiram a trilha e assim acabávamos nos encontrando e voltando a formar o grupo inicial. Lógico, nisso tudo ele tinha que calcular o tempo total, pois há uma data programada para encerrar o trekking, devido ao vôo de volta de Lukla para Katmandu já estar marcado. Com maestria ele conseguiu levar todos os clientes ao Acampamento Base do Everest , além de fazermos o retorno por outra trilha, em que atravessamos o Chola Pass e conhecemos o belo vilarejo de Gokyo.
A função do guia não é apenas de conduzir ao caminho certo, é mais do que isso, ele é o facilitador, é a pessoa responsável em solucionar os problemas que irão surgir e tenha certeza, serão muitos, e sua função é ir eliminando cada problema, de forma que não atrapalhe o andamento da expedição.
Um dos motivos que vejo para esses amigos que não conseguiram realizar o sonho de chegar ao Acampamento Base do Everest é que os problemas que surgiram não foram solucionados em tempo hábil e com isso os problemas foram se acumulando até ficar insustentável e de alguma forma foram afetados por eles e não tiveram outra alternativa a não ser dar meia volta.
Hoje dou muito mais valor pelo que fizemos e com certeza o Carlos Santalena não foi apenas o guia, foi o facilitador de tudo.
Obrigado! |